No
palco do Teatro Maria Matos, uma
fila de amplificadores aguardava os seis guitarristas portugueses: Daniel Rejmer, Filho da Mãe, Filipe
Felizardo, Manuel Mota, Riccardo
Wanke e Norberto Lobo. O público
susteve a respiração enquanto esperava ouvir o primeiro som que, diga-se, foi
algo invulgar – com os amplificadores desligados, os seis guitarristas
começaram a tocar ritmada e monotonamente, deambulando num passo lento pelo
palco. E assim foi durante os primeiros minutos, até que Ben Frost, na mesa de
mistura localizada no meio do público, ligou progressivamente o som distorcido
dos amplificadores e começou a modulá-lo.
Quando o baixo se fez ouvir por entre
toda a distorção, a ideia do fim do mundo naquela vigésima noite de Dezembro
não parecia tão absurda. Por
cima dos amplificadores, uma fila de seis instrumentos de sopro (Luís Castelhano, Paulo Alves e Gonçalo Galvão
nos trombones; Nuno Cunha e Luís Sousa nas trompas) tocou esporadicamente,
num som ainda mais épico e catastrófico. O cronómetro já batia os 30 minutos
quando se começou a ouvir a primeira linha de sintetizador – e os guitarristas
continuavam a tocar, no mesmo ritmo e registo.
Depois
de atingido um clímax, cujo ambiente não poderia ser mais negro e pesado, Ben foi
progressivamente regredindo para o estado inicial: o simples roçar dos dedos
nas guitarras, terminando subitamente o concerto.
Para
quem esperava ouvir músicas do reportório do artista, foi uma desilusão. Este
foi um espectáculo de aproximadamente uma hora, uma experiência com som Ben-Frost-like, onde se pôde ouvir toda
a distorção, a depressão e electricidade característica das suas músicas. Uma
coisa é certa: todas as pessoas saíram daquela sala com a memória de um som que
num foi tocado e que nunca será reproduzido da mesma maneira, bem como a
certeza de assistir ao próximo concerto agendado para Portugal.
Luís Carreto
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