segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Rescaldo Vodafone Mexefest

No passado fim-de-semana, a Avenida da Liberdade em Lisboa transformou-se numa roda-viva de gente à procura de novas referências musicais.
Num festival onde é quase impossível ver todos os artistas em cartaz, há quem prefira acompanhar o maior número de bandas possível, em oposição a quem prefere acompanhar o maior número de concertos possível. Eu segui a última opção.

Para o meu fim-de-semana, acabei por fazer escolhas semelhantes para os dois dias: começar calmamente pelas guitarras e passar lentamente para ritmos mais agitados com o chegar da madrugada. Não foi propositado, mas acabou por ser coincidente.


SEXTA, DIA 2
Sexta-feira, escolhi começar pelos Julie & The Carjackers, ver os Handsome Furs e Junior Boys e acabar em PAUS.
Uma nota dominante deste festival (antes Super Bock em Stock) tem sido a beleza dos espaços escolhidos para os concertos. Não foi excepção desta vez. No terraço do Restaurante do Hotel Tivoli, os Julie & The Carjackers começaram pouco depois da hora marcada. O concerto foi uma boa maneira de solidificar o álbum de estreia, “Parasol”. Durante os cerca de 30 minutos, notou-se que o que funcionou bem no disco funciona melhor ao vivo. Uma banda claramente a navegar numa filme a preto e branco dos anos 60 e 70, como se a sua performance tivesse também os mesmos pequenos pormenores característicos dessas gravações. Vibrações quentes, coros harmoniosos a duas e três vozes, linhas de guitarra descompensadas, irreverência em progressão, lá entre a canção americana mais recente. Para começo de noite, foi bastante agradável. São uma banda com qualquer coisa de especial, de facto.

Numa noite em que os Handsome Furs andaram confortavelmente entre o seu próprio suor e os Junior Boys abriram de porta em porta a pista de dança possível entre as cadeiras do Teatro Tivoli, coube aos PAUS tocar para intervalar o festival antes dos DJs.
A estação de metro dos Restauradores mostrou ser um espaço tão inibidor da plateia que até a meio do concerto os PAUS pediram para que metade da plateia se sentasse para a outra metade ter os seus segundos de contacto visual com a banda. Em contraste com o que deles vi no Super Bock Super Rock, deram um concerto muito mais cerebral, apesar de ir ficando 2 ou 3 vezes sem tímpanos. Com muita interacção entre temas, os PAUS foram procurando manter o auditório atento ao novo disco que queiram mostrar e não aos temas desejados do EP anterior que estavam na imaginação de muitos. No saldo final, foi impossível a um excelente disco dar menos que um concerto excelente.


SÁBADO, DIA 3

Tal como no dia anterior, a noite teria espaço para 2 artistas portugueses e 2 internacionais: desta vez seria a produção nacional a grande vencedora da noite.

A noite começou com o concerto do Filho da Mãe na Sociedade de Geografia, concerto esse bastante concorrido de início e que ficou tão melhor quanto mais vazia foi ficando a audiência. Coincidência ou não, na parte final do concerto sentiu-se mais o storytelling necessário para a eficácia de qualquer conjunto de temas, coisa que o CD tem. Por isso, no final do concerto, a ovação do público foi totalmente merecida.
Havia Dead Combo a seguir no Teatro Tivoli. O novo “Lisboa Mulata” serviu de mote principal para um dos concertos do festival, onde luzes, sombras, uma guitarra, um contrabaixo e histórias sinistras fizeram um espectáculo fantástico e sequestrador. Pelo meio, espaço para os já familiares “A Menina Dança?” e “Lusitânia Playboys”, para terminar em beleza com a “Marchinha de Santo António Descambado”, de “Lisboa Mulata”. Não havia furor possível nas palmas que chegasse para tamanha classe.

Para responder à fila enorme para ver o headliner James Blake, fui até ao Maxime ver os When Saints Go Machine, que entre um copo de cerveja, uns teclados e uns gestos de aprovação de cabeça, tronco e membros lá ajudaram a passar o tempo.

Por fim, paragem pelo Cinema São Jorge para ver o projecto americano Toro y Moi: outro dos inúmeros live acts de bandas ditas “modernas”, de uma pop urbana em que a nata está mais em disco e nas paragens por territórios mais experimentais do que nas actuações ao vivo. A julgar por esta, os Dead Combo deram 10-0 no princípio da noite e não foi preciso ninguém levantar-se das cadeiras.

Tal como se previa, o Vodafone Mexefest foi um festival onde a música portuguesa esteve em claro destaque, embaciando uma boa parte dos artistas internacionais que não foram surpresa para ninguém que soubesse ao que ia e aonde ir.
André Gomes de Abreu




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