quinta-feira, 4 de outubro de 2012

LÁ FORA, CÁ DENTRO #3: Sarah Linhares - Message From The Future (Public Transit, 2011)








No país (também) de Nelly Furtado, outra lusodescendente tem mostrado os seus dotes musicais. Do Canadá chega-nos Sarah Linhares, de origem portuguesa e irlandesa, que se tornou famosa após ter participado na Red Bull Music Academy em 2007. Em 2011, a artista apresentou o seu primeiro álbum – Message From The Future - onde se mesclam todas as suas influências : a soul, o r&b, o gospel, o samba, o hip-hop e sempre alguma música eletrónica em redor.  Mas nem só a música a inspirou. A canadiense admite que parte das suas "cores" sonoras resultaram das muitas viagens que fez pelo mundo fora, pela Venezuela, por Portugal, mas também nalguns festivais reconhecidos como o "NuJazz Festival" ou as "Francofolies de La Rochelle". Mais recentemente, colaborou com o DJ português DJ Ride para o single editado pela Optimus Discos "Here Before". 

Esperando o seu reconhecimento por terras lusas, ficámo-nos pela análise de "Message From The Future", editado pela Public Transit Records, composto por 13 músicas e inspirado pelo filme "The Terminator": « O eu futurista da artista é transportado para o presente para ajudá-la a combater os obstáculos do dia-a-dia ». Uma mensagem do futuro… 
bom, convenhamos que a mensagem não é a mais madura do mundo. 
Não obstante, o álbum é de uma riqueza rara, de adocicar qualquer um. O som de "Grapefruit" de apenas um minuto apresenta as premissas do álbum e mostra o caminho a seguir, entre batidas espasmódicas e uma soul repetitiva e hipnótica, cobrida por uma ténue voz limosa que dá o gosto final à coisa. Em "Sarinha", existe uma clara oposição de estilos, da "Sarah do passado e da Soul" à "Sarah do futuro e dos beats sonoros". 
Nem todos os anacronismos funcionam mas Sarah de pequeno nada tem. Numa tonalidade quase sempre igual, procura sempre não dar demasiado a cara deixando ao ouvinte o tempo de se concentrar na complexidade musical por detrás dela. "Here" lembra Alicia Keys no início, até surgirem os primeiros scratchs, leves e quase inaudíveis. Perde-se algum futurismo, algum anacronismo, alguma originalidade. "Other Side" tem sonoridades bem atuais, aéreas e chiptuneadas, com suaves referências soulescas. A antítese de "Here", perde-se a noção do presente em viagens constantes e céleres entre passado e futuro. 





A voz de Sarah ganha em brilhantismo no planante "Stressin Lessons" : é hip-hop feminino, é soul, mas peca por ser demasiado terra-a-terra, sem intenções fugitivas, sem sonho. "Dirty Business" tem dancehall e chiptune : definitivamente, a canadiense ousa tudo sem medo. Precisamente, "No Questions" parece ser o lema dela, deixando livre recurso à conversa entre os tempos, entre os sons, entre os seus diferentes "eus". 

Com "Step Up" e "It’s All True", o álbum abranda em todos os sentidos… e um despertar torna-se mais que necessário. Daí talvez aparecer a ordem agressiva e desesperada "Move Along", negra e emotiva, daquelas músicas lindas que convém não ouvir em períodos depressivos. "Feeling You" cheira a sexo, a reconciliação, "I Get Scared" é lento, demasiado lento... mas em "Only Human" reencontramos a assinatura da canadiense, numa soul eletrónica ultra-beateada, a voz suave um pouco mais audível que as batidas. 

No fundo, o álbum é rico em extremos : dos sons do passado aos mais futuristas, das músicas frisando a perfeição a algumas vistas e revistas que não acrescentam nada.


Mickaël C. de Oliveira




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