domingo, 27 de janeiro de 2013

ODC Gang - Escumalha (Sons da Pedrada) (2012)




"O rap está na moda", oiço eu desde sempre. Talvez sempre tenha estado. Nas suas mais variadas formas, este foi aparecendo um pouco sempre ao de cima. Em Portugal, como em todos os outros países, vai-se recebendo ecos e influências do que se passa lá fora. Observamos inúmeros grupos a aparecer e a desaparecer conforme aquilo que se "anda a ouvir". 


Outro fenómeno visível aos olhos de todos é o de vários MC's estarem cada vez mais a virar-se para um lado politico-intervencionista (veja-se os casos de Valete, Dealema, Chullage, etc.).
Quer de uma maneira quer de outra, o rap está cada vez mais acessível a um público muito mais abrangente e vago, as pessoas identificam-se com a temática ou associam ao que se vê em canais em clips estrangeiros, perde-se a conta da quantidade de álbuns de rap existentes no site da Pitchfork.

Assim sendo, são poucos os nomes que conseguem chegar à boca do povo ao ponto de partilharem palcos com nomes como Supernada ou B Fachada sem se converter a um lado um pouco mais comercializável da indústria musical. 
Um dos fenómenos mais controversos que surgiu foi, obviamente, (Allen) Halloween.
Sem necessitar de apresentações e menos de um ano depois de pôr "Árvore Kriminal" nas mais variadas listas de melhores de 2011, apresenta agora a mixtape "Escumalha (Sons da Pedra)", juntamente com os locais ODC Gang. Sendo provavelmente um dos cinco rappers portugueses mais conhecidos na actualidade, Halloween junta-se àqueles que lhe são próximos, independentemente da qualidade destes enquanto artistas, recusa parcerias com nomes consideravelmente sonantes e publica na Internet para que possa chegar a todos.

E chega, chega-nos rap a sério. E chega, não é preciso mais nada. Letras sem o mínimo de papas na língua, sem tentar agradar a editoras ou melómanos. Chega-nos a voz de quem vem e permanecerá no rap.
Filhos de um país entristecido e em busca de identidade, apontam-se os dedos e diz-se o que se pensa, num misto de "não querer saber" com "não querer misturas". Frases como  "não posso viver toda a vida com a stone/ sentado no bairro a ver carros babylon" ou "eu não estou desiludido, eu nunca esperei nada" e uma tal de Nancy Spungen na capa fazem-nos lembrar o niilismo que um dia o punk representou. A resposta, sincera, aos tempos que um país vive.



Luís Julião




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