domingo, 10 de março de 2013

AS APOSTAS PARA 2013: André Gomes de Abreu/Emanuel Graça



ANDRÉ GOMES DE ABREU



O termo "aposta" como sinónimo de uma promessa ou de algo por se cumprir encerra em si mesmo uma multiplicidade enorme de cenários. Aplicado à música portuguesa, vejo-lhe dois sentidos principais: um artista ou colectivo que para se cumprir necessita de um reconhecimento à escala mainstream, e por outro lado, um artista ou colectivo que para se cumprir necessita, muito simplesmente, de uma maior exposição. Parecem duas situações muito similares, mas não por completo.

No primeiro caso, falo (sempre usando exemplos) de casos como o dos Memória de Peixe (terrivelmente óbvio), o de Samuel Úria, o dos Meu e Teu, o de Moullinex, o dos TV Rural, o de Norberto Lobo, o de Manuel Fúria...ou B Fachada. Sim, o autor de um EP a que chamou O Fim, o fechar de um capítulo maioritariamente feito a solo. É quase incompreensível como B Fachada não tem um reconhecimento mainstream por esta altura. Como diria o General Pétain pelas alturas do colaboracionismo francês, só Deus e a História poderão julgar o legado de B Fachada. Aposto que com o gosto (de mau gosto) por louvores "póstumos" e desadequados no tempo em Portugal, talvez seja 2013 o ano do seu reconhecimento.


Será 2013 o ano do verdadeiro reconhecimento de B Fachada por parte do grande público?

No segundo caso (e friso novamente, usando sempre e apenas exemplos), olho para aqueles projectos que acompanhamos semana a semana, quase dia a dia, como se fossem nossos, muitas vezes por terras do nosso canto facebookiano. Não foi por isso de forma ingénua que nas melhores canções de 2012 na minha opinião fiz questão de apontar vários nomes que teria certeza de voltar a ouvir em 2013. Falo claro do "esquecido" Mourah que acompanhamos até à edição do seu novo disco Kardia e cujo single Breakup 28 poderá ser enganador em relação à diversidade que o artista nos habituou em From One Human Being To Another.



 

Falo dos Quelle Dead Gazelle, os mais recentes vencedores do Festival Termómetro e os únicos a levarem o prémio principal com instrumentais, um verdadeiro cocktail de dança e pancada de rock, a piscar o olho a vários outros quadrantes. Falo dos JUBA (fantásticos em estúdio, fantásticos em palco), de Tropical Tobacco, de Indian Summer, de muitos mais que o Emanuel também refere e bem. Falo de CHAINLESS e dos Sabre, fenómenos em bruto para explorar e descobrir. Falo de O Experimentar Na M' Incomoda (agora apenas O Experimentar), disco a ser por muitos descoberto já convenientemente em 2013. Falo dessa grande "família do futuro" que é a Coronado.


 

Este será o texto que mais gozo me deu fazer e escrever, tal como o gosto que tenho por acompanhar de perto tudo o que vai surgindo. É por isso que 2013 também já dá razões para que todo este entusiasmo continue. São os ATIC, trio que mostra da melhor forma o lado mais pós-rock da electrónica, são os These Are My Tombs, são os MINIMUS que transitam de 2012 mas que já se estrearam em EP este ano, são os Mr. Octopus que lançaram já em 2013 o EP Domino Effect, são os Mother Lvx que têm em Fiat Lvx um admirável e pulsante conjunto de temas, são os The Year que agora brotam das cinzas dos My Cubic Emotion, são os recém-lançados Montanha, são os Meubem, são os Lionskin, são os A Cisma que lançaram finalmente o seu EP Quantas Oitavas Tem Uma Lágrima?, a vida de tantas labels como a Príncipe, a Cafetra, a Monster Jinx, a Shhpuma ou a Terrain Ahead, é a estreia do Homem em Catarse em EP, a odisseia chamada 10000 Russos, um prolongamento espa(e)cial de Mandrax Icon em Locust of The Dead Earth, é a vida de Luís Montenegro para além dos Salto como Lewis M com ecos internacionais...


 

São as saudades quase ciclotímicas de um futuro num Portugal musical que nos reserva muitas e boas surpresas sine die.



EMANUEL GRAÇA


Apostas para 2013? Que não nos fiquemos por 2013, que antes façamos apostas para o futuro da música nacional. Se o ano que há cerca de três meses findou foi rico em matéria que sustenta a música portuguesa como um autêntico mar de diversidade e qualidade, durante este ano (e durante os próximos) não podemos esperar outra coisa que não a continuação disso mesmo. Por um lado, existem aqueles nomes óbvios que toda a gente aguarda com ansiedade o lançamento de um novo disco, nomes que certamente soam a cliché, mas por outro existem nomes que se situam na face inversa da medalha – nomes que nem sequer têm nada editado, mas que, certamente, causam alguma expectativa em que os conhece. Ao longo deste texto, abordarei as duas faces da medalha e irei retratar aqueles nomes que mais me têm causado excitação quanto ao seu futuro.


Comecemos pelos nomes que já se vão falando e que já são de conhecimento de grande parte do público mais atento. 2013 é ano de novo disco de Linda Martini e só isso já faz prever um ano estupendo: existem algumas dúvidas quanto à linha tendencial que os lisboetas adoptarão para este novo disco. Será um disco mais experimental, mais a convergir com aquilo que o quarteto fez em Olhos de Mongol ou será um disco marcado por uma linha mais estruturada e a pensar no público como foi rubricado em Casa Ocupada? Não se sabe, mas no segundo semestre deste ano vamos conhecer a resposta. Outros nomes do domínio do “grande público” e que não sabemos se irão ou não lançar um novo disco ainda este ano são inegavelmente: Throes + The Shine, Black Bombaim, Azevedo Silva, Aspen ou Dead Combo (entre muitos, muitos outros), que não lançam nada desde Lisboa Mulata, parido em 2011.


2013 é ano de novo disco de Linda Martini. Saudades? Sim, muitas.

Inversamente, e a grande razão de ser deste artigo: os nomes de um domínio mais underground, que alguns de vocês, por certo, não conhecem, mas que não devem ter outro remédio senão estar atentos a eles. Engana-se quem pensa que a música portuguesa está parada; a internet, via soundclouds, bandcamps e etc., só veio ajudar a que cada vez fosse produzida mais e mais música com selo nacional. Para um país que se diz (e mostra) pequeno, a quantidade de música que se faz brotar cá para fora a cada ano diz precisamente o contrário. E a qualidade musical nacional estropia o conceito de pequeno: existe uma imensidade de música nacional de qualidade superior. E cada vez vai existindo mais. Falemos, então, em nomes.


Vou começar por alguns que vão já sendo falados e que deram em 2012 os seus primeiros passos: um deles é irremediavelmente Plane Ticket. Under The Quiet Sky (ler review aqui) foi um dos meus registos favoritos de 2012 e fez com que me salivasse quanto ao futuro desta banda. Existe todo um revivalismo punk, intercalado com roupagens new wave, mas, acima de tudo existe uma leveza capaz de nos fazer levitar e que está incorporada na sonoridade da banda de Torres Vedras. Turn On The Bright Lighs? Sim, mas que haja mais alguém a ligá-las que não os Interpol.





Outro dos nomes é, sem dúvida alguma RA, nome associado à Coronado: A passagem do doom para a electrónica fez-se de um modo irrepreensível por parte de Ricardo Remédio, mas a sapiência com manteve a essência do seu estilo é o que mais faz luzir o nome de RA para o futuro: existe todo um pesar que nos aparecesse embutido desenfreadamente na sua música. Existe nostalgia e existe uma extravasação de um ódio que nem sequer existe. O inferno são os outros, mas quem somos nós? Não sabemos, mas o negrume da música de RA ajuda-nos à nossa libertação. Que venha mais, Ricardo, que venha mais.





Main Dish fabricou um dos (mini-) álbuns mais intrigantes da música portuguesa no ano passado (ler review aqui): Shoegaze, música experimental ou post-rock shoegazer à la 90’s na Terra de Sua Majestade? Não se sabe muito bem, mas isso também não interessa: na música de Main Dish encontramos uma fuga a rótulos, uma tentativa de escape àquilo que é convencional. Não impressiona, por isso, que o som soe apático e pouco apelativo, mas é à medida que o despimos que vamos encontrando texturas banhadas a ouro (lembram-se de vos ter falado de Cinema dinema?). Depois de Insight, as minhas expectativas só poderiam estar no topo. Venha daí o novo álbum, rapaz.






João é Coelho. E Coelho é Radioactivo. Falamos daquele que é, talvez, a minha maior esperança para o folk nacional. Na música de Coelho Radioactivo é possível encontrar grandes doses de beleza melódica. Há uma capacidade de criar harmonia tremenda, mas existe muito mais do que isso: existem influências dos maiores. Há traços de Sérgio Godinho, sobretudo na sua voz, ou de B Fachada. E há barulho. E o barulho promete-nos que Coelho Radioactivo será certamente um dos nomes maiores da música portuguesa num futuro próximo. Resta que a promessa se cumpra.





Quem são os Memoirs Of A Secret Empire? Esperem, já vos explico. O post-rock contemporâneo vive uma fase monótona: 75% dos registos post-rock que são paridos anualmente tendem a ser semelhantes, tendem a extravasar as mesmas influências e a ver nos crescendos o cerne da sua génese musical. Porém, há quem o consiga fazer de uma maneira positiva e de um modo que cative quem está por dentro do género. É aqui que chegam os Memoirs Of A Secret Empire, banda de Vouzela que ainda nem sequer tem nada editado, mas que promete erguer a face positiva e única do pós-rock: do pouco trabalho que disponibilizaram ao público, hasteiam os crescendos como o movimento tanto pede em 2013, mas não esquecem as ambiências das suas influências primordiais: ora pautadas pelas paisagens mais escuras que vão do doom ao post-metal, da drone ao stoner, ora pautadas pelas paisagens mais cliché do movimento que lembram nomes vitais como Explosions In The Sky, Caspian ou Mono. 2013 é ano de EP, dizem eles (ou digo-lhes eu). Esperemos.





Vale de Cambra já nos ofereceu os Lululemon em 2012. Futuramente vêm daí os Al Fujayrah. Quando? Não se sabe, mas esperemos que editem qualquer coisa já este ano. Quem são? São três rapazes que se agarram ao stoner e lhe provocam constantes acelerações e desacelerações sonoras, bem ao estilo de uns OM. Pelo menos, esta é a impressão que dá para ter quando se analisa o pouco material que se conhece da autoria destes Al Fujayrah. O potencial está todo lá dentro, fora javardices, e não existem razões para não se pensar que dali sairá coisa boa. Mentalizem-se, estes miúdos serão grandes.





Existem outros nomes pelos quais aguardo e aguardava coisas boas. Alguns deles são as Anarchicks, que já este ano nos brindaram com Really?! (ler review aqui) e não me desiludiram, ou Jibóia, que provou ser, para já, uma promessa mas que, confesso, estava à espera de um registo melhor (ler review aqui). Outros ainda vou aguardando com alguma expectativa o lançamento dos seus registos; casos da electrónica desconcertante, mas que ainda requer uma maturação de Atillla. Da dream pop suja e bastante capaz dos Elektra Zagreb, que se estrearam no ano passado com o lançamento de um dos ep´s favoritos do ano, e do hip-hop descontraído, que se mais trabalhado na vertente lírica e nos beats se pode revelar caso sério, dos Bro-X. E tantos outros nomes que o André referiu. Em compêndio, 2013 (e anos próximos) promete bastante. Pois, então, esperemos.




3 comentários:

V.Lima disse...

Gostei muito de todo o artigo e irei voltar aqui para ouvir alguns dos nomes acima!!
Contudo, não podia passar aqui e não deixar uma sugestão!

Chatê Muzu

http://youtu.be/4dA2Te1YS8w

Irá ser, com certeza, um bom 2013.
Um abraço a todas as bandas, força nisso!

Afonso Ré Lau disse...

Se vocês mandassem o mundo era mais justo

Anónimo disse...

e que tal agora falarem de músicos que saibam tocar e não de amadores? A maior parte dos temas destas bandas não têm mais de 2 acordes e a maior parte destes "músicos" são artistas plásticos! eh eh

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