quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Minta & The Brook Trout - ENTREVISTA

2012 é o ano de regresso dos Minta & The Brook Trout. "Olympia" é o disco mais recente da banda de Francisca Cortesão, um disco onde a luz e a sobriedade são um par perfeito e inseparável. A propósito deste regresso, estivemos à conversa com Francisca, que nos contou mais sobre o universo deste projecto.
No próximo dia 4 de Janeiro, vão poder assistir ao vivo a uma actuação na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa.






BandCom (BC): Conta-nos um pouco como começou o teu interesse por escrever canções e como surge Minta.

Francisca Cortesão (FC): Eu comecei a fazer "canções" muito cedo, por volta dos 9-10 anos. Tive a minha primeira banda a sério com 13 anos, ainda no Porto, os Casino. Chegámos a gravar um disco, depois as coisas não correram tão bem como queríamos, a banda acabou e eu continuei a estudar. Fui para a faculdade, afastei-me um bocadinho da ideia de fazer música, embora tenha continuado a fazer canções em casa, e depois disso surgiu aquilo que veio a ser Minta, que foram canções que fiz e depois gravei em casa, arranjei e pus na Internet. Por isso, mesmo tendo saído apenas em 2008, as músicas do EP já andavam a circular na Internet há pelo menos 1 a 2 anos.




(BC): Quando ouvimos Minta & The Brook Trout, é natural reconhecer algumas influências: um pouco de Laura Veirs, um pouco de PJ Harvey, um pouco de Ani DiFranco. A escolha de quem seria o responsável pela masterização deste disco (Roger Seibel) é, assim, certamente propositada, correcto?

(FC): Nós andávamos à procura de alguém para masterizar o disco e reparei que o mesmo senhor tinha masterizado uma data de discos que gosto (discos de Laura Veirs, Elliott Smith, M Ward...) e de uma data de gente que tem um som de que gosto. É óbvio que a masterização é só a última camada, mas a verdade é que influencia muito mais do que aquilo que uma pessoa possa pensar o som do disco. É muito diferente ouvir um disco misturado e um disco masterizado e alguém que já mexeu em todos esses discos de certeza que ia perceber o que nós estamos a fazer, porque é alguém que se mexe muito dentro do estilo de música semelhante àquele que nós fazemos. Eu digo que gosto muito dos Beatles mas tenho a noção que não somos nem de perto nem de longe nada que se pareça com os Beatles. São uma referência de sempre: não existe Mundo para mim sem Beatles, porque sempre os ouvi desde pequena e acompanham-me ao longo de toda a vida, ao contrário de outras coisas que gostei quando era miúda e que entretanto deixei de gostar.


(BC): Quais as tuas expectativas para "Olympia"?

(FC): As expectativas já estão a ser cumpridas: quando coloquei na Internet o "Falcon", primeiro single, percebi que só pela quantidade de pessoas que já o tinham ouvido, já tínhamos chegado a mais gente que no disco anterior até agora. Esse é o grande objectivo. Para lá do disco que fizemos, que sei que é melhor que todos os outros, as pessoas também estão a reagir de outra maneira - há mais pessoas a ouvir o que estamos a fazer e é isso que nós queremos. É um disco bem feito, bem gravado, bem tocado e isso interessa mesmo às pessoas que não pensam nesses termos quando ouvem música. Isso sente-se mesmo que não conscientemente se pense nisso. Fizemos o melhor disco que sabemos fazer e estou muito contente porque também fizemos o disco que tínhamos exactamente na cabeça: aliás, um bocadinho melhor até, porque para além da banda há uma data de convidados que trouxeram coisas que não estávamos à espera e que enriquecem muito o som que tínhamos imaginado à partida. Para além disso temos gente muito boa a trabalhar connosco na promoção e no agenciamento e nunca tinha tido essa estrutura à minha volta, porque até agora tinha sido sempre eu a trabalhar as coisas mais ou menos sozinha. Isso também se sente.
E agora acho que também há mais gente a fazer música como fazemos, de alguma maneira é mais "popular": ou seja, não estou a falar especificamente de Minta, mas desde que saiu o disco anterior há bandas como os Grizzly Bear ou Fleet Foxes que ganharam um público grande e que nessa altura não se ouvia tanto o folk e os singer/songwriters há 3/4 anos atrás como se ouve agora. Aquilo que fazemos neste momento não é um "bicho tão esquisito", é uma coisa que se ouve mais e isso também nos ajuda. Neste momento estamos enquadrados num movimento global que tem mais atenção de alguma maneira, as pessoas não estranham tanto estas canções mais despidas, com arranjos mais sóbrios, algo que poderia até certo ponto ter sido feito até aos anos 70. Há mais bandas a fazer um som parecido com o nosso: por exemplo, cá, os You Can't Win, Charlie Brown tiveram muito boa recepção ao disco deles.







(BC): Em que medida o facto de teres pertencido à banda de suporte do David Fonseca e de teres integrado os They're Heading West influenciou a tua música e a tua personalidade enquanto Minta?

(FC): Há uma coisa importante neste momento: estou a fazer muito mais música do que acharia possível na altura em que saiu o primeiro disco. Ele saiu na mesma altura, em 2009, em que comecei a tocar com o David. E desde essa altura, entre Minta, David Fonseca e a partir do início de 2011 com os They're Heading West tenho tocado muito mais. E isso por si só é uma diferença muito grande porque estou muito mais à vontade em palco, a tocar, mesmo com a guitarra, acho que estou a tocar melhor que tocava antes porque tenho tocado mais. O estilo de música que o David faz, não sendo totalmente distinto do que faço mas sendo outro estilo...o facto é que aprendes sempre quando tocas com outras pessoas, ao mexeres-te fora do que é a tua zona de conforto musical e estética. Estou mais confiante a escrever, estamos mais confiantes como banda e isso não tem a ver só com os projectos em que temos tocado mas estamos a fazer mais música do que há 3 anos atrás. E acho que isso mostra, estando também nós a tocar juntos há muito mais tempo (no disco anterior, foi o Zé Vilão, um grande amigo que gravou connosco enquanto baterista convidado e não como parte integrante da banda e o Nuno só entrou depois do primeiro disco). Neste momento somos mesmo uma banda e isso é uma diferença muito grande - ter um núcleo duro que faz os arranjos em conjunto.






(BC): Como surgiu a ideia para a capa deste novo disco?

(FC): A primeira esteve a cargo do João Maio Pinto e a segunda do José Feitor. Cada um deles fez duas capas: o João fez a capa do "You" e do primeiro disco e o José do "Carnide" e do "Olympia". A do primeiro disco foi a propósito de uma conversa que tive com o João acerca de uma história que ouvi sobre uma conversa entre o Terry Gilliam dos Monty Python e o Tom Waits, em que o Terry Gilliam ouviu "on the porch the geese salute" quando o Tom Waits dizia "in a portuguese saloon". E o João desenhou os dois gansos num alpendre: a ideia era essa, aquilo está óptimo e gosto imenso daquela capa.

Esta não: foi uma segunda alternativa, em que aquando do "Carnide" pedi ao Zé para fazer a capa do disco e ele apresentou-me a do urso e a da baleia. Eu disse: "gosto muito da baleia, gosto ainda mais do urso, mas este gostava mais para um disco ao vivo, por isso espera lá que quando gravarmos um disco de originais este vai ser a capa". Portanto antes do disco estar feito, a capa já estava feita. 
Tenho a sorte de ter esses amigos que são ilustradores e que para além disso se movem de alguma maneira no universo parecido com o meu, sobretudo o Zé que foi quem me mostrou muita da música mais country que ouço, uma coisa que não existia muito há 10 anos (gente a ouvir música country) - Gram Parsons, Byrds, essas coisas. Ele mostrou-me muita coisa que não conhecia e por isso também, esteticamente, a sensibilidade dele é muito próxima da minha; mesmo a nível musical ele entende perfeitamente o que estamos a fazer e é muito fácil comunicar com ele.

(BC): Em "Olympia" contas com a participação de diversos convidados especiais. Fala-nos um pouco mais sobre a importância que tiveram neste disco.

(FC): O coro (Afonso, Salvador e a Madalena que é dos Nome Comum e tocou algum tempo connosco nos They're Heading West na altura em que a Mariana Ricardo esteve em Moçambique a rodar o "Tabu"); convidei a minha irmã que canta comigo desde a infância, que canta muito bem e com quem nunca tinha gravado nenhum disco e portou-se lindamente; o Miguel Bonneville, meu amigo de infância, já presente no "Carnide" e no disco anterior. Eu faço sempre muitos arranjos de vozes nas músicas: no EP de estreia era só quase eu, no disco chamei o Miguel e ele cantou em 2/3 músicas, e já há muito tempo antes de gravar que tinha a ideia de ter um coro - escolhi-o a partir de pessoas com que já tinha cantado por alguma razão e que sabia que gostava dos timbres.
Por outro lado queria ter uma secção de sopro; já tocamos há algum tempo com o João Cabrita, ele chamou os restantes membros e fez os arranjos. Para além disso houve o Ian Carlo, dos Tigrala, porque quando estávamos a pensar nos arranjos do disco houve uma música que pedia vibrafone. Não há muita gente que toque e ele toca muito bem: fez o arranjo para uma música e acabámos por pedir para que fizesse percussão noutra, uma coisa mais latina.

(BC): Li noutras entrevistas que gostavas de no futuro trazer mais das tuas próprias influências para as músicas que fazes. Conseguiste isso com este disco?


(FC): Acho que sim, porque de facto a história do cantor solitário não me agrada nada até porque não sou nada essa pessoa. Eu percebo que às vezes passe essa imagem mas não sou essa pessoa solitária em casa amargurada a fazer canções, felizmente, de todo. Muito graças ao resto da banda, aos arranjos, aos convidados, ao facto de ser um disco de grupo e de pessoas felizes a fazer o que fazem, com muito gosto e que passa. De facto, as minhas letras na sua maioria não são assim coisas muito felizes, mas acho que é normal que de alguma maneira o que nos puxe para escrever não seja "Hoje acordei muito bem disposta, fui ali à rua tomar um café...". Não sei, não é uma coisa que peça para escrever uma canção, ao passo que se de repente me lembrar de uma ideia mais sinistra, isso já me pede para escrever uma canção.

(BC): Como surge o convite para a edição via Optimus Discos? Como vês o papel de plataformas editoriais como esta?


(FC): O Henrique foi uma das primeiras pessoas a apoiar este projecto desde início, na altura através da compilação "Novos Talentos FNAC" em que saiu a primeira música de Minta antes de sair no EP. Na altura quando gravámos o EP, não havia Optimus Discos; quando gravámos o disco a Optimus Discos só fazia EPs e depois fizemos o ao vivo pela plataforma digital da Optimus. Então agora foi finalmente a altura em que fizemos um disco de originais, a Optimus começou a fazer LP's como editora e as coisas alinharam-se. É meio estranho que seja uma editora associada a uma marca a fazer esse trabalho de divulgação de bandas que de outra maneira não teriam recursos para lançar discos e por outro lado propor projectos diferentes a bandas já consagradas. É o que há, fico muito feliz por estar a funcionar tão bem: tenho pena que o mercado editorial fora Optimus Discos não esteja mais animado, mas quer dizer, é normal tendo em conta as circunstâncias de tudo, incluindo a compra de discos. A Optimus pode dar-se ao luxo de fazer discos e de os pôr para download gratuito e venda mais barato nas lojas; como uma concorrência quase desleal em relação a qualquer outra editora independente que fosse tentar fazer o mesmo tipo de projecto. Parece-me um caso em que toda a gente fica a ganhar, em que a Optimus ganha o prestígio de ter o nome deles associado a bandas de alguma maneira não mainstream, apoiando a arte e por outro lado, apoiam as bandas, o que só temos de aproveitar.

(BC): Porquê "Olympia"?
(FC):
Olympia foi uma das cidades por onde passámos na digressão dos They're Heading West pela Costa Oeste. É a capital do estado de Washington e é uma cidade muito estranha porque é minúscula mas tem um capitólio. Tem também um parque natural lindíssimo e é dos sítios mais bonitos onde já estivemos, tanto a cidade como o estado. É impressionante, é mesmo lindíssimo.
E "Olympia" é um bom nome: a certa altura eu e a Mariana estávamos à procura de um nome para o disco e começámos a lembrar cidades por onde passámos e "Olympia" foi a que nos soou melhor.


André Gomes de Abreu
Fotografias  por Ana Pereira




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