segunda-feira, 4 de junho de 2012

Corsage - Música Bipolar Portuguesa



Os Corsage são um quinteto orgulhosamente lisboeta e português, algo que transparece ao longo de todos os temas de "Música Bipolar Portuguesa", o terceiro disco de originais da banda de Henrique Amoroso, Nuno Castêdo, Pedro Temporão, Nuno Damião e Carlos António Santos que conta com a colaboração vocal em algumas canções de Selma Uamusse (Wraygunn).

Depois de "Finito L' Amore", os Corsage constroem novamente um disco de puro encantamento e sedução onde envoltos em belíssimas letras e uma instrumentação altamente trabalhada, estão pormenores e detalhes que fazem de canções tais como "Nietzche Sushi Fashion Victim", "Joana é Autista", "Chuva no meu Verão", Menina de Lisboa" ou "Uterotopia" perfeitos arguidos que exigem com toda a sua culpa um botão replay sem fadiga. Tal como na própria cidade de Lisboa, existe um sentido muito próprio e rico da cosmopolis no CD, havendo referências a acontecimentos históricos, a cidades e culturas estrangeiras e a cenas do dia-a-dia que são descritas com a atenção e observação apenas tradicionais de escritores e obras ilustres. Um bouquet, um corsage que em certos momentos é instilado de vida pelas ideologias da ironia e do contraste, uma chamada de longo alcance de Morrissey a banhos na sua própria personalidade.


Mais do que bipolar, o disco é uma constante reunião de várias maneiras de atingir uma mise-en-scène da pop dos anos 80 e 90 de origem anglo-saxónica e também portuguesa, numa congelação perfeita dos GNR que ouvíamos, dos Divine Comedy que vamos ouvindo, dos Belle & Sebastian e Spiritualized que facilmente nos encantam. Mas pop com imaginação e introspecção, vulgar mas não vulgarizada, com análise, algum chiste e sem impaciência pela emancipação. 

Se ao observarmos a capa deste disco podemos pensar numa imagética metafórica para um sem-número de situações sem futuro em Portugal e no resto do Mundo, já a música que se ouve dá claros sinais da jovialidade de um conceito antigo: a invencibilidade da melodia. Um dos discos do ano que poderá ser alvo de desatenção demagógica.


André Gomes de Abreu




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