domingo, 10 de fevereiro de 2013

EMMY CURL - "Origins" (2012, Ed. Autor)




Emmy Curl apresentou-nos em Novembro de 2012 (ano generoso em trabalhos) o seu último EP, "Origins".

Um conceito artístico muito vincado é a marca deste trabalho: muito visual, muito excessivo, muito trabalhado. Quando ouvimos a primeira música de "Origins" sabemos o que vamos ouvir no resto do EP.  Sentimo-nos continuamente rodeados, abraçados, por sons de sintetizadores lapidados até à ultima aresta, guitarras aéreas e efeitos hipnotizantes, que se  acompanham de "beats" mais ou menos minimais,  uma voz angelical e uma produção irrepreensível. Damos por nós numa paisagem bucólica, enquanto uma mancha (que aos poucos vamos reconhecendo e interiorizando como nossa) de frequências que nos entram pelo ouvido e por lá ficam, ressoando, esperando a próxima subida, a próxima descida, balançando em refrões subaquáticos e submergindo para voar em melodias límpidas, paradoxalmente envoltas em nevoeiro.
Temos a sensação de que as músicas nos são dadas, que tudo o que precisamos é de as sentir.

Tudo isto seria uma pérola, se não fosse o facto da sua complexidade a nível sonoro acompanhasse algo simples a nível de conteúdo. O contínuo abraço sonoro torna-se desconcertantemente difuso ao fim de algum tempo. Os sintetizadores, efeitos e "beats" são "perfeitos", mas quando nos abstraímos da sua surpresa/magia inicial, percebemos que foram retirados de uma fórmula musical pensada para caber numa construção minuciosa de delicadas peças construída em antecipação. O problema reside na validação dessa construção em antecipação, e na sua repercussão no novelo musical construído.






Novelo demasiado visível, onde não se vêem fios soltos, revoltados, cruzados ou de cores diferentes. A sensação de que algo irreal nos está a ser apresentado é constante, irreal no sentido em que o seu conteúdo é focado demasiado na técnica. Técnica para fazer transparecer algo assente sobre uma imagem pré-definida e demasiado vincada, que marca todo o EP e lhe dá uma sensação de "todo", mas lhe retira a sensação de continuidade (onde vivem pequenos momentos de espontaneidade, que nos alertam e nos dão vida sorrateiramente), e que faz sobrevir, exista ou não, um sentimento de conformação. 
A interpretação de Emmy Curl é coerente com todo o trabalho, de uma forma honesta faz jus àquilo ao vamos interiorizando, mas não nos faz nunca sair do nevoeiro, e nós percebemos porquê: porque ela não quer. Tudo isto não deixa de hipnotizar, mas hipnotiza porque nos desarma, tratando-nos demasiado bem, apenas enquanto nos deixamos a ouvir.

Podemos ter como contra-pontos o EP "Birds Among Lines", onde essa honestidade que ecoa sempre na voz de Emmy é expressa agora como uma força criativa muito mais terrena, embora possa transparecer algo etéreo, e a simplicidade musical é contagiante e tocante, contraposta pela complexidade na sua interpretação. Ou em Deep:Her, em que uma obra prima de descomprometimento excessivo (que sabe da sua própria existência) para com o processo criativo, nos move para essa continuidade de loucura que nos embriaga, e em que não temos que pensar que estamos num "todo", simplesmente vamos estando, algo que senti falta em "Origins".

Este é um EP surpreendente, hipnotizante, depois letárgico, perfeitamente engendrado num arco-íris mecânico. Falta-lhe Vida na técnica, maleabilidade na construção.

Hugo Hugon




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