terça-feira, 22 de maio de 2012

Best Youth - ENTREVISTA

Entrevistámos o (agora) trio nortenho no Paradise Garage, na tarde que antecedeu o Rock Faktory, no dia 12 de Maio. Encontrámos uma banda muito bem disposta e com a cabeça bem assente na terra, muito entusiasmada com os acontecimentos dos últimos meses e com uma ambição muito saudável. Foi, na verdade, uma entrevista motivadora para nós, e que mostrou que Portugal tem uma nova geração de músicos que quer ser grande e tocar boa música.

Fizeram-vos esta pergunta já umas dez mil vezes mas não resisto. De onde vem o vosso nome?

Ed Gonçalves - Fizemos uma lista com vários nomes aleatórios, de várias ideias que tínhamos, e fomos conjugando uns com os outros, a ver o que é que funcionava. Basicamente, foi um nome que nos soou, e que assumimos. Posteriormente, fui fazer a pesquisa com o nome e encontrei um filme italiano, do Giordana, e há muita gente que acha que veio precisamente daí, mas ainda não o vimos..

Vão actuar no Primavera Optimus Sound, no Porto, tiveram destaque na imprensa francesa, na Les Inrockuptibles, e bastante na portuguesa em geral. O que acham do vosso percurso até aqui?  

Ed - Há aqui duas versões desse percurso. A primeira é minha e da Catarina, que já vem de há bastante tempo. Tínhamos outra banda antes e já vem daí. O percurso como efectivamente "Best Youth" tem sido, com muita sorte nossa, bastante rápido, e, de certa forma, não estávamos à espera que corresse dessa forma. 

Catarina Salinas - Estávamos à espera de ter que batalhar mais, apesar de se batalhar sempre na mesma, como é óbvio. 

Ed - Não esperávamos que o impacto do primeiro EP fosse tão grande, além do cartão de visita que queríamos que fosse. Quando começámos a trabalhar, decidimos logo que queríamos fazer um disco, mas como tínhamos gravado umas ideias que vinham tanto de músicas minhas como de outras feitas com a Catarina, tendo algum trabalho representativo do que nós fazíamos, escolhemos lançar logo esse material, em vez de ficarmos em estúdio e ter que esperar imenso tempo. Lançámos o EP, as coisas estoiraram um pouco, e não temos parado desde que ele saiu. Eu estava a gravar um disco a solo, nós nem éramos para gravar um disco os dois. Começámos a experimentar a voz dela numas músicas, e muito cedo neste processo percebemos que tudo começava a fazer sentido e que devíamos formar novamente um grupo. Como já tínhamos material feito, não começámos do zero e optámos por lançar logo as 5 músicas, para que as pessoas fossem conhecendo, querendo depois lançar o disco. 

E o EP foi lançado um pouco antes de assinarem com a Optimus Discos, e o buzz começou já antes disso.. 

C - Foi, foi lançado meio ano antes. 

Nuno Sarafa - A Optimus Discos foi um "input" para chegar um pouco mais longe, digamos. 

Está nas vossas intenções partir para um álbum.

C - Claro, já estamos nessa fase. 
E será a continuação deste EP ou irão mudar um pouco o rumo?

Ed - Vamos fazer um disco diferente, vai ser mais pensado, de origem, para as pessoas que o vão tocar, neste caso eu, a Catarina e o Sarafa. O anterior não foi feito nesses moldes, nem sequer a prever que ia ser tocado ao vivo, mas sim de uma forma mais progressiva: vamos ensaiar, fazer arranjos e gravar, depois vamos arranjar uma banda e depois damos uns concertos. Só que nós lançámos e na semana seguinte apareceram convites para tocar. 

N - Para o disco é diferente: a banda já existe, vai ser outra forma de fazer as coisas. 

C - E não é só isso, quando tu apresentas um EP com 5 músicas, queres apresentar variedade, dentro das influências que tu tens, e do que tu gostas de fazer musicalmente. No disco, nós queremos contextualizar as canções, e fazer com que seja mais coerente, um fio condutor, o EP era uma apresentação mais diversificada, dentro do formato de 5 músicas. 

Ed - Não por vontade própria, foi algo que aconteceu, porque as músicas vinham de sítios diferentes, umas minhas, outras através de cortes e adaptações, sem fazer ideia do que íamos fazer a seguir. Era o que tínhamos na altura. Agora está a ser uma coisa pensada de raiz. 

Apesar de estarem num processo de ascensão não muito habitual no país, que contratempos é que encontraram no caminho feito até hoje?

Ed - Não vou falar de novidade nenhuma, mas é difícil por causa da situação geral do país, para arranjar datas para tocar. 

C - Ainda para mais isto acaba por ser um nicho, um mercado muito pequeno. 

Ed - Um contratempo específico nosso, que sentimos um pouco, é pelo facto de vivermos no Porto, estamos um bocado mais descentralizados para coisas tão simples como uma entrevista destas. Chegam-nos convites para falar na rádio ou na televisão e há uma viagem que tens que fazer. 

A barreira de estar no Porto ainda é muito grande?

C - Não é assim tão grande, mas existe. 

Ed - As coisas desenrolam-se na mesma, mas é mais difícil. Se estivéssemos aqui em Lisboa, faríamos o dobro da promoção. 

N - Alguns aspectos não estão centralizados no Porto mas em Lisboa, e é difícil fazermos algumas das coisas, mas tem um lado muito bom no facto de sermos de lá, já que são pessoas com características completamente diferentes das de Lisboa. Isso sente-se na música e na produção artística do Norte, e digo isto fora de regionalismos, ou nem quero dizer que é melhor ou pior. 

Ed - Sim, se pegares em qualquer banda do Sul e fores com ela ao Norte, serão tratados da mesma forma, não tem nada a ver com o sítio de onde vêm. 
E no Porto talvez valorizem muito mais uma banda da cidade do que uma de fora.

N - E não só, em relação à barreira, até acaba por ser uma mais valia: lá em cima temos que trabalhar muito mais, temos de ser melhores. Não querendo dizer que aqui não se esforcem. E com menos meios, tens que trabalhar mais também. 

C - É uma barreira e um incentivo, no fundo. 

N - Mas às vezes a diferença nota-se nas pequenas questões, a nível de dificuldades, nem costumam ser grandes aspectos, que fazem a máquina funcionar. Na sua maioria, os serviços da indústria musical estão em Lisboa, e a comunicação social, apesar de haver delegações no Porto. 

(A agente dos Best Youth aproveitava esta deixa para intervir, dizendo que apesar da distância e de algumas possíveis barreiras que dividem Lisboa e Porto, são da capital que vêm a maior parte dos convites para a banda tocar e ser entrevistada, e é em Lisboa onde eles começam a ser muito requisitados)

O Primavera Optimus Sound é um grande evento para o país e para a cidade, e representa com certeza para vocês um marco importante no vosso caminho. Vão prepará-lo de forma diferente, tendo em conta a sua importância?

C - Não, isso não vai acontecer. Damos sempre o máximo. Nem sequer podemos pensar assim, é logo uma menos-valia. O nosso ânimo vai ser maior, mas de resto..

Ed - O nosso espectáculo vai mutando aos poucos, sempre que lhe conseguimos somar qualquer coisa, fazemo-lo. Seja músicas novas, melhorar e mudar as existentes ou a forma como as apresentamos. O espectáculo seguinte acaba sempre por mudar de alguma maneira. Apesar disso, o Primavera será apenas mais uma etapa. 

N - É o hoje que nos preocupa, amanhã logo se vê. 

Ed - Não quer isto dizer que não achamos que será uma etapa importantíssima na nossa carreira, e é óbvio que temos noção de que vai ser um concerto muito importante. 

N - E temos noção de toda a responsabilidade, mas eu desde puto que tenho a seguinte teoria: num evento para uma pessoa, para mil, com maior ou menor importância, tens de dar o máximo, sempre! Tens de ter sempre a mesma atitude. 

Ed - Portanto, não nos vamos esmerar mais para o Primavera. O que acontece é que para concertos mais pequenos, não nos esmeramos menos, independentemente do destaque que percam em relação aos outros. 
Uma pergunta recorrente nas entrevistas do BandCom, e que é sempre interessante ouvir os músicos falarem. O que é que pode mudar na música portuguesa? A título de exemplo, uma vez falaram-nos do público, que por vezes a atitude do mesmo não é a melhor, porque parece que não há muito o culto da música ao vivo, nas palavras do mesmo. Mas haverá mais questões certamente.. 

C - Aí sim, se calhar comparando com lá fora.. 

N - É uma tendência que está a diminuir, a questão é que há o culto mas é para os estrangeiros. Praticamente todas as bandas estrangeiras tocam no nosso país e adoram cá vir, são extremamente bem recebidos e o público dá o máximo por eles. Em relação aos músicos portugueses, já foi bem pior, a nível da empatia e da respeito geral, e toda a gente conhece muito melhor as bandas que andam por aí. 

C - Isso reflecte-se no facto de teres muito mais bandas a saírem cá para fora, apesar de tudo. Uma coisa vai alimentando a outra: quanto mais o público gosta e puxa, mais existe interesse em pôr bandas cá para fora. 

Ed - Um problema também é que o país inteiro, desde a comunicação até à população, por reflexo da mesma comunicação, não elevam tanto as bandas e os artistas portugueses, que estão ao nível ou até melhor do que muitas das que vêm de fora. É um estigma que, nesta altura do campeonato, já não devia existir. 

N - Um exemplo muito prático e específico: o festival das Noites Ritual, no Porto, é de bandas portuguesas apenas. Eles, há muitos anos, fizeram uma edição que contou com uma ou duas bandas estrangeiras. E foi o maior fiasco! Gastaram muito mais dinheiro em trazer as bandas estrangeiras do que todas as nacionais que lá estavam, e foi um fracasso. A partir daí, eles nunca mais convidaram músicos de fora, foi só portugueses. E tu vais lá, está sempre cheio, desde há 21 anos! Não é um grande festival, é pequeno até, mas é um exemplo! Nem sempre o que é estrangeiro é bom para algo deste género. Lá fora eles são iguais a nós: há os bons e há os maus. 

C - É preciso trabalhar a cultura e um pouco da mente portuguesa. 

Ed - E isso é um pouco difícil de concretizar, porque para isso acontecer, a música portuguesa tem de ter muito mais saída lá fora. A questão do entusiasmo que o público tem com as bandas estrangeiras é que eles passam por França, Itália, toda a gente, em todo o lado, os conhece, embora sejam bandas do mesmo nível que as de cá. 

N - Por fazeres meia dúzia de coisas lá fora, e já te olham de outra maneira. 

C - Vás fazer grandes concertos ou tocar em bares ranhosos, voltas uma celebridade. 
O Paulo Furtado, em entrevista ao BandCom, dizia que faz falta o investimento e o apoio do estado às bandas, como se faz no Canadá e em Espanha por exemplo. Acham que pode ser por aí?

N - Para poderes ter qualidade, não podes trabalhar no supermercado durante o dia e ensaiar à noite, e estares um ou dois anos a fazer um disco, investindo depois em promoção ou para fazer uma tour ou o que seja, e depois tens de esperar outro ano e tal para fazer outro disco. Esses governos, tal como o francês e o sueco, apoiam a criação desse ano e tal. Se tu provares que tens retorno e que dás espectáculos suficientes para eles te apoiarem. E isto não é subsidiar, é investir, é manter a qualidade. É o músico ser músico a 100%. Não podes ser bom se não o fores a tempo inteiro, senão apenas desenrascas, e isso é uma muito má política. E ainda por cima, a criação não é incentivada desde criança, o nosso sistema de ensino a nível cultural é nulo, é uma brincadeira, a música nas escolas primárias tem um método ridículo. São estas coisas que fazem com que, no futuro, tenhas ou não artistas de qualidade, música de qualidade, actores de qualidade, pintores.. Hoje, um miúdo que ser artista e isso é considerado uma loucura.  

Quais são as bandas portuguesas que mais gostam de ouvir?

C - X-Wife, We Trust, Clã, eu sou uma fã incondicional dos Clã, David Fonseca...

Ed - The Legendary Tiger Man, acho que ele talhou ali um caminho por ele próprio muito forte. Memória de Peixe. Parece que estamos a ser graxistas, mas acontece, nós colaboramos com os projectos de que gostamos mais. 

O que podemos saber sobre os vossos planos futuros, além do álbum?

Ed - Não podemos ainda falar muito sobre isso mas vamos estar em alguns festivais de verão. Temos uma ou outra data fora desses festivais. Vamos estar em vários sítios do país, mas estamos a apostar agora o máximo tempo possível em compor o disco novo, o mais rápido possível. A prioridade agora está mesmo no disco, pelo menos depois deste verão. 

Duarte Azevedo




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