domingo, 27 de janeiro de 2013

ELEKTRA ZAGREB - Giving Birth. Young Whales (2012, NQS Records)


As 7 músicas do EP "Giving Birth. The Young Whales" são o primeiro trabalho dos rapazes de Lisboa que compõem os Elektra Zagreb.  Saltaram do anonimato no último ano, participando em vários festivais e concursos pelo país. (Ainda) Não são uma banda unânime, nem o poderiam ser. Apresentam um trabalho novo, certamente por lapidar. Único em muitos aspectos.

A sonoridade de "Giving Birth. The Young Whales" navega em turbulência, entre ecos etéreos e siderais, e autênticas doses de pura crueza distorcida, como se olhássemos uma pintura naïve e de repente esta se transformasse, nos mostrasse os dentes afiados e rugisse bem alto. Esta antítese é mais ou menos constante em todo o trabalho, o que lhe dá uma dimensão global, que só pode ser entendida com clareza depois de o termos ouvido por inteiro e o deixarmos descansar no ouvido. É esta alternância que cria um certo fascínio, ao longo do EP e ao longo das próprias músicas. Mantém-nos alerta, fazendo-nos franzir o sobrolho e contrair os ombros num momento, para nos encostarmos no sofá
de olhos fechados no outro.

Parte intrínseca desta pintura sonora geral é a relação entre guitarra e baixo. A guitarra é sempre simples, doce (transformada por ecos, reverbs e trémolos, que nunca pecam por defeito nem excesso, que se entranham), e com algumas progressões arrepiantes, como em "Infant Robots Playground", em que, a meio da música, literalmente perde o tempo, e ataca furiosamente sem pedir licença, para rapidamente se esconder outra vez. O baixo, entretanto, toma o papel ambíguo de a acompanhar complacentemente - exemplo de "Bloody Hands", e de a provocar ao mesmo tempo, falando com ela ou seguindo sozinho sem querer saber, como em "Andromeda Girls Are Better", dando às músicas uma extensão e riqueza musical, às vezes sorrateira, subconsciente. A bateria surge suave, por vezes dissolvida, por vezes incisiva e cortante, aparecendo no entanto em algumas músicas demasiado esbatida, ficando a dever alguma intensidade. A voz surge com linhas vocais complexas e desconcertantes em certos casos, quase pop noutros, sempre com grande expressividade, sobressaindo muitas vezes, puxando-nos da embriaguez das melodias e dando-nos um significado, para depois se deixar ficar ali, deixando-nos à espera que nos puxe outra vez.


Por vezes o lo-fi inerente a todo o trabalho peca por demasia, e pergunto-me como soariam com uma produção ligeiramente menos difusa e deslapidada em certos momentos.  Encontrei em "Andromeda Girls Are Better" e "Infant Robots Playground" as melhores faixas do EP, sem dúvida para serem ouvidas e reouvidas.

Não foi por acaso, quando falei de "Giving Birth. The Young Whales", que não falei em influências. Elas existem, é claro, e não precisamos de ir longe para as encontrar,
mas não pensamos nelas quando o ouvimos. Fica sobretudo neste primeiro EP uma sensação de algo único, onde transparece uma grande preocupação em 
seguir um determinado pensamento e uma linha artística que está muito presente, com a proeza de não querer saber como o fazer. 

É nesta aparente contradição que encontramos todas as outras contradições do EP, salvas por uma unicidade que fascina, pela sua aleatoriedade, pela sua loucura, e gritos no espaço em pinturas naïve.


Hugo Hugon




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