segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Barra 90 - Jorge Cruz



Muito bom ouvinte de música portuguesa provavelmente já ouviu falar do que Jorge Cruz anda a fazer, mas não com o seu nome associado. Os Diabo na Cruz já percorreram o país inteiro nos últimos dois anos, na tournée que apresentou "Virou!", um álbum brilhante em que o rock anglo-saxónico encontrou na musicalidade portuguesa uma fonte de rejuvenescimento, saído da cabeça de Jorge Cruz e da do seu companheiro de outras lutas, B Fachada.


Neste "Barra 90", trabalho feito nos anos 90 e agora re-editado, numa incursão a solo do cantor e guitarrista, com o auxílio de nomes como Márcia, B Fachada, João Gil, entre outros. São essencialmente 9 músicas íntimas, muito pessoais, ditas com palavras fortes e bem marcadas. Creio que algo que passa despercebido muitas vezes é a excelente dicção de Jorge Cruz, mas este talento é crucial para que as palavras saiam como saíram aqui: limpas, por vezes cantadas em baixo volume, ternurentas ao ouvido, um encaixe perfeito para o pano soft-electro que acompanha cada faixa e para distante melancolia que se pode extrair de cada uma.





A textura musical deste álbum aparenta ser simples, ouvimos poucas camadas. Mas a verdade é que está aqui algo diferente. A guitarra é a figura central, como seria de esperar, mas vai do acústico puro ("Praia da Barra") à electricidade mais flutuante e pesada ("Roupas 1"), num devaneio final inspirado num ensaio dos Linda Martini. O ritmo que um certo electro-minimal carrega em "Um de Nós" e "Lugar Privado" traz o sentido de melancolia e até um toque espacial. As teclas que o originam ganham um sentido mais indie em "Entre Iguais" e "Exausto". O vocalista tem por vezes a voz com alguns efeitos, que acentuam todas as tendências acima descritas, e é por aí que este álbum se valoriza: pela excelente conjugação de elementos totalmente díspares mas que se complementam muito bem.

Num registo totalmente diferente do "Roque Português" de "Dona Ligeirinha", "Tão Lindo", e "Combate com Batida", chega-nos uma surpresa agradável. Mais pop, mais lento, mais triste e mais intimista. É outro lado do artista, é ele a mostrar que é completo e que sabe fazer música - de uma forma ainda melhor da que nós já pensávamos. Um disco até visionário para a década em que foi feito, arrisco-me a dizer. Oiçam Barra 90!






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