segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

W-MAGIC - Máscara (Headstart Records, 2012)





W-Magic elevou o valor que habitualmente se dá a uma mixtape. A nível da intensidade da escrita poética, mas também da escolha das melodias. Imagino-a perfeitamente em frente a um piano puro, sem grandes ornamentos. Uma voz que por vezes lembra Reflect, assim como o seu acompanhamento.

Pena é talvez começar-se com a emoção de "Sou" e ela ser a faixa mais curta (e a mais bela). Uma paleta da coerência na indecisão, contrastando com a força e o orgulho que diz ter nela própria. O mundo de antagonismos próprio à MC continua em "Máscara", por detrás da qual se esconde, sendo ela parte integrante dela mesma. Talvez ainda influenciada pelas eternas perguntas que atormentam qualquer um durante a adolescência, com cicatrizes bem presentes, apagadas superficialmente pela força que toda a MC deve ter.
Uma mixtape cheia de sentimentos, de intimismo, desconstruída pelo questionamento constante da artista como em "Sinto". Chega o amor, o ódio, a caneta transforma-se em gatilho para uma explosão de raiva. À partida, o tema não me atrai mas dentro dele, W-Magic não se saiu nada mal. "Adeus Não Voltes Mais": regressa então a consciência, o apaziguamento do pós-ruptura. "Com Alma" evoca o amor outra vez, mas já com a cabeça mais fria, e com o regresso dos opostos característicos da artista. Indecisões de quando o amor renasce.

Saímos para "outra terra" com o featuring com Indrominado "Vens Porque Vens". Sonoridades mais old-school, menos na procura de se compreender a ela própria. Não convence, estando nós lá tão bem na platónico de amores e desamores da primeira parte...
Como se me tivesse ouvido, regressam as temáticas sentimentais em "Quero-te". Um tema que peca por ter saído agora. Há dez anos atrás podia ter tido mais sucesso em namoricos graças a esta música. Consciente disso, W-Magic evoca em "Feitiço" o apoderamento e o fechar de olhos que o amor lhe provoca, a coerência das suas incoerências.
"Não dá", para mim, não dá mesmo: um som à la Nu Soul Family para passar na rádio mais generalista, assim como "Não me olhes". É pena aparecer Malabá aqui (em "Não Dá"), merecia melhor. Felizmente, ainda permanecem algumas réstias daquela primeira parte sentimental em "Olhos" e em "Restos".
"Por Um Fio" fez-me sonhar numa colaboração W-Magic/Allen Halloween. Aí a artista demonstrou por completo que podia ter tanto ou ainda mais valor na negrura do que na ingenuidade do sentimental. Horyginal e Karabinieri também contribuíram para o bom resultado final da faixa - gostei daquela frase "a tua face é base". "Lembra-te de mim" tem a melodia que mais demonstra os limites de uma mixtape. Por isso, está perdoada a MC.







Em suma, um álbum rico em catarse, em revoltas interiores expressadas para a folha, perfurando um manto bem espesso da máscara que a (des)protege. Os opostos são iguais, a mulher é o homem. Esqueçam as fronteiras : a artista aprofunda-se e fecunda-se.  7/10


Mickaël C. de Oliveira




0 comentários:

Enviar um comentário

Twitter Facebook More

 
Powered by Blogger | Printable Coupons