terça-feira, 8 de janeiro de 2013

CHULLAGE - Rapressão (2012, Optimus Discos)




Em Rapressão, Chullage expressa a pressão do quotidiano do povo português, asfixiado pelos media que dia após dia afundam e pisam a sua reflexão, encadeando informações circulares e deixando-o preso num beco sem saída. Fala também de resistência. Uma resistência comparável com a própria ausência dos palcos de Nuno Santos, sem editar um álbum desde 2004, o seu Rapensar (Passado, Presente, Futuro). Altura que escolheu para refletir e ligar-se à música ainda mais. 8 anos suficientes também para dar-se conta que havia todo um povo à espera dele.






E em De Volta, sentimos que Chullage regressou para espalhar uma mensagem quase messiânica – a escolha do mês de Abril não será fortuita -, para dizer bem alto aquilo que muita gente pensa mas que nem sempre é difundido pelos artistas. Falar de Chullage é também falar do modo com que o artista consegue rimar na perfeição tanto em crioulo como em português. Uma diversidade que se nota também a nível dos beats, dos mais old-school aos mais modernos como em "Paz Pa Patxamama" ou "360 + 5", mas também na mudança de géneros, apostando muito no slam em "Será que,  Abril M’Águas Mil" ou em "ELA e ELE". No entanto, com um impulso tão grande de generosidade, corre-se sempre o risco de perder-se o objetivo principal do artista que era de servir-se da música como arma.


E é mesmo aí que o rapper demonstra ser dos mais completos em Portugal.
A mensagem que tem nunca deixa de ser posta em relevo, por vezes demasiado, por vezes perdendo-se alguma poesia como em "R.E.G.", verdadeiro hino dos povos oprimidos. No fim deste panfleto, o artista recupera a sua pertinência e faz as perguntas que incomodam a sociedade, as que nem sempre queremos ver, em "Será que" :a condição do negro em Portugal, a visão metafórica do que é ser "negro" nos tempos que correm (fantasmas do colonialismo, neo-colonialismos e capitalismos). Em "Mediaocridade", a TV desloca a sua propaganda para o rap, já desconstruída, desenraizada, em pedaços.
São criticados artistas da TV, a informação circular, famosos, políticos cada vez mais próximos da Casa dos Segredos, a passividade dos portugueses, o acanhamento que a TV quer e estimula. "
Problema Social" fala da falta de justiça social, da discriminação, do sencionalismo jornalístico e da explosão dos partidos fascistas, uma intertextualidade comum a "Será que". Um retrato crítico que continua em "Eles comem tudo" onde finança, exploração, e repressão são mais uma vez as temáticas abordadas, num reggae/drum and bass acompanhado por um sample de Zeca Afonso. Música de intervenção 2.0.


No épico "Já não dá", o quotidiano dos portugueses é retratado de maneira quase jornalística, com desespero e pessimismo no auge, que interage com o calmo "Barrigas Vazias e Corações Partidos" perfeitamente dirigido pela guitarra e pelo piano de Pedro Castanheira. Em "SEF", voltamos para a tal circularidade das histórias e das estórias, dos temas, dos desesperos, da violência, do racismo, dos "clichés", das deslocalizações. Retornados, brasileiras, ucranianos, cabo-verdianos, emigrantes : o retrato dos i(e)migrantes e do Portugal dos "sem-voz" é contado numa música de mais de 7 minutos. Em "RAP" e Princípio do fim são abordados os mesmos temas, enquanto que "G Também Ama" apela ao amor e ao respeito entre pais e filhos, entre homem e mulher.




No fundo, este álbum é mais um retrato social da situação desastrosa na qual se encontra o país, circular, insistente, asfixiante, sem saída à vista. Uma metáfora do Mundo no qual vivemos enquanto se espera por um amanhã melhor, cheio de esperança, que Chullage prometeu para breve. 7/10 


Mickaël C. de Oliveira




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