quarta-feira, 25 de julho de 2012

B Fachada - Criôlo


B Fachada é um cantautor português que dispensa qualquer tipo de apresentações. Tendo lançado o seu primeiro registo em 2007, com o EP Até Toboso, o músico lisboeta tem cavalgado a um ritmo estonteante e inquebrável, contado com o lançamento, até à data, de onze registos, repartidos por EP’s e LP’s. Fiel à sua promessa de lançar “dois discos por ano”, é com Criôlo, e em pleno verão, que nos faz chegar o seu primeiro disco do ano.

B Fachada é um dos meus artistas favoritos, pelo que quando sou desafiado a falar dele todas as palavras me parecem poucas e inhenhas. Na minha modesta opinião, creio em Bernardo Fachada o melhor músico português da sua geração. Dotado de uma escrita exímia, com um sentido artístico bastante invulgar apetrechado por uma sapiência como, por cá, nunca se viu, o “Tio B” reinventa-se a cada registo, mostrando uma coragem e ousadia extraordinárias.

Criôlo não é um caso à parte, e foge a qualquer linha tendencial edificada por Fachada. Depois do ano d’ouro de 2011, onde B Fachada nos brindou com o épico Deus, Pátria e Família e com o seu segundo homónimo, B Fachada (2011), as expectativas estavam no topo e esperava-se muito para este seu primeiro disco do ano.

O décimo primeiro registo lançado pelo cantautor lisboeta chega-nos embalado pelo ritmo do verão. Reinventando-se uma vez mais, Bernardo despe-se no calor de uma sonoridade abrasada pelos ritmos e toques africanos (daí a razão para este álbum se chamar Criôlo). Aqui, são esquecidas as melodias de piano que inundaram o seu anterior registo, B Fachada (2011), os toques meios psicadélicos a que Fachada tanto nos habituou, entre muitas outras coisas. Aqui nasce, e pela décima primeira vez, um novo Bernardo Fachada. Trata-se de um Bernardo mais rítmico, vibrante, caloroso e, sobretudo, um Bernardo mais dançante e alegre. Comburido por uma Dance Pop muitíssimo bem elaborada, o ritmo e a sonoridade de Criôlo têm génese junto dos sintetizadores e beats mui pujantes, fazendo deste registo o mais eletrónico com que Bernardo Fachada alguma vez nos brindou.

Liricamente, é mantida a fieldade e o “compromisso” de Fachada: apesar da componente instrumental ter sido totalmente renovada, a vertente lírica converge com aquilo que a mestria de Bernardo nos tem aclimado. Creio que em cada registo, B Fachada procura unicamente apaziguar os seus sentimentos e extravasar tudo o que nele existe através da criação de um eu poético, que é sempre o mesmo mas que nos vai mostrando novas episódios a cada registo. Idealizam-se hipotéticos tempos e espaços e contam-se histórias de uma maneira inequivocamente exímia e este, o registo lírico, é um dos pontos que cimentam B Fachada como um dos melhores músicos que Portugal já conheceu. Aqui, em Criôlo, os lirismos arquitectados pelo engenho de Bernardo perdem o seu elevado grau de nostalgia, melancolia, apatia e perdem, também, algum brilhantismo e dão asas a alguma boa disposição e a pequenos aromas de ironia, como está patenteado na faixa que abre o álbum, a alegre Afro-Xula, que criam uma simbiose com a sonoridade bastante interessante e bem conseguida.

Na hora de assinalar os pontos menos bons de Criôlo, devo referir as faixas 98 e É normal, a falta de alguma coesão ao longo deste registo – e, aqui, dou como exemplo a faixa BelaDona, que é uma bela faixa, repleta de toques psicadélicos e de um B Fachada mais sentimental, mas que não se enquadra minimamente na temática de Criôlo (enquadrar-se-ia perfeitamente em, por exemplo, B Fachada 2011) – e, também, alguma mesmice ao longo deste LP. Factores que, em meu ver, desdouram um pouco a frescura de Criôlo. Contudo, todos os defeitos do novo disco de B Fachada são aniquilados quando ouvimos faixas como Quem quer fumar com o B Fachada, Como calha ou Afro-Xula.

Em compêndio, Criôlo traz-nos a música constantemente renovada e idiossincrática a que Bernardo Fachada nos tem acostumado. Apesar de não conseguir suplantar ou igualar a qualidade de alguns dos seus antecessores como, por exemplo, os seus dois homónimos e o EP Deus, Pátria e Família, o 11º registo do cantautor lisboeta é um álbum que transpira qualidade. Tendo novamente inovado na sua música, B Fachada convida-nos a dar um passo de dança ao ritmo simultaneamente caloroso e fresco de Criôlo, um álbum salubre e bem conseguido, que descinge, uma vez mais, os horizontes musicais daquele que é já um marco na música portuguesa e que incrassa, ainda mais, a qualidade sublime deste cantautor.
O estro de Bernardo Fachada parece não querer esvair-se e, ainda este ano, poderemos gaudiar-nos novamente com a graciosidade do lisboeta. Será, segundo a promessa, durante o inverno e a ansiedade, essa, já é muita. Com o selo de qualidade já inerente à sua figura, creio num inverno menos frio, comburido pela quentura do futuro disco de B Fachada. Até lá, resta-me dançar e menear as coxas incessantemente ao ritmo da frescura concitante deste Criôlo.


Nota Final: 8.3/10


Emanuel Graça




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