Depois de construírem à sua volta uma grande expectativa, os Memória de Peixe lançaram finalmente este ano o seu disco de estreia, tendo como convidados especiais Catarina Salinas (Best Youth), Da Chick e Carlos Bica.
Miguel Nicolau e Nuno Oliveira são o duo por detrás deste projecto que reuniu 9 canções baseadas em fórmulas de construção e composição já experimentadas mas que ainda hoje em dia, quer em recantos mais pop ou mais rock, continuam a ser responsáveis por alguma música saudavelmente desprendida de um aparente destino final.
Os temas deste disco, por via da criação e recriação de vários loops em tempo real, são sempre resultado da estruturação de diversas camadas improvisadas. O desequilíbrio escaldante de tudo isto está na alma inata (power-)pop de todo o disco, sem esquecer o intrínseco math-rock. Como se o esquecimento fosse uma função matemática, a vivacidade e o tropicalismo catchy chegam também em camadas, em vagas como em "Dayjob" e em "Fish n' Chick", em marés como em "Estrela Morena" e "Fishtank" que têm demais força de puras e descontraídas canções.

Todos os 9 temas criam algum tipo de impressão: há certamente quem ache aqui alguma espécie de guitarras, assobios, vozes e ritmos aos quadradinhos, também haverá quem aqui encontre por várias vezes a anarquia da simplicidade charmosa, corrente, capaz de despoletar emoções recompensadoras que se atiram com graça a recordações vãs e inconsequentes e se ajustam à sua própria procura libertária de sobrevivência e relevância, características quase sempre necessárias para que cada passo intermédio num tema não seja em si analisado como um fim, aí completamente previsível e imaturo.
De que se lembra um peixe? Talvez que para respirar, também vai engolir água. Os Memória de Peixe são a resposta a pensar nesse tempo seguinte, aquilo que se procura quando se ouve cada vez mais música.
André Gomes de Abreu
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