Inqualificáveis, por terem demasiadas influências e estilos diferentes num só album, dos rítmos anglo-saxónicos à música lusófona, passando por géneros mais incisivos como o Grunge ou o Metal, dizem-se fãs dos Sonic Youth, de Ghinzu, de Nirvana, enquanto o vocalista realça Madredeus, Zéca Afonso mas sobretudo Caetano Veloso cuja obra aprecia particularmente.
A verdade é que, ao vivo, as músicas são aceleradas, tocadas num rítmo frenético que deixa no ouvinte uma sensação de frustração, a chorar por mais : sem interrupções, o público acompanha os concertos sem refletir, deixando as análises musicais para a escuta do álbum em casa. Já de regresso a casa, podemos passar para a análise : do indie-rock puro de Brother, às baladas românticas Tender ou Silent and Sweet, passando por períodos roçando com o Metal, como em Bandruptucy, onde o cantor até experimenta uns screams, a banda parece querer sair do rótulo dos álbuns precedentes e sobretudo, não cair no erro de se tornar “numa banda de apenas uma só música”, a que os revelou perante o público, “Toyboy”.
Primeiro som, o memorável Brother: guitarras saturadas, próximas do Grunge, ornamentadas com uma voz digna de Prince. Escuro, sombrio, o tema evoca as incertezas do amanhã, do simples fim de uma relação amorosa aos problemas ligados à carreira de um artista, do auge do sucesso nos palcos até aos momentos mais deprimentes, da solidão que representa o regresso a casa, só. Ruptura : chega Let’s go, que se aproxima mais das sonoridades inglesas, um refrão à Artic Monkeys mais noisy, um som mais convidativo. Com Fred Mercure -não sem lembrar a voz do mítico cantor dos Queens- a música perde alguma gravidade, é mais pop, festiva, e podia ser uma música-hino de uma fase bem feliz de uma série americana. September lembra os Keane, mais brit-pop, voz aguda no ponto mais alto, refrão mais rock Old School, sarapintado com um pouco de Disco e de Funk, uma das músicas menos conseguida do álbum.
Chegamos a Tender, uma balada pura e simples, escrita por uma mulher (e isso sente-se). Talvez tenha sido por isso que os Stucks nunca tinham ousado escrever uma balada antes: precisavam de uma sensibildade feminina para dar mais crédito, emoção, e sair do estereótipo da balada escrita por um “machista”. Em Bandruptucy, ouvímos influências mais teenage : 30 Seconds to Mars no início, voz não longe de Jared Leto, riffs e screams lembrando No More Sorrow dos Linkin Park, e final caótico à System of a Down (bateria rapidíssima). Em Criminal, o lado mais negro do grupo regressa, num seguimento perfeito ao de Bandruptucy, a voz de José Reis Fontão é lenta, aguda como sempre. Depois, temos Who’s the guy, lembrando outra vez os Keane e a brit-pop. Pursuit tem sotaque dos The Darkness e de Fredy Mercury enquanto My Life lembra um tema dos Grey Daze, “Drag”, antiga banda de Chester Bennington. Silent and Sweet é a segunda balada, um tema mais adaptado para passar nas rádios francesas. I Told U apresenta um leque de estílos dos mais variados : ska/punk rock primário enquanto Purple faz-nos regressar ao Metal à antiga, parecendo que o grupo tem uns 90 anos mas com menos álcool/nicotina/droga no corpo. Ghost é uma balada instrumental, triste, melancólica, lembrando os momentos mais negros e deprimentes dos álbuns precedentes.
A terapia parece ter funcionado com os Stucks: esquecidos os problemas da adolescência e do emsimesmismo, Pursuit é um álbum muito menos deprimente, mais maduro, mesmo que seja por vezes percetível a recaída. Numa entrevista para Les Inrockuptibles, os Stucks explicaram o porquê de toda esta ousadia, do facto de Pursuit ter ao mesmo tempo aquilo que nenhum álbum Stuckense teve no passado e tudo aquilo que sempre caraterizou a banda: “Éramos fortes na energia mas não assumíamos muito a subtilidade”.
Graças ao sucesso e a uma tournée em toda a França, a banda convenceu e já tem data marcada para um primeiro concerto na sala mítica do Olympia de Paris, no dia 20 de Outubro.
Talvez seja este o tempo acertado para o cantor dar um primeiro concerto em terras portuguesas, onde sempre sonhou atuar. Natural do Fundão e de Melgaço, José Reis Fontão apontou como meta principal a participação no Festival do Sudoeste. Para ele, “a música que cria reflete a pessoa que ele é: é uma parte dele. Nem portuguesa nem francesa. Estamos no íntimo de uma pessoa”.
Talvez seja este o tempo acertado para o cantor dar um primeiro concerto em terras portuguesas, onde sempre sonhou atuar. Natural do Fundão e de Melgaço, José Reis Fontão apontou como meta principal a participação no Festival do Sudoeste. Para ele, “a música que cria reflete a pessoa que ele é: é uma parte dele. Nem portuguesa nem francesa. Estamos no íntimo de uma pessoa”.
Verdadeiro cinéfilo (estudou cinema), a música e o palco são para José Reis Fontão uma espécie de espaço intermediário, um espaço fronteiriço onde um cameleão como ele é consegue reencontrar-se.
Mickael C. de Oliveira
Mickael C. de Oliveira
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