quinta-feira, 26 de julho de 2012

LÁ FORA, CÁ DENTRO #1 - Stuck In The Sound - "Pursuit"

Formado em 2002 em Montreuil, nos subúrbios parisienses, o grupo francês Stuck In The Sound participou em 2005 no Festival CQFD organizado pela famosa revista francesa Les Inrockuptibles, alcançando desta forma alguma notoriedade. Composto por Emmanuel Barichasse (guitarrista), Arno Bordas (baixista), François Ernie (baterista), e liderado pelo carismático luso-francês José Reis Fontão (guitarrista e vocalista), sempre de capuz, o grupo editou em 2006 o seu primeiro álbum : Never Mind The Living Dead.  

Inqualificáveis, por terem demasiadas influências e estilos diferentes num só album, dos rítmos anglo-saxónicos à música lusófona, passando por géneros mais incisivos como o Grunge ou o Metal, dizem-se fãs dos Sonic Youth, de Ghinzu, de Nirvana, enquanto o vocalista realça Madredeus, Zéca Afonso mas sobretudo Caetano Veloso cuja obra aprecia particularmente.
Foi durante o Festival Solidays de 2007, em Paris, que o grupo começou a partilhar com o público a sua energia e hiperatividade. Enquanto a conhecida banda Sum 41 atuava no palco principal, os Stuck conseguiram atrair um novo público, graças à força da voz aguda do luso-francês e das guitarras violentas. Em 2009, Shoegazing Kids (produzido pelo produtor dos Sonic Youth) e a consequente tournée assinalaram o regresso da banda aos palcos nacionais. O álbum foi aclamado pela crítica francesa. Em 2012, o terceiro álbum Pursuit  marcou um ponto de viragem, sublinhando os dez anos de um dos melhores grupos de indie-rock francês. Infelizmente, alguns álbuns nem sempre exemplificam a força de um grupo, e esta banda é uma das que demonstra melhor qualidade ao vivo.

A verdade é que, ao vivo, as músicas são aceleradas, tocadas num rítmo frenético que deixa no ouvinte uma sensação de frustração, a chorar por mais : sem interrupções, o público acompanha os concertos sem refletir, deixando as análises musicais para a escuta do álbum em casa. Já de regresso a casa, podemos passar para a análise : do indie-rock puro de Brother, às baladas românticas Tender ou Silent and Sweet, passando por períodos roçando com o Metal, como em Bandruptucy, onde o cantor até experimenta uns  screams, a banda parece querer sair do rótulo dos álbuns precedentes e sobretudo, não cair no erro de se tornar “numa banda de apenas uma só música”, a que os revelou perante o público, Toyboy”.

Primeiro som, o memorável Brother: guitarras saturadas, próximas do Grunge, ornamentadas com uma voz digna de Prince. Escuro, sombrio, o tema evoca as incertezas do amanhã, do simples fim de uma relação amorosa aos problemas ligados à carreira de um artista, do auge do sucesso nos palcos até aos momentos mais deprimentes, da solidão que representa o regresso a casa, só. Ruptura : chega Let’s go, que se aproxima mais das sonoridades inglesas, um refrão à Artic Monkeys mais noisy, um som mais convidativo. Com Fred Mercure -não sem lembrar a voz do mítico cantor dos Queens- a música perde alguma gravidade,  é mais pop, festiva, e podia ser uma música-hino de uma fase bem feliz de uma série americana. September lembra os Keane, mais brit-pop, voz aguda no ponto mais alto, refrão mais rock Old School, sarapintado com um pouco de Disco e de Funk, uma das músicas menos conseguida do álbum. 
Chegamos a Tender, uma balada pura e simples, escrita por uma mulher (e isso sente-se). Talvez tenha sido por isso que os Stucks nunca tinham ousado escrever uma balada antes: precisavam de uma sensibildade feminina para dar mais crédito, emoção, e sair do estereótipo da balada escrita por um “machista”. Em Bandruptucy, ouvímos influências mais teenage : 30 Seconds to Mars no início, voz não longe de Jared Leto, riffs e screams lembrando No More Sorrow dos Linkin Park, e final caótico à System of a Down (bateria rapidíssima). Em Criminal, o lado mais negro do grupo regressa, num seguimento perfeito ao de Bandruptucy, a voz de José Reis Fontão é lenta, aguda como sempre. Depois, temos Who’s the guy, lembrando outra vez os Keane e a brit-pop. Pursuit tem sotaque dos The Darkness e de Fredy Mercury enquanto My Life lembra um tema dos Grey Daze, “Drag”, antiga banda de Chester Bennington. Silent and Sweet é a segunda balada, um tema mais adaptado para passar nas rádios francesas. I Told U apresenta um leque de estílos dos mais variados : ska/punk rock primário enquanto Purple faz-nos regressar ao Metal à antiga, parecendo que o grupo tem uns 90 anos mas com menos álcool/nicotina/droga no corpo. Ghost é uma balada instrumental, triste, melancólica, lembrando os momentos mais negros e deprimentes dos álbuns precedentes.

A terapia parece ter funcionado com os Stucks: esquecidos os problemas da adolescência e do emsimesmismo, Pursuit é um álbum muito menos deprimente, mais maduro, mesmo que seja por vezes percetível a recaída. Numa entrevista para Les Inrockuptibles, os Stucks explicaram o porquê de toda esta ousadia, do facto de Pursuit ter ao mesmo tempo aquilo que nenhum álbum Stuckense teve no passado e tudo aquilo que sempre caraterizou a banda: “Éramos fortes na energia mas não assumíamos muito a subtilidade”.
Graças ao sucesso e a uma tournée em toda a França, a banda convenceu e já tem data marcada para um primeiro concerto na sala mítica do Olympia de Paris, no dia 20 de Outubro.
Talvez seja este o tempo acertado para o cantor dar um primeiro concerto em terras portuguesas, onde sempre sonhou atuar. Natural do Fundão e de Melgaço, José Reis Fontão apontou como meta principal a participação no Festival do Sudoeste. Para ele, “a música que cria reflete a pessoa que ele é: é uma parte dele. Nem portuguesa nem francesa. Estamos no íntimo de uma pessoa”.

Verdadeiro cinéfilo (estudou cinema), a música e o palco são para José Reis Fontão uma espécie de espaço intermediário, um espaço fronteiriço onde um cameleão como ele é consegue reencontrar-se.

Mickael C. de Oliveira




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