Certamente que se lembram de vos
ter falado de Main Dish, ou então talvez nem se lembrem porque, a avaliar
pelas estatísticas do blogue, pouca gente quis saber do rabisquei acerca do seu
single, o mui salubre Girls
With Hats Are So Lovely (ler aqui). Depois ter lançado o single, era com alguma ânsia e
espectativa que esperava o lançamento do álbum. Intitulado Insight, o novo
longa-duração do artista foi lançado no início do mês de Novembro e é sobre ele
que hoje nos vamos debruçar.
Insight é um registo
curto, de apenas 17 minutos, composto por nove intrigantes e desafiantes
faixas. A sua linha sonora aqui adoptada converge com aquilo que era expectável
após o lançamento do single, mas a
verdade é que existe um toque mais experimental, sapiente e idiossincrático.
Não se pense que aqui reside música fácil de se ouvir, não se pense que isto é
música para ouvir antes de ir dormir ou para abafar os relatos das vivências
diárias dos velhos dos autocarros. Estou a brincar, porque até pode sê-lo…
desde se tenha ouvido Insight por um número incognoscível
de vezes.
Digerir um álbum como estes não é
nada fácil, nem o pode ser (não foi feito com esse fim). A sonoridade deste
registo vinca a sua essência: a de querer escapar a tudo o que é conceptual e
que se vai ouvindo por aqui e por acolá. À imagem de Girls With Hats Are So Lovely,
aqui assiste-se ao revivalismo de paisagens ilustradas pelo post-rock britânico que surgiu entre o
final da década de 80 e o início da de 90, um fenómeno que fez despertar nomes
como Disco
Inferno, Bark Psychosis, Moonshake (essa banda que tanto
gosto) ou AR Kane e que foi carimbado pelo abstraccionismo
sonoro e por composições musicais inegavelmente trabalhadas e timbradas pelo
constante shoegaze que lhe era impingido.
Luís Vieira/Main Dish apoia-se sobretudo nisso, mas não só: é nítido o
olhar tímido que Cinema Dinema ou Tu Est Trés Belle fazem ao pop, lembrando-me nomes como, por exemplo,
The
Radio Dept. Poderia continuar a dizer mais algumas influências, mas,
infelizmente, tenho-me de me apressar a escrever isto porque a hora de jantar
está aí à porta e tudo o que aqui menos importa são influências.
Foi após algumas audições que Insight
se começou a compor na minha cabeça, estando aqui a prova que não é um disco
fácil. Contudo, foi logo desde a primeira audição que descobri um tesouro de
2012. Chama-se Cinema Dinema e é a
segunda faixa deste registo, sucedendo, no alinhamento do álbum, a Dreamweavers, a faixa inicial de Insight.
Poderia estar aqui com adjectivos bonitos a descrever esta faixa, mas, desta
feita, preferi ser conciso e claro: Cinema
Dinema é uma das minhas canções favoritas do ano. Experimental (como todo o
registo) e abrasada pelo elóquio dissolvente entre a guitarra e uma “falsa”
percussão, os meus ouvidos nidificaram-se nesta faixa há já alguns dias e vejo
aqui o ponto maior do registo.
Os lirismos do registo são
absolutamente irrepreensíveis. Lol, estou a brincar: cá não existe poesia (a
não ser os versos parafraseados em Northern
Lights), a não ser a poesia sentenciada pela timidez da guitarra e pelas
composições musicais que se demonstram, ao longo do LP, sapientes e bem
trabalhadas. O experimentalismo cru e despido está sempre presente em qualquer
música de Insight, mas sobressai em demasia em faixas como Walking In Clouds ou Leonor e talvez por isso as veja como as
que menos gosto.
Evocando os pontos fortes do registo, devo citar a brilhante e soberba (e já referida) Cinema Dinema, a misteriosa Northern Lights, a briosa Tu Est Trés Belle e o single Girls With Hats Are So Lovely. Pela positiva, destaco também o carisma de Insight, um registo que não foi feito a pensar em ninguém e que adopta uma identidade própria. Já referindo-me aos pontos negativos, devo assinalar as faixas Seashore (apesar de ter engraçado bastante com o pormenor do mar), Walking In Clouds e a já referida Leonor e o tempo que este se demora a entranhar (por analogia, posso utilizar o exemplo de um bife muito bem passado ; como está muito bem passado, demorará a ser mastigado/comido. Ok, esqueçam isto) bem como a mesmice inerente a alguma música. Contudo, todos os pontos negativos são aniquilados quando ouço Cinema Dinema, um malhão de todo o tamanho e, bem, o que não falta é tempo para evoluir.
Em compêndio, aqui está uma bela
prova daquilo que tinha previsto: um excelente álbum de Main Dish. Nem toda a
gente gostará nem quererá saber, certamente… mas também não era com um disco
destes que toda a gente iria passar a gostar e conhecer Main Dish, e ele bem tem
consciência disso. Creio em Insight um belo disco para se ouvir
enquanto se espera num piso subterrâneo pelo metro, sem ninguém por perto e com
o olhar bem preso na misteriosidade da escuridão, bem longe das luzes, e do
barulho delas ; Insight é isso mesmo: um escape da esfera da cidade, um
passeio pedonal e pensativo de olhos fechados por um campo de uma aldeia
enquanto dedilhamos as ervas que nos chegam ao início do tronco. Un applause, por favor.
Classificação final: 8.0/10
Emanuel Graça
1 comentários:
Emanuel Graça é Deus
Enviar um comentário