terça-feira, 22 de janeiro de 2013

YOUTH - PATHS EP (2012, Bandcamp)

Dizem os críticos que Drive é uma obra-prima. Na minha modesta opinião, basta retirar 2/3 das aparições musicais do Kavinsky e destrói-se por completo um cenário rico por ser pobre em diálogos, pertinência e carisma das personagens. E ainda vou mais longe : se trocássemos cada batida do francês por um EP como o de YOUTH, feito cá em Portugal, aí sim o filme ganharia outro brilho.






O espaço da ação já não seria tanto o carro, presos dentro de cinco portas escuras e frias. Mas claro, também não se iam pôr de lado alguns toques aqui e acolá da cena francesa que sempre são precisos para rebocar a coisa : em Intro, mais suavemente em Islands e em To Highways 2. É que tudo é feito no trabalho de Diogo Lima para se abrirem as perspetivas e seguir ao mesmo tempo diversos Paths em busca do sonho da viagem ou da viagem do sonho.
Se por vezes as passagens entre as músicas são um pouco abruptas, denota-se uma vontade em ilustrar o mundo como ele é e não cair na ingenuidade característica da chillwave colorida presa no seu próprio esquema de se abrir a tudo. Em Paths sentimos a melancolia, a angústia dos apelos robóticos envolvidos em guerras meteóricas por enquanto emsombreando apenas os discursos dos que nos governam. O caminho a seguir não nos parece muito otimista, mas sempre sincero e intimista.




A partir desse fim apoteótico caímos no limbo do glamour de Islands. Opostos que se destacam ainda mais por terem essa interligação. Mais dançável, é na ilha que paramos para descansar, disfrutar depois de mais uma dia cansativo. Excesso de passividade. Voltamos ao nosso carrinho, e vamos lá To Highways em duas versões : a primeira mais de quem regressa à vida timidamente e emerge passo a passo, a segunda mais saturada, mais violenta na lentidão, no retomar de consciência.
E é em Nowhere que o nosso percurso acaba, numa saturação omnipresente com orientalismo em pano de fundo. Ok, este EP não tem talvez o "nada" que se procura ao ver um filme como o Drive. Mas um pouco de lucidez, de YOUTH, neste mundo só podia inculcar-lhe, de certeza, mais vida.

Mickaël C. de Oliveira




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