Dizem os críticos que Drive é uma obra-prima. Na minha modesta
opinião, basta retirar 2/3 das aparições musicais do Kavinsky e destrói-se por
completo um cenário rico por ser pobre em diálogos, pertinência e carisma das
personagens. E ainda vou mais longe : se trocássemos cada batida do
francês por um EP como o de YOUTH, feito cá em Portugal, aí sim o filme
ganharia outro brilho.
O espaço da ação já não seria tanto o
carro, presos dentro de cinco portas escuras e frias. Mas claro, também não se
iam pôr de lado alguns toques aqui e acolá da cena francesa que sempre são
precisos para rebocar a coisa : em Intro,
mais suavemente em Islands e em To Highways 2. É que tudo é feito no
trabalho de Diogo Lima para se abrirem as perspetivas e seguir ao mesmo tempo
diversos Paths em busca do sonho da
viagem ou da viagem do sonho.
Se por vezes as passagens entre as
músicas são um pouco abruptas, denota-se uma vontade em ilustrar o mundo como
ele é e não cair na ingenuidade característica da chillwave colorida presa no seu próprio esquema de se abrir a tudo.
Em Paths sentimos a melancolia, a
angústia dos apelos robóticos envolvidos em guerras meteóricas por enquanto
emsombreando apenas os discursos dos que nos governam. O caminho a seguir não
nos parece muito otimista, mas sempre sincero e intimista.
A partir desse fim apoteótico caímos no
limbo do glamour de Islands. Opostos que se destacam ainda
mais por terem essa interligação. Mais dançável, é na ilha que paramos para
descansar, disfrutar depois de mais uma dia cansativo. Excesso de passividade. Voltamos
ao nosso carrinho, e vamos lá To Highways
em duas versões : a primeira mais de quem regressa à vida timidamente
e emerge passo a passo, a segunda mais saturada, mais violenta na lentidão, no retomar de consciência.
E é em Nowhere que o nosso percurso acaba, numa saturação omnipresente com
orientalismo em pano de fundo. Ok, este EP não tem talvez o "nada" que se procura
ao ver um filme como o Drive. Mas um
pouco de lucidez, de YOUTH, neste mundo só podia inculcar-lhe, de certeza, mais vida.
Mickaël C. de Oliveira
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