quarta-feira, 16 de maio de 2012

Norton - ENTREVISTA

"Layers of Love United", o vosso último álbum, já saiu há algum tempo. Em que fase da sua divulgação está?

Rodolfo Matos - Estamos na fase final. Lançámos agora o terceiro single, por isso é que estamos a fazer mais uma ronda de promoção. Para nós é mesmo a última etapa na divulgação. Ainda queremos muito tocar este disco ao vivo, mas já estamos completamente a pensar no próximo trabalho, em fazê-lo. 

Os concertos que vêm aí ainda vão incidir sobre este último álbum?

Pedro Afonso - Sim, até porque não temos nenhum material novo pronto para ser tocado. Temos algumas coisas que já começámos a trabalhar, algum material apenas, sem termos ainda uma direcção definida. Temos versos, temos estrofes, temos pequenos riffs, mas as canções ainda não estão preparadas para o palco. Vai ser o que o Rodolfo disse, provavelmente até ao final do ano os concertos serão baseados no "Layers of Love United". 

Esperavam que o álbum fosse acolhido da forma que foi, antes de ele ser lançado? Era algo minimamente esperado? Pode-se dizer que teve, no mínimo, uma boa recepção..

P - Eu acho que teve óptimos feedbacks! 

R - No disco anterior, pensámos e falámos muito mais em como poderia o disco resultar. Com este foi, acima de tudo, fazer aquilo que queríamos mesmo fazer naquele momento. Agora está aqui e é o nosso melhor, e não tínhamos grandes expectativas. Fomos completamente surpreendidos com a reacção ao Two Points (primeiro single lançado) e com o seu êxito. 

Ainda por cima este álbum, e este single, foram os momentos mais altos, em termos de exposição, que vocês tiveram até hoje. 

R - Sim, sem dúvida. Teve maioritariamente a ver com o disco e com as canções do disco, mas houve uma preparação e uma equipa de pessoas que juntámos para trabalhar connosco, cujo tipo de colaboração não tínhamos tido nos discos anteriores. Isto a nível de promoção, a nível técnico e em aspectos musicais. Conseguimos criar uma pequena família de pessoas extra-banda, que fizeram toda a diferença e proporcionaram todo um suporte. Claro que tem mais a ver com as canções, mas este foi mesmo um suporte necessário para as lançar devidamente. A diferença nota-se porque para muita gente, este foi o nosso primeiro disco.

P - Exactamente. Eu acho que, mais que nunca e ao fim destes 10 anos, temos finalmente as pessoas certas junto a nós. Andávamos talvez à procura delas para se juntar à nossa família. Veio-nos completar, a banda acaba por ser mais além de quem está a tocar, é toda a equipa com quem se trabalha: no dia-a-dia, a nível técnico, na promoção, na estrada. Neste momento, estamos completamente tranquilos, não é uma relação meramente profissional, já passou disso. 
Manuel Simões - Este disco abriu-nos várias portas e isso está relacionado com a nossa postura em relação ao que queremos fazer, e como quisemos transmitir este trabalho, que foi pensado muito para os palcos. Essa vertente foi bem vincada e trabalhada com a nossa equipa. 

O disco foi o culminar destes últimos 10 anos ou foi fruto de uma atitude mais recente no vosso trabalho?

R - Nós chamamos-lhe um novo início. Muitos pensam que os Norton nasceram há dois anos ou algo do género, ou que este é o primeiro disco. Não foi algo pensando, mas por ventura era o que nós queríamos, era ter um novo começo. Mudou a voz da banda, o Alexandre saiu e o Pedro assumiu as vozes principais, mudou a sonoridade também, e era mesmo isso que nós pretendíamos: mudar a página e apresentar uma banda quase nova. 

Apesar desse recomeço, o que fica visível destes últimos 10 anos neste registo, musicalmente e quanto à vossa atitude enquanto grupo?

R - A união e a força que o disco tem. Infelizmente e felizmente, fomos uma banda que sofreu bastantes contratempos mas apesar disso conseguimos dar a volta por cima e ultrapassá-los. Se calhar, até passámos por algumas coisas que com outros teriam causado o fim da banda e que, sem saber bem como, saímos unidos desses pontos baixos e com vontade de continuar a fazer música. Ficou a união e o amor que nós temos pela música, em estar juntos. 

Qual foi a melhor coisa que já vos disseram sobre o LLU, concretamente?

P - Que é um disco que se ouve muito bem do princípio ao fim e que se ouve como um todo, que não é só uma canção ou um single, é coeso da primeira à última faixa. 

R - Foi uma preocupação que nós tivemos, isso foi intencional, e é bom perceber que foi algo captado por que ouviu e ouve os nossos temas. 

M - E com vontade de carregar no play outra vez. 

P - Houve quem escrevesse que hoje em dia já não se fazem discos assim. E acho que, apesar de não haver uma ligação directa entre cada música, ou pelo menos algo que seja visivelmente patente, há uma história no disco, o alinhamento do disco faz todo o sentido. E é algo que não é fácil de desenhar, essa sequência pela qual as músicas estão dispostas. Quando tens 9 músicas, tens de perceber a personalidade de cada uma, e penso que, por sorte ou intencional, isso foi bem conseguido, aplicar essa história no seguimento dos temas. 

Isto porque há sempre uma frase ou comentário que pode distinguir o vosso disco de outros existentes.

M - Nós dizemos sempre que somos melómanos, e que apreciamos um disco, e não apenas músicas sortidas, coisa que se tem perdido imenso na música. 

P - São as tendências de quem ouve música, hoje em dia estás com o iTunes aberto e tens aquilo em shuffle. 

M - Achámos que era bom manter este tipo de coisas para as novas gerações, que já crescem com músicas sortidas. 

P - Desde o início que optámos, com o material que tínhamos, em fazer um disco mais pequeno. 9 músicas não constituem um disco muito grande. Foi um pouco opcional, escolhemos material que realmente nos interessava, e não meter músicas sem razão nenhuma. Na fase de preparação do LLU, achámos que não fazia sentido. 

R - Podíamos ter metido mais três ou quatro músicas para corresponder ao formato habitual, mas depois acabavam por estar ali a mais. 

M - Acho que também é bom reconhecerem-nos além do primeiro single ("Two Points"). 

R - Tivemos de pensar as coisas de outra maneira assim que o "Two Points" começou a ter o sucesso que teve, porque era mesmo algo com que não contávamos. Não queríamos ser reconhecidos apenas por aquele tema, ser a banda daquela música. 
Que opiniões têm tido dos vossos concertos ao vivo? Têm sido paralelas às do disco, tendo em conta o que já ouviram sobre ele?

P - Acho que temos sido fiéis em relação aos discos que temos, nos nossos concertos. Neste caso temos uma vantagem aos discos anteriores: o disco é mesmo virado para as pessoas, quisemos fazer canções que construíssem uma ligação com quem ouvisse. Elas são muito mais up que nos outros álbuns, mais solarengas e alegres, e ganhamos por aí. 

R - Além de que o disco foi pensado para ser tocado ao vivo, quase mais do que propriamente no disco em si. Sentimos essa necessidade nos concertos.

Apesar do momento actual dos Norton ser provavelmente o melhor que a banda já passou, o que guardam de bom destes últimos 10 anos?

M - Temos uma tour em 2009 em que fomos pela Europa, entre Espanha, Alemanha, Holanda, França, Luxemburgo.. Foram duas semanas em que estivemos 24 sobre 24 horas juntos, e foi a concretização de um sonho, e esse sentimento reflecte-se um pouco no disco. O "United" não é por acaso que está no título. 

P - Houve também pequenas coisas que sempre quisemos fazer: trabalhámos na banda sonora de uma longa-metragem, um filme português chamado "Um Funeral à Chuva", tivemos a sorte de editar o "Kersche", o nosso disco de 2007, e o "Layers of Love United" no Japão, país onde queríamos, obviamente, ter o nosso disco editado.

Esta ligação no Japão surgiu como?

R - Foi pelo MySpace, nós não procurámos isso sequer, nem sabíamos como é que se poderia procurar. Recebemos um e-mail de uma editora japonesa que estava interessada em editar o "Kersche" no Japão. Este era para ser editado pela mesma, mas surgiu outra que seguiu com isso. 

M - Recebemos umas fotos da Tower Records (editora japonesa) com o nosso disco nas prateleiras e com avisos em japonês, foi brutal!

P - São pequenos pormenores que valem por tudo. 

R - Mas mesmo os momentos maus acabaram por nos marcar de uma forma boa, diga-se, deram-nos mais força.

M - Editámos o LLU em vinyl também, foi outro dos momentos especiais. 

R - Era um sonho que já vinha do disco anterior e que não é facil nem barato de se fazer.  
Não é qualquer músico que edita um disco seu em vinyl..

M - Depende, nas editoras estrangeiras isso acontece muito. Cá em Portugal, não é um mercado em que se aposte fortemente, apesar de agora estar a voltar. 

R - Por um lado também aconteceu porque optámos por fazê-lo de forma diferente, sendo que o apoio dos fãs foi essencial para fazer o disco, através do crowdfunding, em que nos ajudaram a pagá-lo, o que foi óptimo. Nesta altura, é complicado gravar um álbum e esta é uma boa alternativa. 

M - Foi uma forma diferente de interagir com o público, ainda para mais. No final, agradecemos a todas as pessoas que contribuíram, em Dezembro. E foi engraçado chegar ao final e perceber que havia muita gente que queria ter aquela peça.

Como é que uma banda faz o seu percurso no mundo da música, não começando em Lisboa ou no Porto?

R - É mais complicado. Quando nós começámos era mais complicado ainda, agora a internet torna as coisas mais fáceis. No início, querias mandar um disco, ou querias falar com alguém da rádio e tinhas de lhes telefonar, de arranjar a morada deles para lhes mandar material. 

M - Chegámos a mandar faxes para marcar entrevistas e assim. 

R - Marcar concertos, pelo menos na nossa banda antiga, era pelo telefone, nem sequer sabias como era o sítio, não havia fotos em nenhum lado. Começar fora de Lisboa e Porto foi difícil, mas a partir do momento em que tivemos contacto com uma editora do Porto, todo o processo aconteceu automaticamente, facilitando tudo. Depois veio a internet, o MySpace, todas essas plataformas. 

Já deram muitos concertos lá fora, com este disco? 

R - Sim, em Espanha maioritariamente. A grande diferença deste álbum para os anteriores é que fizemos concertos maiores, apesar de serem menos, em salas maiores. 

M - Por exemplo, o ano passado fomos três vezes a Barcelona tocar, em duas salas muito importantes: a Apolo e a Razzmatazz, provavelmente as duas melhores da cidade. 
E preferem os concertos mais pequenos ou os de maior dimensão?

P - Cada concerto tem o seu quê de especial. Temos por norma, na altura do Natal, dia 23 ou 24, dar um concerto ou tentamos fazê-lo, sempre que faz sentido, um evento com custos mínimos ou até à borla. Este ano fizemo-lo em Alpedrinha, perto de Castelo Branco, num teatro pequeníssimo e muito bonito, que leva 120 pessoas e a distância do público para a banda é mínima. Esse tipo de concertos traz-nos outra magia que não tens nos maiores: a aproximação do público, a ligação que se estabelece entre nós e os espectadores. Por isso é que nós gostamos de tocar em clubes mais pequenos. 

M - Mesmo entre nós em palco fica uma dinâmica diferente. 

R - Quando tocamos em palcos grandes, tentamos juntar-mo-nos ao máximo, apesar de termos espaço para estar mais à vontade, não gostamos de estar longe uns dos outros. 

O que se pode fazer para que a divulgação de novas bandas, e da música portuguesa em geral, possa melhorar? Já se faz algumas coisas, mas há um certo caminho a percorrer..

R - O MySpace devia voltar. O facebook apagou o MySpace, digamos, e era uma plataforma fundamental enquanto esteve muito activo. Era bom que ele voltasse a ser o que era, o facebook não é a mesma coisa, não tem um fim único. O MySpace tinha aquele propósito de divulgar a música, era onde as pessoas iam para conhecer novas bandas. Isso perdeu-se. Há certas coisas que é difícil de melhorar, como alguns lobbies, serem sempre as mesmas bandas a serem convidadas, isso vai sempre acontecer, em todo o lado. Tem que se tentar combater isso. Apesar disso, o apoio à música portuguesa tem estado a crescer. 

M - As bandas têm-se defendido bem. Algo que faz muita falta é haver mais editoras, são poucas mesmo. A defesa das bandas e músicos é editar na internet, e fazem muito bem, mas depois ficam-se muito por ali, parece que a edição física deixou de ser necessária. 

R - E estão mais preocupadas as bandas com o que pode fazer a nível do mercado, para colmatar a pirataria, do que propriamente as editoras, que estão com as mãos na cabeça e a dizer que não se faz dinheiro. Estão à espera que as coisas mudem. E isto acontece com todo o tipo de bandas, vejam os Radiohead, que lançaram o disco como lançaram. Isto aplica-se a editoras grandes claro, as editoras mais pequenas sabem bem o que se passa e ajudam as bandas nesse sentido. 
Quais são os próximos concertos dos Norton, e planos futuros?

R - Passem no facebook (https://www.facebook.com/wearenorton) e no site (http://www.nortonmusic.net/) para verem melhor as datas que temos nos próximos meses. Há coisas ainda a ser marcadas para o verão. Queremos tocar ao vivo o máximo que pudermos e começar a fazer o disco novo. 

M - Queremos também preparar algo especial para comemorar os dez anos da banda, depois do verão!

Duarte Azevedo




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