quarta-feira, 6 de junho de 2012

Booster - ENTREVISTA

Conversámos com os Booster na sua sala de ensaio. Fiquem a saber mais sobre a banda que está a homenagear a música portuguesa de uma forma bem original!

Para quem não conhece os Booster, falem um pouco sobre vocês.

Paulo Pereira - Os Booster são uma banda que se formou há 4 anos, que tem o espírito do rock, ainda à antiga. Basicamente aquilo que nós fazemos é explorar todas as vertentes do rock, embora cantado em português. 

Rui Gomes - Temos influências mas não temos um horizonte musical definido. Dentro da banda, as influências variam de membro para membro, o que é bom, traz perspectivas musicais diferentes e aproveitamos isso tudo para ir compondo. 

Quando começaram a tocar e ensaiar juntos, e a delinear as bases para o que viria a ser o vosso primeiro álbum (Conceito), já tinham em mente que a sonoridade e que a ideia viria a ser esta?

PP - Os Booster antes de chegarem ao conceito têm três trabalhos anteriores: uma maquete em 2008, que foi feita início do nosso percurso, ainda sem a formação definida, um EP, em 2009, que nos permitiu fazer várias coisas, entre elas ir à festa do Avante!, além de outros 19 concertos que demos nesse ano. Depois fizemos um single e tivemos a maturar tudo: antes destes temas do álbum serem gravados, foram bastante tocados ao vivo, à excepção de 4 ou 5. Para o álbum, vimos o que funcionava e metemos alguns temas que ninguém conheciam, mas que já andávamos a trabalhar há algum tempo. 

O Conceito é uma mudança na banda ou fruto do trabalho acumulado?

PP - É um fechar de um ciclo de 3 anos, que foi maturado e rodado ao vivo. 

Porquê um álbum dedicado à música portuguesa dos anos 80 e 90?

PP - Em todas as bandas em que estive, cantei em português. E sempre admirei as bandas que o fizeram, que me faziam sentir a mensagem que estavam a passar. Como uma vez o Tó Trips (Dead Combo) disse, numa entrevista que lhe fiz há uns 10 anos, "Nós amamos, cantamos e odiamos em português". Esta frase sempre me acompanhou em tudo o que tenho feito. Já que estamos a fazer algo de que gostamos, ao menos que os outros o percebam. Não temos nada contra as bandas que cantam em inglês, no entanto. Essa homenagem que fazemos acontece porque todas essas bandas, desde miúdo, me fizeram querer pegar numa guitarra e fazer alguma coisa. 

RG - Essa intenção também foi inserida no álbum porque, regra geral, não costumamos desperdiçar músicas ao ponto delas serem vazias e não carregarem qualquer tipo de mensagem. Não nos podemos dar a esse luxo, nos tempos que correm! Gostamos que os temas tenham sempre uma carga que possas transmitir às pessoas, nenhum está lá por acaso ou para encher. Até porque temos alguma riqueza a nível de composição, temos mais ideias do que o tempo que temos para as trabalhar, e tem sido cada vez mais assim. A banda tem um entrosamento cada vez maior, e isso faz com que as coisas corram muito bem, conseguimos ter muitas ideias. Não tarda, teremos o próximo álbum pronto, sem a imposição de ter de fazer músicas para esse álbum. 

PP - Já estamos até a tocar alguns temas ao vivo, do próximo álbum. 
Quais as diferenças entre o Conceito e o próximo trabalho?

PP - Acho que em todas as bandas há uma evolução. Se ouvires o EP de 2009 e ouvires o Conceito de 2012, ela existe. Quem faz uma comparação dos temas de um para o outro, principalmente quem nos acompanha regularmente, diz que houve uma grande evolução. Comparando as músicas do Conceito e das seis que já temos preparadas para o próximo álbum, há diferenças. Por ventura já não é um rock tão directo.  

RG - Acho que nós não fazemos um esforço, felizmente, para seguirmos uma tendência para o próximo álbum, será algo que fluirá naturalmente, pelo caminho que tiver que ir. Não somos iguais ao que éramos em 2009 ou quando gravámos o álbum. 

PP - Tínhamos acabado de gravar o primeiro EP (O Teu Bem Faz-me Mal) quanto o Sandro (Teixeira, baixista) entrou para os Booster, e apanhou a promoção do mesmo. O Guilherme (Pimenta, Baterista) entrou, há dois anos, e passado duas semanas gravámos um single. Sempre que temos uma troca de um elemento, acontece algo de relevante.. isso também contribui para a evolução. Nós trabalhamos sempre por objectivos: agora estamos a fazer a promoção do álbum, mas já estamos a pensar no video do segundo single e a preparar o segundo álbum. Há bandas que estão dois anos a promover um disco, e não compõem nesse tempo, não fazem nada mais, e nós percebemos que as coisas resultam melhor se não fizeres isso. 

RG - E ganhas tempo, todos os processos de promoção têm um princípio e um fim. Nós tentamos fazer "render o peixe", dentro do possível, mas não queremos arrastar esse processo a um ponto que já não diga nada a ninguém. Por isso, fazemos questão de estar sempre a preparar trabalho. 

Fazer rock em português é difícil? Porque é que não há muitas bandas em Portugal a fazê-lo?

PP - Noutro dia estava a ouvir uma entrevista, e ele dizia, e é verdade, que nos últimos 5 anos não houve muitas bandas que tenham mesmo ficado com solidez e consistência, ou feito uma carreira de 4, 5 anos. Havia um bom exemplo, que era Os Golpes, mas entretanto acabaram. É difícil as bandas rock fazerem uma carreira e darem-lhe continuidade porque não existe uma aposta nessa área. É muito difícil meter as nossas canções a tocar nas rádios mais conhecidas. Outro tipo de bandas se calhar tem uma maior possibilidade de ver isso acontecer, mas é um caminho que se tem que desbravar e não podemos baixar os braços. Nós queremos dar continuidade ao nosso trabalho, já cá estamos há 4 anos, gravámos agora um álbum, mas mesmo que não cheguemos às rádios vamos continuar a fazer o nosso trabalho e aquilo que gostamos. Por vezes, as bandas sentem uma certa desmotivação. Uma banda que lançou agora um grande disco, e que nós fomos ao lançamento, foram os Gazua, no Musicbox. Vês a malta daquele meio lá, mas não sai muito dessa esfera. 

RG - Há muitas bandas agora que são mais alternativas, por opção ou vocação, nos anos 80 houve um boom de bandas de rock mas agora é um pouco diferente. Eu gosto de muitos estilos, e acho que o rock é uma excelente base para tu fazeres mil e uma coisas. E mesmo a cena alternativa tem sempre um pouco de rock, que é um género incontornável e que, por mais que fujas, tens sempre algo do rock na música. 

O que é que vos têm dito do álbum em si e dos vossos concertos?

PP - O feedback tem estado a ser bom, têm dito que foi uma ideia bastante ousada, o conceito do conceito, passe a expressão, a de recriar quatro capas de álbuns históricos do rock português. Até agora, acho que isso não tinha acontecido. Algumas pessoas, incluindo os que nós recriámos nas fotos, referiram essa ousadia. A capa dos Taxi não é conhecida por muita gente, nem o próprio disco, nem sabe que banda é essa. Quanto às músicas em si, dizem-nos que é um disco 200% rock'n'roll. 

RG - Tem havido bom feedback, mas depois há aquele feedback estranho, nem bom nem mau, mas que passa um pouco pela interpretação e gosto de quem ouve, estamos sempre sujeitos a isso. Já li coisas sobre o álbum em que eu não me revejo e que não identifico nada da banda em nenhuma delas. Mas a reacção tem sido boa. Principalmente pelo álbum ter conteúdo, sendo que há muitos discos que pouco têm para lá da música ou da imagem do álbum em si.  

PP - Além da homenagem ao rock português, o que nós quisemos fazer com este trabalho foi também recriar o que era antigamente o vinil. Hoje, todos fazem downloads e as coisas são mais impessoais. Nós quisemos dar mesmo algum conteúdo ao disco. Eu quando comprava vinis antigamente, ouvia o disco e ao mesmo tempo admirava todo o artwork, e também fazia isso com os cd's, ainda hoje faço isso. Aliás, todas as entrevistas que temos dado para as rádios tiveram essa referência como base, principalmente o pessoal que recebe muitos cd's, que perde mesmo algum tempo a olhar para o nosso álbum. 

RG - Juntando o conteúdo global do disco, visual e sonoro, acho que se tem ali alguma coisa de relevante. 
Escolheram um nome inglês para uma banda que canta em português e que homenageia a música portuguesa. 

PP - Fizemos uma lista de nomes e o primeiro nome a ser escolhido era em português e era "Iguana", mas depois descobrimos outra banda com esse nome. Trocámos mails, tínhamos uma lista enorme, e acabou por ficar Booster. É um nome de um pedal, representa força. Foi mais por ser fácil de dizer, por soar bem. 

RG - Não nos preocupou muito a palavra ser inglesa.. 

Houve uma vaga inicial de bandas a surgir em Portugal, nos anos 80, e agora está a surgir uma nova vaga de músicos e bandas portuguesas, que começou há coisa de 5, 6 anos atrás. Porque terá acontecido isto, tendo havido quase um "gap" ali no meio?

RG - Há aqui questões para além da música e que explicam algumas coisas relacionadas com isso. No primeiro boom, havia singles e álbuns a sair com imensa regularidade, de mil e uma bandas, e havia um mercado inteiro para explorar, para vários géneros musicais, o país estava aberto para isso. Nesta vaga isso já não se verifica, e talvez tenha sido essa evolução que nos trouxe até aqui. O nosso álbum não é só uma homenagem, também é um apelo, para que todos se lembrem que isto já correu bem, e já foi bom para todos no meio, seja imprensa, editoras ou os músicos, talvez porque estavam todos um pouco mais unidos. Essa hegemonia está agora a voltar, mas de uma forma mais underground, menos mainstream do que o que havia antes. Até estranho esse interregno porque Portugal sempre teve bons músicos e boas ideias. Se calhar fomos um pouco esmagados pela música que vinha de fora, ou outra razão que me escapa.. Algo que não se fazia nos anos 80 e que se faz agora é a fusão musical, e no meu entender essa tem sido uma das alavancas desta vaga de bandas, a mistura de dois ou mais géneros musicais, sem se prenderem às suas características primitivas. Não se está a inventar nenhum estilo novo mas está-se a dar uma roupagem diferente ao que estamos habituados a ouvir, tanto do fado e da música tradicional como do rock. 

Depois de todas estas mudanças, ainda há espaço para gostar do rock mais clássico, principalmente para quem não esteve presente no seu lançamento nos anos 70 e 80? 

RG - É um desafio para quem ouve e para quem faz a música, como nós. Principalmente nos temas que temos trabalhado, não ficámos colados ao que já tínhamos feito, apesar do historial e de tudo o que nos influenciou. Tentamos sempre caminhos diferentes, e tentamos criar o nosso cunho. Podes ser inovador e trabalhar nesse sentido, ou se tiveres uma banda com o mínimo de criatividade, vai-se chegando aí. É esse cunho, todo esse processo, que nos faz largar um pouco as raízes. 


Digam-nos bandas portuguesas que admirem, desta vaga mais recente. 

PP - Os diabo na Cruz, os Capitão Fausto, os Gazua, que já vão no quarto álbum. 

RG - Dead Combo, apesar de não ser novo. Mundo Cão também, entre tantos outros, bemdito boom..


Quais são os próximos passos dos Booster?

PP - Estamos a planear o próximo videoclip, do segundo single. Vamos promover este álbum ao máximo! Fizemos uma boa senda de showcases, e vamos tendo mais por fazer, e queremos tocar o álbum em formato eléctrico na sua máxima força. Os concertos têm-se centrado no Conceito mas têm sempre duas ou três músicas novas do próximo registo, para ganhar rodagem, para também vermos o que resulta, até porque há algumas músicas que já deixámos de lado. 

Duarte Azevedo




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