sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Salto - ENTREVISTA

Fomos conhecer este descontraído duo da Maia, no Teatro S. Jorge, em Lisboa. A sua atitude revela-se de forma clara na música que fazem, e na forma como decorreu todo o processo de gravação do álbum. Fiquem com as palavras sábias dos Salto!


Como foi o concerto do SBSR?

Luis Montenegro - Em três palavras, foi espectacular! É uma sensação incrível estar a tocar para tanta gente. Foi no palco principal, numa altura linda, às 20 horas, com o pôr do sol. Correu mesmo bem, o pessoal foi super receptivo e vimos imensa gente a cantar as nossas músicas. 

Quem lá estava já vos conhecia?

Guilherme Tomé Ribeiro - Sim, nós tocámos muito em Lisboa nestes últimos dois anos, desde abrir concertos de amigos nossos, como os Capitão Fausto, Os Velhos, até a concertos mais pequenos, e alguns festivais. Fomos arranjando aqui algum público. 

A vossa base de apoiantes está mais no Porto, nesse caso. 

GTR - Eu acho que está dividido.. No início, tocávamos mais no Porto porque queríamos começar na nossa cidade e era o que estava mais próximo. Nestes últimos dois anos, temos tocado mais vezes em Lisboa, e por isso agora está equilibrado. 
A pergunta da praxe: donde vem o vosso nome?

LM - Fomos abrir o concerto dos Azeitonas no final da tourneé deles, em 2007. Eles convidaram-nos, estávamos nós no 10º ano, e ficámos um pouco atrapalhados, também com a questão do nome que teríamos. Guilherme e Luís seria estranho, parecia um duo latino, que não representava bem o que nós somos. Andámos a ver de nomes para nós, algumas coisas nem vou aqui dizer de tão sinistras que eram, alguns em inglês, nada estava ligado à nossa música. A certa altura, um amigo nosso sugeriu "Salto", e nós achámos bem! É um nome directo, passa uma mensagem boa, não consegues catalogar logo o que é, e temos cumprido isso até agora. 

Ganharam alguma exposição nos últimos dois anos. Como chegaram até aqui?

GTR - O nosso início como banda coincide com fases académicas importantes. Salto começa no início do nosso secundário, e estávamos no conservatório de música, a aprendizagem era feita de uma forma mais organizada e séria, para aprendermos a teoria, guitarra clássica e a formação em si, no total foram 5 anos. Tivemos jazz também, apesar de ter sido menos tempo. Acabámos o secundário e ainda estávamos no conservatório, e entramos na faculdade, num curso também de música, na Escola Superior de Música, no curso de Produção e Tecnologias da Música, que foi um propulsor enorme. 

Nota-se no álbum que, apesar de todas as camadas sonoras que ouvimos em cada tema, nada soa a confuso.

GTR - Isso veio muito da aprendizagem resultante do nosso curso, porque é muito de estúdio, de produção musical mesmo, pura e dura, e toda a informática adjacente. Juntámos estes conhecimentos todos, começámos a produzir o nosso material de uma forma mais profissional, com mais qualidade, até a partir de casa e sem precisar de um estúdio. 
Este disco é uma produção conjunta?

GTR - Parte foi gravado em nossa casa, mas a grande parte da produção foi com o New Max (Expensive Soul), no estúdio dele. Estivemos os 3 envolvidos ao máximo em todo o processo, a nível de ideias, para que saísse mesmo uma estética interessante e com a melhor qualidade possível. Ao mesmo tempo que finalizamos o disco, acabamos também o curso, por isso foi uma parte difícil, a de trabalhos finais, testes finais, exames, e datas para cumprir com o álbum. Arrumámos o curso, descansámos um pouco, três dias na verdade, voltamos à carga para acabar o disco. O último ano e meio, tempo de produção do CD, foi muito intenso, sem férias, sem parar. 

A vossa música tem um lado muito de software, de computador, de samples, um lado  electrónico muito forte. Como é que se passa tudo isso para concerto, em que tem de ser algo mais analógico?

LM - É como ensaiar uma coreografia, uma espécie de dança no fundo. Também tens de perceber o que queres passar do disco para o concerto, há muita coisa que não tocamos, fica apenas o que é mais importante. Senão confundes um pouco as pessoas que estão a ouvir. No disco, há mais atenção ao que se ouve, ao vivo é diferente. 

GTR - Aproximas-te do disco mas nunca fazes uma cópia exacta, até porque há coisas que são acessórias tendo em conta a globalidade do tema. 

LM - Não simplificamos, mas reinterpretamos o que está no álbum. 

Tendo em conta a originalidade do disco, que nomes vos influenciaram?

LM - O álbum é uma mistura de muitos géneros e de muita coisa que está a acontecer, ao ponto de, durante as gravações, ouvirmos um disco novo de uma banda nova ou de um cantor novo e pegar em pormenores que achámos interessantes para aplicar no nosso trabalho. Aconteceu várias vezes, essa experimentação na hora. 

GTR - A verdade é que não há ninguém a que podemos associar o álbum de uma forma clara. É uma lista bem grande, a das pessoas que afectaram o nosso disco. 

LM - É mais uma influência de vários géneros: música electrónica, rock..

GTR - Foram pequenas coisas: aquele sintetizador dos Dam Funk..

LM - Aquele sub-grave de Mala, uma passagem new-soul do D'Angelo, fomos pegando nas coisas desta forma, ao sabor daquilo que nos ia surgindo também. Mas ao mesmo tempo, metemos isso tudo num padrão electro completamente francês, por exemplo. 

GTR - Os Sebastian, os Justice, tudo isso.

LM - Tentámos procurar sentido nesses nomes, nesses géneros e procurar coisas boas, e divertir-mo-nos com essa busca. 
Juntaram estes temas porque fazia sentido o seu conjunto ou mais para apresentar trabalho?

LM - Algumas já existiam e já as tínhamos tocado ao vivo, e segundo as reacções de quem as ouviu, fomo-las rearranjando. Outras fomos criando à medida que o álbum aparecia, nomeadamente porque tivemos acesso a sintetizadores e outro tipo de material que antes não tínhamos, e que nos permitiu experimentar novas ideias e outras sonoridades. Ficaram algumas também de fora. 

GTR - Este foi um álbum muito sui generis na forma de o fazer. Quando começámos a gravar, tínhamos músicas suficientes para fazer um disco, mas o alinhamento não nos parecia consistente o suficiente, nem que tivesse ligado, até porque tinha coisas mais antigas. O próprio (New) Max disse-nos muito isso, e muito material foi trabalhado com ele, apesar de muitas levarem já uma base.   

LM - O trabalho feito ao longo do processo de gravação, de experimentação, foi consolidando as canções como um grupo, fazendo assim uma boa espinha dorsal para este trabalho. A sugestão do Max até foi esquecer algum do material antigo e pegar em sons recentes, dizendo que nos daria mais gozo até, e o resultado final faria mais sentido. O trabalho foi todo muito pensado, nada deixado ao acaso. 

O que é que têm tocado mais ao vivo?

GTR - Coincidindo com o lançamento, estamos mais focados no disco. Mas nós gostamos de fazer versões de outros artistas e, a curto prazo, depois de todos perceberem o que é o álbum, iremos também mostrar ao público essas versões, se fizer sentido e se houver vontade.

Como funciona o vosso processo de composição?

LM - De muitas formas. Às vezes, estamos os dois a tocar guitarra, o Guilherme tem uns acordes e eu pego nisso e faço uma harmonização, um baixo ou um sintetizador. 

GTR - Ou então andamos com umas ideias que fizemos pelo computador, e mostramos ao outro. Pode ser só um beat, mas nasce sempre qualquer coisa a partir dali. E experimenta-se. Por vezes, partes de outras músicas, ou mesmo o seu todo, fazem-nos querer compor também, e fazer variantes desses pormenores. Se fizeres algo parecido, já estás noutro sítio qualquer e já pode nascer uma música. 

LM -  Já aconteceu de tudo, até coisas ao calhas. 

Falem-nos da vossa dinâmica entre os instrumentos analógicos e os digitais, que está bem patente neste disco. Como trabalham este equilíbrio?

LM - O equilíbrio está muito relacionado com frequências. A guitarra cumpre o seu espaço,  frequencialmente. Tu, enquanto produtor, vais percebendo qual o espaço da guitarra e que tipo de espaço é que ela pode ter. O mesmo se aplica para o sintetizador, sendo que depois é ver como se podem enquadrar os dois, construindo mutuamente espaço entre os dois. O sintetizador tem texturas infindáveis, por isso acho que funciona sempre por acrescentar texturas, no sítio certo, caso contrário é desperdício de recursos e material. 

GTR - A música vive de tempo e de espaços, tens de perceber o que é que cada coisa deve ocupar, num determinado tempo e espaço. Aconteceu muitas vezes estarmos a ouvir as músicas, e supostamente já não faltar nada, e notar-se a falta da guitarra para uma parte específica, ou de um teclado, ou um lead, algo para guiar. 
Agora mais fora do álbum, sentiram mais dificuldades no vosso percurso por começarem no Porto e não em Lisboa?

LM - É impossível saber porque não começámos em Lisboa, mas temos aqui muitos amigos, e gostamos muito da música aqui feita. Mas acho que cada banda começa de uma forma diferente, e tem muito valor pelo trabalho que faz. O Porto tem, por acaso, uma tradição que não vai muito de encontro ao nosso género de música, é mais rock. Por isso, acho que depende e que é uma escolha consciente. Nós antes tocávamos muito guitarra clássica, rock, blues, eu gostava imenso de Jimmy Hendrix e ouvia imenso Led Zeppelin, e por aí fora. A certa altura perguntámo-nos pelo significado do que estávamos a fazer, e foi aí que surgiu a essência de Salto, o núcleo musical do nosso trabalho. 

Mas menos a nível de género e mais de localização e oportunidades..

GTR - Não vejo a distância como um problema. Acho que estamos cada vez mais perto do que há uns anos atrás, a internet possibilita uma série de coisas a nível de entrevistas por exemplo, tudo vai funcionando. Não vejo grande motivo para nos queixarmos, a indústria foi-se organizando de uma maneira própria, também houve pessoas a trabalhar para isso. As bandas também se têm de se organizar para contribuir para a descentralização da indústria, até porque não podemos tirar o mérito das pessoas que criaram tantas rádios em Lisboa, por aí. Podes ter pena do Norte não ter tantas rádios, e isso sente-se um bocado, principalmente de música do século XXI. Muitas ainda tocam músicas mais antigas, mais da massa popular, e muita música internacional. Em Lisboa, sente-se mais a presença das bandas portuguesas na rádio. Mas começa a mudar, o panorama no Porto, a nível das oportunidades tem havido um esforço grande. Até dos organizadores de festivais, com o Vodafone Mexefest, o Primavera Sound, Guimarães Capital Europeia da Cultura. 

LM - Há sempre um ligeiro desfasamento já que a cidade do Porto é um pouco mais pequena. Lisboa é maior e a procura segue esse caminho, é normal. O equilíbrio é uma coisa rara, andas sempre a puxar de um lado e de outro. 

GTR - É bom que haja mais coisas a acontecer no Porto, e com isso, o público vai estar mais incentivado a participar, assim como as rádios, novas e antigas. 

Já pensaram em encarar Salto como um set de DJ a 100%?

GTR - Vamos actuar numa discoteca em Setembro, um DJ Set com o nosso nome. Nós gostamos dessa parte! Diz-nos muito, além de que a música de dança também tem a sua forte influência em nós e conhecemos alguns DJ's do Porto. 

LM - Digo mais, houve uma vez um evento na Red Bull Music Academy, no Lux, que mudou a minha vida. E foi nessa área!

Conheçam melhor a banda em:

https://www.facebook.com/saltopt
http://www.saltoedequemouvir.com/




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