quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Main Dish - Insight


Certamente que se lembram de vos ter falado de Main Dish, ou então talvez nem se lembrem porque, a avaliar pelas estatísticas do blogue, pouca gente quis saber do rabisquei acerca do seu single, o mui salubre Girls With Hats Are So Lovely (ler aqui). Depois ter lançado o single, era com alguma ânsia e espectativa que esperava o lançamento do álbum. Intitulado Insight, o novo longa-duração do artista foi lançado no início do mês de Novembro e é sobre ele que hoje nos vamos debruçar.

Insight é um registo curto, de apenas 17 minutos, composto por nove intrigantes e desafiantes faixas. A sua linha sonora aqui adoptada converge com aquilo que era expectável após o lançamento do single, mas a verdade é que existe um toque mais experimental, sapiente e idiossincrático. Não se pense que aqui reside música fácil de se ouvir, não se pense que isto é música para ouvir antes de ir dormir ou para abafar os relatos das vivências diárias dos velhos dos autocarros. Estou a brincar, porque até pode sê-lo… desde se tenha ouvido Insight por um número incognoscível de vezes.



Digerir um álbum como estes não é nada fácil, nem o pode ser (não foi feito com esse fim). A sonoridade deste registo vinca a sua essência: a de querer escapar a tudo o que é conceptual e que se vai ouvindo por aqui e por acolá. À imagem de Girls With Hats Are So Lovely, aqui assiste-se ao revivalismo de paisagens ilustradas pelo post-rock britânico que surgiu entre o final da década de 80 e o início da de 90, um fenómeno que fez despertar nomes como Disco Inferno, Bark Psychosis, Moonshake (essa banda que tanto gosto) ou AR Kane e que foi carimbado pelo abstraccionismo sonoro e por composições musicais inegavelmente trabalhadas e timbradas pelo constante shoegaze que lhe era impingido. Luís Vieira/Main Dish apoia-se sobretudo nisso, mas não só: é nítido o olhar tímido que Cinema Dinema ou Tu Est Trés Belle fazem ao pop, lembrando-me nomes como, por exemplo, The Radio Dept. Poderia continuar a dizer mais algumas influências, mas, infelizmente, tenho-me de me apressar a escrever isto porque a hora de jantar está aí à porta e tudo o que aqui menos importa são influências.

Foi após algumas audições que Insight se começou a compor na minha cabeça, estando aqui a prova que não é um disco fácil. Contudo, foi logo desde a primeira audição que descobri um tesouro de 2012. Chama-se Cinema Dinema e é a segunda faixa deste registo, sucedendo, no alinhamento do álbum, a Dreamweavers, a faixa inicial de Insight. Poderia estar aqui com adjectivos bonitos a descrever esta faixa, mas, desta feita, preferi ser conciso e claro: Cinema Dinema é uma das minhas canções favoritas do ano. Experimental (como todo o registo) e abrasada pelo elóquio dissolvente entre a guitarra e uma “falsa” percussão, os meus ouvidos nidificaram-se nesta faixa há já alguns dias e vejo aqui o ponto maior do registo.

Os lirismos do registo são absolutamente irrepreensíveis. Lol, estou a brincar: cá não existe poesia (a não ser os versos parafraseados em Northern Lights), a não ser a poesia sentenciada pela timidez da guitarra e pelas composições musicais que se demonstram, ao longo do LP, sapientes e bem trabalhadas. O experimentalismo cru e despido está sempre presente em qualquer música de Insight, mas sobressai em demasia em faixas como Walking In Clouds ou Leonor e talvez por isso as veja como as que menos gosto.

Evocando os pontos fortes do registo, devo citar a brilhante e soberba (e já referida) Cinema Dinema, a misteriosa Northern Lights, a briosa Tu Est Trés Belle e o single Girls With Hats Are So Lovely. Pela positiva, destaco também o carisma de Insight, um registo que não foi feito a pensar em ninguém e que adopta uma identidade própria. Já referindo-me aos pontos negativos, devo assinalar as faixas Seashore (apesar de ter engraçado bastante com o pormenor do mar), Walking In Clouds e a já referida Leonor e o tempo que este se demora a entranhar (por analogia, posso utilizar o exemplo de um bife muito bem passado ; como está muito bem passado, demorará a ser mastigado/comido. Ok, esqueçam isto) bem como a mesmice inerente a alguma música. Contudo, todos os pontos negativos são aniquilados quando ouço Cinema Dinema, um malhão de todo o tamanho e, bem, o que não falta é tempo para evoluir.

Em compêndio, aqui está uma bela prova daquilo que tinha previsto: um excelente álbum de Main Dish. Nem toda a gente gostará nem quererá saber, certamente… mas também não era com um disco destes que toda a gente iria passar a gostar e conhecer Main Dish, e ele bem tem consciência disso. Creio em Insight um belo disco para se ouvir enquanto se espera num piso subterrâneo pelo metro, sem ninguém por perto e com o olhar bem preso na misteriosidade da escuridão, bem longe das luzes, e do barulho delas ; Insight é isso mesmo: um escape da esfera da cidade, um passeio pedonal e pensativo de olhos fechados por um campo de uma aldeia enquanto dedilhamos as ervas que nos chegam ao início do tronco. Un applause, por favor.

Classificação final: 8.0/10

Emanuel Graça




1 comentários:

Luís Miguel Vieira disse...

Emanuel Graça é Deus

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