segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

ANTÓNIO ZAMBUJO, COLISEU DOS RECREIOS, 7/12/2012 - REPORTAGEM




Foi noite mágica e para mais tarde recordar, essa em que o senhor Zambujo conquistou o Coliseu. Passados que estão dez anos desde o seu álbum inaugural, O Mesmo Fado, eis que o ilustríssimo cantor alentejano enche a maior sala da cena musical lisboeta e passa o teste com distinção, enchendo a barriga a um público que não esperava menos que a excelência a que foi habituado pela incontestável qualidade dos últimos álbuns. Outro sentido e Guia já tinham chamado a atenção de um público alargado, mas foi este último e soberbo Quinto que fez Zambujo saltar para ribalta, ampla e absoluta como se quer. E ainda bem que assim o foi.

As hostilidades abriram em bom plano com Silvia Prez Cruz, a impressionar pela voz e intensidade colocada na interpretação das canções que nadam algures entre a canção popular espanhola e o jazz. Fechado o prefácio, chegava a vez do prato principal, que foi recebido com rasgados aplausos. “A Casa Fechada” ouviu-se e Zambujo começa então num destilar de canções do novo álbum: “Algo Estranho Acontece”, Fortuna” e “Queria Conhecer-te Um Dia” chegaram para aquecer os corações e prepararam o primeiro grande momento da noite. É que mal soou o início do êxito de Quinto, “Flagrante”, foi ver o público a desinibir-se e entoar (ainda que baixinho, como se pede quando a música é bem tocada) a divertida letra escrita por Maria do Rosário Pedreira. Acompanhado que estava por uma excelente banda, com Bernardo Couto na guitarra portuguesa, José Miguel Conde no clarinete, Jon Luz no cavaquinho e Ricardo Cruz no contrabaixo e direcção musical, foi sozinho com a sua guitarra, ao estilo de João Gilberto, que Zambujo apresentou “Lambreta”, que também teve direito a acompanhamento do público.

Grande parte do alinhamento foi preenchida por músicas do último álbum, mas houve também passagem (obrigatória, diria) por temas de Guia que o público guardou com carinho especial, como “Zorro”, “Reader´s Digest” ou a maravilhosa adaptação de um texto de Vinicius de Moraes ao “Fado Perseguição” que resulta na canção “Apelo”. Um dos momentos que arrancou mais aplausos foi a colaboração com um grupo de Cantares Alentejanos que ajudou à festa e que foi anunciado por Zambujo como “o meu Alentejo”: foi sentida a reacção do público à repescagem de um pedaço de património musical português que nos é tão querido como o "Cante Alentejano". Por entre muitos aplausos lá veio um, para deleite do público, prolongado encore que contou com a “Valsinha” de Chico Buarque, deliciosa como não a conhecíamos e que terminou com referência a Alfredo Marceneiro e Amália Rodrigues. E foi com “Foi Deus”, sublime, só voz e contrabaixo, que António Zambujo se despediu dos lisboetas, sempre de sorriso nos lábios e em grande estilo.

A receita para o sucesso de Zambujo cá dentro e fora de portas? Bem, pelo menos no que a este Quinto diz respeito, boas letras (Nuno Júdice, Maria do Rosário Pedreira, Pedro da Silva Martins, Miguel Araújo, José Eduardo Agualusa e João Monge, entre outros), uma direcção musical criteriosa servida por instrumentistas talentosos, um triângulo formado pelo Brasil, o Alentejo e o Fado (que, nas palavras do próprio Zambujo, “é para manter”) e uma grande, grande voz.
           

Foi, pois, nessa noite de 7 de Dezembro de 2012 que se consumou a consagração de António Zambujo como nome maior da canção nacional. Um músico que começou como fadista assumido, mas não se coíbe de percorrer os caminhos da bossa-nova. Um cantor como se vê poucos, que tão depressa vai beber da fonte do "cante alentejano" como olha a canção ligeira de frente e sem medos. E sempre com os olhos postos no futuro. Que, sabemo-lo nós e sabe-lo ele, é todo seu.

Bernardo Branco Gonçalves




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