domingo, 13 de maio de 2012

Rock Factory - Reportagem

Sábado à noite, dia 12, foi dia de reavivar memórias de grandes concertos no Paradise Garage com o “Rock Factory”, evento organizado pela La Dolce Productions. Com um calor típico de época de festivais, um Paradise Garage completamente renovado recebeu bandas e DJ’s que mostraram à sua maneira o que é a sua ideia própria de rock.

A noite começou já um pouco depois da hora marcada, 23h45, com os Best Youth. Catarina Salinas e Ed Gonçalves subiram a palco com Nuno Sarafa, baterista que foi um precioso apoio para que o trio em palco pudesse salientar as qualidades da dupla robusta de Catarina na voz e Ed na guitarra e teclados. Canções como “Too Kind To Mind” e “Shouts” foram atraindo o público que começava a encher a sala e a entrar no onirismo pop sem ressaca dos Best Youth. “Winterlies”, o EP de 2011, foi picado nas alturas certas, entrelaçando-se com suavidade com temas novos, qualidade que aliada a um profundo sentido de coesão em todo o repertório justifica perfeitamente o crescente impacto e interesse que os Best Youth provocam. Pelo meio, altura de uma pequena revolução em “Don’t Worry Baby”, original dos Beach Boys que os Best Youth tomariam facilmente como seu se não conhecêssemos a canção. Para terminar, um dos novos temas, “Shifting Plates”, deixando um sentimento de pura intrepidez, aquela que diz e afirma que Catarina é a “madame fatale” de um projecto que é urgente colocar nos ouvidos de toda a gente. Aí sim, tal como ontem, valerá a pena, se a alma não for pequena. Ed Gonçalves lembrou um concerto dos Mars Volta que tinha visto nesta sala, queremos mais dos Best Youth em qualquer sala.

Maria e Júlia Reis formam as Pega Monstro, o projecto que entrou em palco pouco depois para dar continuidade à boa noite. Em 2012, o disco de estreia que lançaram é uma verdadeira odisseia colante à pele como uns jeans que usamos porque não queremos usar mais nada diferente. Ontem não parecia fácil – também porque Maria estava adoentada – mas nada parou as Pega Monstro de impressionar a audiência que permaneceu atenta ao que se passava em palco. Começando com “Suggah” e relembrando “Sugar Hiccup” das Cocteau Twins, a beleza imperfeita de alta-fidelidade da dupla não parou de fabricar à base de muito suor instrumentais lo-fi rock de franca mais-valia e coros que não ficavam atrás. Houve tempo para ouvirmos do novo disco “Não te metas comigo, Bro”, “Pall Mall”, “Dom Docas”, “Homosec”, “Homem das Obras” e a delirante “Afta” e passarmos pela inultrapassável “Paredes de Coura” do EP anterior, antes de Maria estender o tapete para a final “Fetra”, já com a voz gasta. Quanto à atitude, impressionante. Quanto à música, e para quem duvida: não vale a pena rejeitar à primeira o que no fim vais acabar por amar. E não consegui agradecer o suficiente a demonstração animalesca de poder que presenciei de Júlia na bateria.
A última banda da noite era os Youthless. Sebastiano Ferranti e Alex Klimovitsky actuaram para uma sala já mais perto da sua lotação total, concretizando ameaças de fazer vibrar o ar ofegante que se respirava. Dentro de uma cadência imparável, a dupla atirou-se logo desde a inicial “Golden Spoon” a temas do seu EP "Telemachy" e a alguns temas novos que inspiraram a plateia a dar o corpo aos riffs enérgicos a recordar heranças rock mais antigas, ao drumming festivo e às letras de ordem, só interrompidos por agradecimentos às bandas que os antecederam no palco e a instigações à festa e a deambulações pelas traves em torno e em cima do palco.


“Golden Age”, “Good Hunters”, “Monsta”, “The Beasts”, “La Moustache” e as versões de “This Must Be The Place”, dos Talking Heads, e de “Heart Attack Man”, dos Beastie Boys (a relembrar o falecido Adam Yauch) ajudaram a demonstrar que não é preciso procurar muito para encontrar festins em modo rock de fracturar pernas e pescoços, a única maneira por vezes de ouvir e sentir melhor esta mistura de Death From Above 1979 e You Should Go Ahead.


Já para lá das 3 da manhã, era altura de apostar nos DJs que deram sequência à excelente selecção musical que animava os intervalos dos concertos anteriores. Sábado, 12 de Maio de 2012, o Paradise Garage usurpou de novo a música ao vivo, em tempos em que o que é criado por portugueses ascende ao paraíso das listas de músicas favoritas do povo que nem sempre lhes desbastara tanto assim a passagem.

TEXTO: André Gomes de Abreu

FOTOGRAFIAS: David Cachopo
(http://www.facebook.com/DavidCachopoFotografia)




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