sexta-feira, 2 de março de 2012

Walter Benjamin - ENTREVISTA


O BandCom esteve à conversa com Walter Benjamin (Luis Nunes) e com Jakob Bazora, um dos seus colaboradores musicais. Fica a conhecer melhor este projecto!


Quem é Walter Benjamin?

Walter Benjamin - Walter Benjamin é essencialmente um songwriter mas também uma personagem que eu comecei a construir. Eu tocava com várias bandas no passado, mas queria ter um projecto que me desse total liberdade para fazer o tipo de música que me apetecesse e colaborar com outras pessoas, como estou a fazer com o Jakob. Só queria gravar as minhas canções, gravá-las da forma que eu quisesse, tocá-las com quem quisesse sem ficar preso a uma banda. Foi assim que nasceu, apesar de hoje se ter tornado, tal como disse, um projecto de songwriting. 

Nas tuas palavras, que tipo de música se pode encontrar neste projecto?

WB - A sonoridade vai ser diferente cada vez que sair um álbum novo, por isso acho que não consigo rotulá-lo dessa forma. Eu espero que ninguém o consiga encaixar em nenhuma categoria em 3 anos, possivelmente. De momento, estou a fazer um álbum bastante leve, que sai em Abril, mas penso que o seguinte será completamente diferente. 

Portanto, Walter Benjamin acaba por não ser o típico projecto a solo mas sim uma banda com várias colaborações exteriores.

WB - Sim, é mais ou menos isso. Não é, de todo, um projecto rígido. Tive dois EP's com artistas diferentes, um deles era praticamente synth-pop e shoegaze e o outro fi-lo com o João Correia dos Julie and The Carjackers, com as minhas músicas e as músicas dele. Basicamente, nem sou eu a fazer isto, mas sim uma personagem que eu tenho. Walter Benjamin é uma personagem e gosta de criar e fazer o máximo de música que lhe for possível, com o máximo de pessoas que conseguir. 

Tudo isto acaba por envolver mais pessoas na tua música, mas o que é que é melhor, trabalhar sozinho ou envolver muita gente nas mesmas canções?

WB - Depende do estado de espírito. Uma das coisas boas deste projecto é que, se estou cansado de ter imensa gente a fazer música comigo, vou para casa e gravo as minhas próprias músicas sozinho. Gosto das duas situações, estar sozinho, estar eu e o Jakob com sintetizadores, ou estar numa banda. "The Imaginary Life of Rosemary and Me", o álbum que vai sair agora, sou eu e outros músicos a tocar no mesmo espaço.


O que podemos saber mais sobre o álbum? 

WB - Bem, é um trabalho muito pessoal, é na verdade a música mais íntima que eu já fiz, e é muito orgânico. A ideia inicial era captar a essência de "Nashville Skyline" do Bob Dylan, todos os músicos numa sala a tocar, a fazer o álbum em 3 dias apenas, mas não conseguimos ir por aí porque, depois de fazermos a primeira volta de gravações aqui em Lisboa, levei o trabalho para Londres para uns novos overdubs, e tornou-se em algo distinto do original. Mas ainda assim, quis sempre manter o tom orgânico e directo do álbum. O Jakob apareceu a meio das gravações, com a intenção de tocar comigo ao vivo, em Londres. Ele toca teclas muito bem, e começámos a tocar e a compor juntos. Para confundir ainda mais as coisas, estamos neste momento a gravar um álbum, só nós os dois, inserido num projecto diferente, com uma sonoridade diferente. 

Jakob Bazora - Surgiu a partir da dinâmica de termos de tocar juntos ao vivo, e sem mais ninguém conosco. O nosso baterista e baixista são basicamente uma "Groovebox MC 303" (risos). Mas já tocámos com um baterista e baixista a sério e soou muito bem.  

Geograficamente falando, como tem se desenvolveu o seu trabalho enquanto músico?

WB - Nasci e cresci aqui, vivi em Portugal quase toda a minha vida. Tudo começou numa editora chamada "Merzbau", em 2004, com uma banda chamada "Jesus The Misunderstood". Lançámos um EP pela editora e depois conheci imensa gente ligada a ela, como o Noiserv, B Fachada, Tiago Sousa, que era o responsável pela editora. Havia imensa coisa a desenvolver-se nesta editora, eu toquei com o B Fachada e com o Noiserv e eles tocavam comigo. Penso que criámos uma espécie de "Music Scene" à volta da Merzbau. 


E a mudança para Inglaterra?

WB - Mudei-me para Londres para estudar, há dois anos e meio atrás. E o conceito de Walter Benjamin manteve-se. Seja em Londres ou em Lisboa, o personagem que cria as músicas será sempre o Walter Benjamin, toque a solo ou com outros projectos. Não levo uma banda inteira comigo mas apenas as minhas ideias e o conceito por trás disto tudo. Estar no estrangeiro não implica que haja limitações no que toca a fazer música. 

Que feedback tiveram do single que foi lançado ("Airports and Broken Hearts") e dos 2 espectáculos que deram aqui em Lisboa (MusicBox e Galeria Cristina Guerra) ? 

WB - Algumas pessoas disseram-me que gostaram da música, mas acho que não é um tipo de música que todos gostem. Mas, em 6 horas tivemos 1000 plays, e fiquei surpreendido com isso! Mas não há obsessões com isso, não queremos ser "superstars", só queremos fazer música, e que algumas pessoas o possam ouvir e ficar contentes com ela. Estou aqui para me agradar, acima de tudo, mas gosto do facto de poder agradar a outras pessoas com o mesmo conteúdo que me agrada. Quanto aos dois concertos, o MusicBox estava bem composto, para uma quinta à noite. 

JB - Tínhamos 150 pessoas, algo deste género.

WB - Fiquei muito satisfeito, houve uma boa reacção do público, estávamos um pouco nervosos a tocar. O segundo concerto foi muito bom. 

JB - O do MusicBox foi filmado, e estava até estava bem. Não sabíamos o que esperar do vídeo, mas ficámos positivamente surpreendidos com ele. 

WB - As pessoas gostaram do concerto. Não diria que adoraram, mas gostaram. Houve umas que adoraram o espectáculo. A reacção geral foi boa. Foi o primeiro concerto em Lisboa, depois de 3 anos sem aqui tocar. 


O facto da música de Walter Benjamin ser mais calma torna-se uma condicionante ao vivo ou o carácter intimista da sonoridade aproxima mais as pessoas?

WB - Penso que alguns espectáculos podem ser muito bons. Uma vez actuei em Zurique, sozinho, no Cabaret Voltaire, em que só toquei uma música. Era eu no piano, a casa estava cheia e ninguém me conhecia. No final, senti que as pessoas tinham gostado imenso e foi incrível, por isso alguns concertos intimistas podem realmente correr bem. Nós também temos canções mais viradas para o rock, penso que o que importa mesmo é saber ler o ambiente e a audiência na sala. Quando tocámos na galeria, em Lisboa, escolhemos apenas duas músicas mais calmas e o resto foi tudo mais mexido. Mesmo as mais calmas, tentámos fazê-las mais rock. Se vejo pessoas a estarem aborrecidas com essas canções, prefiro não tocá-las de todo. Não vou mudar o meu repertório, mas acho que é bom adaptar-se às reacções à nossa volta. Gosto quando há artistas que fazem isso, e é um desafio tremendo para qualquer um de nós fazer isso. 

Quando sai o álbum?

WB - 9 de Abril. 

E o single é uma boa amostra do álbum?

WB - Penso que sim, apesar de ser a única canção que não tem bateria. É uma boa amostra, mas o álbum não se confina apenas a este single. 

JB - Deixa alguma manobra para surpresas. Ouve-se a canção e espera-se que o álbum seja todo assim, mas ficarão surpreendidos. Mas acho que isso é bom, e que a música foi bem escolhida. 

WB - Eu não gosto de álbuns que sejam estáticos. Eu gosto de coisas um pouco mais "Sonic", ouvir o CD e sentir-me numa viagem, e este foi feito dessa forma. É um álbum curto mas sólido, 8 músicas no total de 25 minutos. Sou um grande fã do material mais antigo dos Beach Boys, singles de 2 minutos. O álbum conta uma história, não são só músicas aleatórias. 

JB - E isso é muito importante. Em todo o trabalho dele, há sempre um tema que serve como base à música, o que torna os registos muito mais completos, em vez de ter apenas músicas soltas. 

WB - É verdade, neste momento estamos a escrever um álbum sobre robots. Um projecto completamente diferente. É a forma como escolho fazer as coisas, se calhar da próxima vez faço tudo de forma caótica, mas gosto da ideia de haver um conceito, e de fazer com que se perceba que vem tudo do mesmo registo. 

Que músicos convidaste para este álbum?

WB - A Márcia, o João Correia e Nuno Lucas dos Julie and the Carjackers, na bateria e baixo, também o Bruno Pernadas, Minta (Francisca Cortesão), B Fachada, que não tocou nem cantou mas ajudou em toda a construção do álbum.



O que podemos esperar de Walter Benjamin nos próximos tempos?

WB - Estamos a marcar concertos para Abril, um deles o de lançamento e que será algo mais em grande, e teremos um nome forte a tocar conosco, por isso será uma noite agradável. Além do lançamento em Lisboa, temos uma data confirmada em Faro, e estamos a tentar marcar no Porto e em Coimbra. Penso que o de Lisboa será um concerto muito especial. 

Queres ficar em Lisboa, Londres ou queres percorrer a Europa?

WB - Acho boa a ideia de poder viajar. Adoro Lisboa, adoraria viver aqui, mas também gosto de Londres. O meu plano é tocar nestes dois países o máximo possível e um pouco nos outros países, se acontecer. Ele (o Jakob) é austríaco, também queremos passar aí, na Suiça, não sei, onde quer que possamos tocar.


Lisboa em particular e Portugal em geral, são maus sítios para se ser músico?

WB -  Acho que Portugal tem uma "Music Scene" fantástica, com uma enorme quantidade de músicos muito bons, com grandes influências e com um óptimo "background". O público também se envolve cada vez mais com os artistas e a música que cá se faz, isso vê-se nos concertos que há por aí. Não obstante a crise, os nossos festivais estão esgotados, as pessoas gostam mesmo de música. Acho que é um óptimo país para se tocar. Em Londres, é horrível ser-se músico porque os concertos são muito mal pagos, mas há acesso ao mercado internacional e à exposição consequente. Ainda assim, há demasiados músicos e 70% faz música bastante má. Os restantes 30% são simplesmente brilhantes. Sei que na Noruega, há subsídios do estado para se ser músico. Não digo que Portugal seja um sítio espectacular para se viver da música, a economia não está bem, mas consegue-se ir construindo uma carreira. 

JB - E aqui há músicos muito bons. Estou aqui pela primeira vez, já conheci imensa gente e todos têm grandes capacidades enquanto músicos. Não sei quanto a viver como músico, mas a nível de talento já percebi que estão muito bem servidos. 

WB - E, por exemplo, comparando com a Áustria?

JB - Por acaso é bastante semelhante. A maior parte das vezes, quando tentas ser músico no teu próprio país, é mais difícil, mas aqui em Portugal parece diferente. Todo este pessoal da editora juntou-se e formaram uma boa base, trabalham muito bem em conjunto, e construíram algo muito bom em conjunto. Nunca encontrei este sentido de comunidade no meu país, nem em Inglaterra. 




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