segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Dead Combo - Lisboa Mulata



Estamos habituados à sonoridade latino-fado-blues dos Dead Combo, melancólica e repetitiva, agridoce, numa complicada textura de guitarras ritmo e solo, acompanhadas por um contrabaixo que manda num ritmo já por si só rebelde. Mas desta vez, o duo da cartola e do fato de mafioso decidiram aplicar o seu som a um lado diferente da cidade de Lisboa. O lado heterogéneo da metrópole, onde várias nacionalidades se cruzam, histórias de amor, histórias de desamor e de crimes passionais, contos de negócios inseguros. São estas as histórias que Lisboa Mulata nos conta.


Temas como "Cachupa Man" e "Anadamastor" levam-nos numa nostalgia eléctrica, num cruzamento vertiginoso entre flamenco, tango e desert blues calmo. Quando começa uma música dos Dead Combo em que pensamos que a sonoridade vai ser fixa e de apenas um tom, o duo surpreende sempre com elementos de outras ondas sonoras. E é esta capacidade de inovar que a dupla não perdeu. Sente-se isso também, de uma forma ainda mais triste e bonita, em "Aurora em Lisboa" e "Marchinha de Santo António Descambado", e nesta última o toque de música havaiana solidifica ainda mais o toque do antigo e do soturno.


Olhando para o fado actual, depois da "coroação" do mesmo como património imaterial da humanidade, assistimos a uma mutação, depois de anos de fermentação deste género na cabeça de várias gerações de músicos e artistas. Novas abordagens do mesmo começam a despontar, e os Dead Combo também têm culpas no cartório neste aspecto. Apenas numa música do álbum decidem aproximar-se verdadeiramente ao fado ("Esse olhar que era só teu", num poema de Sérgio Godinho), mas durante todo o registo sentimos uma certa influência fadista, talvez pela constante emulação das guitarras para tentar recriar a atmosfera lisboeta, recriando por vezes arranjos de guitarra portuguesa. É este "fado alternativo" que marca as cores do duo.

Em 2007, foi lançado, em mais um projecto de Damon Albarn, The Good, The Bad and The Queen, um projecto de um só disco em que as músicas falavam da cidade de Londres, com uma intenção semelhante à dos Dead Combo: uma melancolia agridoce, ora alegre, ora triste, mas sempre flutuante. Não consegui deixar de reparar em algumas semelhanças nos dois registos.
Cidades diferentes, músicos e melodias diferentes, mas algum paralelismo.

Um lado diferente de olhar para uma cidade, pegando no que o fado nos ensinou e no que o mundo nos transformou. Eis Lisboa Mulata.






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