quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Black Bombaim - Titans (Lovers & Lollypops, 2012)


Não é droga, mas os efeitos que temos ao ouvir a música dos Black Bombaim são os mesmos: há quem se renda com um simples “foda-se, é do caralho”, mas eu prefiro entrar em trip com ela. Camuflada em ácidos proporcionadores de autênticas viagens vertiginosas por mundos celestiais. Catalisadores eternos e renovadores da esperança que jaz em cada um de nós. Apaixonados pelos céus, enamorados com a acidez e visceralidade do psicadelismo; os Black Bombaim conseguiram provocar um autêntico terramoto e abanar com meio mundo. Nós só temos que lhes agradecer.



Contra dos deuses da ganância e do dinheiro. (…) Liquidar os mandantes da prisão. Libertar os escravos do cifrão. Ainda longe, longe, essa primavera adubada pelo sangue dos heróis… Os Deuses são poderosos, cheios de artifícios. O poder rompe o canto das sereias. Enlouquece.”. A mensagem fica dada agrestemente pela voz sempre imponente de Adolfo Luxúria Canibal. A primeira música de Titans vinca nitidamente uma mensagem política: nasce ensopada em riffs e anunciando toda uma produção simplesmente avassaladora. Cresce desenfreadamente com a ressonância das guitarras e daquela linha de baixo embalsamada em perfeição e sofre uma interrupção abrupta quando a bateria se exsurge de uma maneira altamente perfeita, silenciando todos os demais. A bateria cessa e dá-se um vazio sonoro. E eis que, todo aquele trio instrumental se funde para nos começar a derreter o cerebelo: começa a viagem, bem anunciada por “Eleva, levanta bem alta a bandeira. Avança sobre os corpos tristes.”.


Titã, és um titã!”. É esta passagem de Noel V. Harmonson, Adolfo Luxúria Canibal, Jorge Coelho, Shela, a primeira música do alinhamento de Titans e a única que tem vocais na sua estrutura, aqui vociferadas impetuosamente pelo incontornável Adolfo, que mais guardamos no ouvido.  É aqui que é dado o mote para todo o álbum e é aqui que tudo se inicia sem qualquer tipo de aviso prévio:



O primeiro capítulo de Titans tem um esqueleto absolutamente estupendo: depois de nos derreterem o cérebro e de nos fritarem cada miolo com aquela intensidade instrumental tórrida, posteriormente associada àquele elóquio persuasivo de Adolfo, dá-se novamente um vazio sonoro, mas este muito mais prolongado; a partir daí soa-nos uma guitarra acústica que parece estar a ser afinada. A afinação prologa-se por alguns minutos, e, se outrora os nossos ouvidos eram amplamente violados por todos aqueles riffs e por todas aquelas batidas medonhas, agora era tempo de uma surpreendente acalmia: primeiro o caos e a tempestade, o escuro nacional e a crise financeira, a necessidade de libertar o escravo (o povo) da prisão (o governo) e não ter medo do poder, que tanta gente enlouquece. Agora a esperança, em forma acústica, a exponenciar-se numa base de afinação orquestral, de revolução de mentalidades, de esperança e, acima de tudo, de introspecção. Mas, como qualquer máquina, não é em escassos minutos que a conseguimos calibrar. A esperança sucumbe. Morre. E os infernos descem aos céus para nos voltarem a infernizar. Lembram-se da mensagem política? É isso mesmo. A música desenlaça-se do modo como se iniciou e ganhamos logo a noção que Titans não é uma coisa para brincadeiras.


Segue-se no alinhamento Tiago Jónatas, Guilherme Canhão. Uma autêntica bomba para o nosso sistema cardíaco, capaz de nos atordoar o sistema durante os seus quase vinte minutos de duração. É impossível não nos envolvermos nos autênticos adamastores, ou, se quisermos, riffs, que por lá habitam e pintam de inóspito e tingem de negro, negrume bem enfatizado, as paisagens que vamos imaginando e que vamos vivendo ao ouvir esta música. Perfeita acaba por ser pouco para a definir. Seguem-se Steve Mackay, Isaiah Mitchell (ah, os saxofones) e Ghuna X, HHY, Tiago Pereira e a essência, filosofia e sonoridade dos Black Bombaim acaba por fazer jus àquilo que se vive nas duas primeiras músicas.


Riffs capazes de nos levarem além das nuvens, numa viagem simplesmente hipnótica e esquizofrénica, batidas hábeis ao ponto de se penetrarem nos nossos ouvidos e comandarem o nosso cérebro a fazer com que gesticulemos as mãos e acompanhemos o ritmo que Senra impinge nas suas músicas. A linha de baixo, essa, está sempre em simbiose com tudo e sempre a roçar a perfeição. Muito evidenciada e grande catalisadora para a criação da sonoridade dos Black Bombaim. Como funciona tudo num só? Pá, faltam-me as palavras. Quando tudo se funde, é qualquer coisa de inolvidável: psicadelismos siderantes, capazes de nos anestesiar e colocar-nos a baba a escorrer pela boca durante os sessenta e quatro minutos que compõem o álbum. E acreditem que quantas mais vezes o ouvirem, mais irão gostar dele; sirvo de prova.


Em suma, muita tinta tem corrido às custas de Titans. Porém, por muita tinta que se gaste, nada ficará tão escrito na eternidade como a música atordoante edificada e estruturada na complexidade do álbum dos Black Bombaim. É impossível negar uma viagem espacial pelo universo “frita-miolos” que os barcelenses criam em todas as suas composições através de pormenores embalsamados em psicadelismos atordoantes: um titã é um vocativo mitológico genérico para apelidar os gigantes que pretenderam escalar o céu, só que o esforço dos Black Bombaim não se limitou aos céus; transcendeu-os. Uma vénia, por favor.


Nota final: 9.5/10



Emanuel Graça
 




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