segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Iconoclasts - MT ERIKSON + ENTREVISTA


Os Iconoclasts são um banda actualmente de 6 elementos que desde 2008 até agora não mais parou de trepar degraus rumo ao conhecimento mais geral possível. Depois de um EP editado no ano da formação, chegam agora à estreia em disco, tendo já pelo meio tocado com os Best Coast e Bye Bye Bicycle quando estes passaram por Lisboa, bem como sagrado-se vencedores do renomeado concurso Termómetro Unplugged no presente ano.

Mt. Erikson” é, intrinsecamente, uma viagem e uma imagem estilística onde a banda revista o crescimento de si e das suas histórias até à idade adulta. Musicalmente, é uma evocação do indie-rock de língua inglesa mais puro e antigo, lembrando bandas como os Guided By Voices ou Grandaddy melodicamente, os Fugazi ou Sonic Youth nas guitarras, tudo isto a centenas de rotações por minuto. É quase como pôr a rodar empilhados discos dos Von Bondies, Le Tigre, XTC e Ash, tentando que os Two Door Cinema Club não tenham nada a ver com o assunto. Se em termos de estilo é fácil, em termos de eficácia não, especialmente quando a frescura do som não parece permitir contar uma história coerente e definida do princípio ao fim do CD diferente de uma viagem a 300 m/s numa montanha russa onde o enjoo do movimento é o fim certo.

Assim, este não é um álbum de estreia absolutamente perfeito, mas deixa boas indicações assim que a energia que emana é domada e surgem canções onde os ouvidos estão noutro território como “Green”, “Chances, Blown” e o single “Stranger in a strange land”. Só falta ser uma criança para sempre, com cabeça de 30 anos ou mãos nos andarilhos – porquê crescer e caminhar em segurança sem ter a noção do caos?
Estivemos também à conversa com os vocalistas Pipa Marinho e Diogo Carneiro, sobre o álbum, a evolução da banda e a música em Portugal.



Lançaram o EP em 2009, fizeram concertos de divulgação do mesmo, surgindo alguma projecção, e agora lançam o vosso primeiro álbum. Consideram a vossa ascensão rápida, comparada com outras bandas do género?
Pipa Marinho – Não sei o que defines por “alguma projecção”.
Diogo Carneiro – Também não sei o que defines como “rápido”..
Isto porque o álbum não é um momento assim tão fácil de atingir para uma banda em Portugal, a não ser que a banda em questão tenha uma música minimamente acessível. Para o tipo de música que fazem, não acham que teve um reconhecimento mais fluído que o habitual?
D – Quanto ao álbum, achámos que seria importante fazer um álbum, em oposição a fazer outro EP, porque tem uma exposição que o EP não oferece. Nós encaramos o EP como uma obra de apresentação, de certa forma.
P – É uma primeira tentativa.
D – Exacto. Sabíamos que, após termos dados alguns concertos e termos recebido bom feedback dos mesmos, oportunidades de exposição na televisão e outros meios de comunicação, o álbum seria o passo seguinte. Quanto ao nível de notoriedade, ficamos felizes quando nos dizem que atingimos determinado patamar, porque não nos dá a impressão de que obtivemos assim tanta projecção quanto isso.
P – Mas também ficamos contentes que não seja uma coisa muito repentina, mais vale que seja gradual e que as pessoas gostem, ficando à espera do próximo álbum.
D – Estar na moda também não é propriamente para nós..
P – Acho curiosa essa ideia de que gravar um álbum em Portugal não é fácil. Eu achava também isso, agora já não acho tanto. Há cada vez mais recursos para as bandas gravarem as suas próprias músicas. Nós optámos, por acaso, por gravar num estúdio, tudo feito da forma tradicional, com produtor e todos os custos que isso envolve, mas há muitos grupos que gravaram elas próprias o seu material, e não é por isso que não têm notoriedade e qualidade.
Uma pergunta que não é fácil fazer às próprias bandas: o que é que os Iconoclasts têm de diferente?
D – Não é fácil de todo! Mas por um lado, acho que a composição da banda é um ponto de diferença, por sermos seis e por termos todos um gosto musical distinto, ouvirmos estilos diferentes, e todos sabermos tocar mais do que um instrumento. Todos têm algo para contribuir, e isso, sem querer rebaixar ninguém, acaba por tornar o nosso som mais completo, com mais opções, tanto a nível de equipamento como a nível de pessoas que tocam e ideias, do que a generalidade das bandas. Por outro temos também o factor “ao vivo”. Modéstia à parte, penso que ninguém dá um concerto como nós, excluindo talvez bandas hardcore. Para uma banda que não se enquadra neste estilo, acho que temos os concertos mais hardcore de Portugal (risos). Essa força toda é algo que surge por nossa necessidade de nos estravazar-mos em palco, é tudo muito natural.


Desde o início deste projecto, houve algum momento em particular no qual se aperceberam que se estava realmente a tornar sério?
D – Nós começámos já muito a sério. Quando entrei para a banda, estava o resto do pessoal a compôr as músicas que iriam sair no EP, onde eu também participei, e posteriormente fomos gravar. Mas da minha entrada à gravação do EP passou muito pouco tempo, foi algo muito premeditado. Já tínhamos a noção de que as nossas músicas eram, na nossa opinião, boas, e queríamos divulgá-las e levá-las a sério, não fazendo delas o nosso trabalho mas sim o nosso segundo trabalho, a segunda coisa mais importante para nós na nossa vida futura. Ou seja, o projecto, desde o início que o levámos a sério. Claro que houve alguns momentos que nos confirmaram que estávamos a ir na direcção certa: o 1º lugar no festival Termómetro, mais recentemente, que foi um bom reconhecimento, na altura em que andávamos em concursos de bandas – um pouco obrigatório para bandas que começam – também obtivemos algumas boas prestações e bons lugares, mesmo quando não ganhávamos, era-nos reconhecida qualidade suficiente para nos levar mais à final. Foi todo um conjunto de pequenas circunstâncias que nos levaram a pensar que estaríamos no bom caminho.
P – Penso que internamente, e a nível burocrático, algo que definiu a certeza na seriedade do projecto foi quando começámos a trabalhar com a Raquel (Lains), a nossa agente e promotora. Nunca ninguém tinha trabalhado para nós, para divulgar a nossa música.
Sentiu-se muito a diferença, portanto.
P – Podes conhecer muitos músicos, podes conhecer imensa gente da indústria, mas se tu já és um promotor reconhecido, as pessoas dão-te outros ouvidos, quanto a marcar concertos e a divulgar a banda. Felizmente mas também infelizmente, é assim que as coisas funcionam. Essa função sair do foro interno e passar para alguém de fora, foi um passo muito importante e uma grande ajuda.
D – E dá-nos mais tempo para nos concentrar naquilo que realmente estamos aqui para fazer, que é a música.
Qual foi o acontecimento que mais marcou os Iconoclasts pela positiva?
P – No outro dia também me perguntaram o melhor momento. Não sei se foi o melhor, até porque já foram muitos, mas o primeiro que me veio à cabeça foi o concerto no Bacalhoeiro.
D – Foi uma coisa muito boa. O Bacalhoeiro não é um espaço muito grande, mas é um sítio muito giro. Quando fomos lá tocar, não sabíamos quantas pessoas iriam lá para nos ver. Aquilo estava a abarrotar! O que nos deixou surpreendidos, também por serem pessoas que conheciam as letras e as músicas. Diz-se “intimista” para concertos mais acústicos, mas este foi intimista de uma forma pouco comum, pelo quantidade de pessoas que foram e pela dimensão reduzida do espaço, para aquela gente toda.
P - O público estava mesmo em cima de nós, o palco era praticamente todo para a bateria, e nós tivemos de ficar de fora dele. Não sabíamos como é que íamos ali tocar, mas depois foi dos melhores concertos que demos, senão o melhor.
D - Costumamos ter sempre alguma dificuldade com os palcos em que actuamos. Mesmo no Musicbox, que não é de todo minúsculo, tocámos lá 4 ou 5 vezes e cada vez mais se torna difícil mexer-nos lá dentro, nós somos muitos e levamos muito equipamento.


Para quem não vos conhece muito bem, qual é a diferença entre o EP e o álbum?
D – Pode-se dizer que o álbum é um registo mais escuro. Também mais pensado, mais ponderado, tanto a nível lírico como a nível musical. As músicas são maiores e mais trabalhadas pela banda em geral.
A vossa intenção mudou, do EP para o álbum?
D – Foi um desenvolvimento natural. Fizemos o EP há três anos, o disco está feito há pouco menos de um ano. Houve uma evolução natural das músicas que andávamos a ouvir e da música que queríamos fazer, desde o EP, e isto reflecte-se no disco.
Em Portugal não é fácil viver na música e da música. Da vossa experiência enquanto banda, o que é que aprenderam até hoje e que conselhos é que podem dar a um grupo que esteja a começar agora?
D – A coisa mais importante que eu aprendi é que não há dinheiro. As salas de espectáculo, as pessoas, eles não têm dinheiro.
P – Se tiverem oportunidade de criar os vossos próprios eventos, façam-no. Há muitas bandas que o fazem agora. Nós não fomos muito por esse caminho, mas é algo de que já falámos, e que talvez façamos no futuro. Muitos grupos unem-se, criando o seu próprio núcleo de bandas, e levam esse núcleo a vários pontos do país. É algo que funciona sempre bem: com mais bandas, chamas mais pessoas e tens um apoio diferente. Uma banda sozinha vai continuar mesmo sozinha se não tiver a ajuda de outras pessoas. É bom que se rodeiem tanto de pessoas da indústria como de outras bandas.
A questão do dinheiro é incontornável? A música está financeiramente mais pobre, mas surgiu uma nova vaga de concertos grátis, oferta destes é coisa que não falta..
D – Os concertos grátis são sempre exequíveis desde que seja na cidade onde a banda vive. Nós não procuramos assim tanto dar um concerto grátis em Lisboa, mas é possível, quer sozinhos, quer com outras bandas, que seja grátis ou com um preço que dê apenas para recuperar os custos, e isso vai acontecendo por aí. Torna-se um bocado impossível quando queres ir tocar fora. Já nos aconteceu ter que pagar para tocar em sítios fora de Lisboa, as pessoas por vezes não têm noção dos sacríficios que uma banda faz para tocar fora da sua cidade.
P – Isto talvez vá contra o que eu estava a dizer, mas as bandas também se podem tornar mais auto-suficientes. Precisas de apoios, mas se não os tiveres, esse também pode ser o caminho. A questão do dinheiro torna-se incontornável a nível dos concertos, já que o que dá dinheiro agora são eles e não a venda de discos. Se nós quisermos voltar a gravar num estúdio e formos pagar essas horas de estúdio, precisamos do dinheiro dos concertos. Ou isso, ou pagar do nosso bolso, para continuar a fazer aquilo que gostamos, e daí os sacrifícios que o Diogo estava a dizer.
D – Tenho vindo a notar que, felizmente, há uma crescente intenção das maiores marcas comerciais em apostar na música portuguesa e mais underground, até porque as próprias marcas têm menos dinheiro e vêem nestas bandas uma alternativa mais barata. Isso acaba por ser uma benésse. Há agora um evento no Porto, a D’Bandada Optimus Discos, é uma boa iniciativa para a música portuguesa, a sala de espectáculos TMN ao Vivo aqui em Lisboa, começa a haver essas apoios por parte das marcas portuguesas que, às vezes, ajudam muito as bandas a evoluir. Ao mesmo tempo, acabam por apostar em coisas mais confirmadas, como foi o caso dos Mão Morta no TMN ao Vivo, não há nada mais confirmado em português do que eles. Há este apoio mas não há assim tantos mais.
Fala-se muito dos problemas da indústria musical portuguesa, mas conseguem destacar alguns aspectos positivos?
P – É algo que não se adequa no nosso caso, mas durante muitos anos houve um grande preconceito contra as bandas que cantavam em português. Agora é mais ao contrário, as pessoas valorizam muito mais uma banda que cante em português do que em inglês. É bom que haja este apoio por parte do público. Mesmo só por ser uma banda portuguesa, as pessoas já as estão a olhar de uma forma diferente da que olhavam há uns anos atrás. Há iniciativas, como o Diogo disse, além das marcas até, como os Novos Talentos FNAC, onde nós nos incluímos na versão deste ano. São ajudas muito valiosas, parecendo que não. Se calhar, sem esse tipo de exposição, esta entrevista não acontecia, por exemplo. Há ajuda e há interesse nas bandas, claro, mas ainda falta percorrer algum caminho.
D – Outro aspecto positivo é o de, com tanta coisa de menos positivo que acontece a quem faz música em Portugal, quem o faz é por amor à camisola, independentemente de qualidade, estilo, de serem bons ou maus. Quem leva a música minimamente a sério em Portugal, é porque gosta imenso, é porque sente necessidade de fazer música para outras pessoas. É o nosso caso e o de muitas outras bandas que nós encontrámos em concursos, concertos aqui e ali. Há poucas bandas para o tamanho do país, comparando talvez com a Suécia, que, apesar de ser uma realidade financeira diferente, tem muito menos gente que nós, e são o terceiro ou quarto exportador de música a nível mundial. Eles também têm mesmo subsídios e outro tipo de apoios, mas pode-se comparar de qualquer das formas.
P – É um pouco triste ver bandas em Portugal que, ao fim de uns anos, desistem. É uma das coisas que mais me preocupa, e um dos nossos objectivos é conseguir continuar a fazer música. Não o viver dela, mas ter meios para poder fazer música.


Sobre toda esta vaga de bandas portuguesas que se tem vindo a destacar nos últimos 3 ou 4 anos: o que é que mudou para aparecerem tantas em tão pouco tempo?
D – É mesmo isso, houve uma explosão de bandas portuguesas que emergiram e também de publicações que se dedicam a tratar das bandas e dos festivais portugueses. Penso que um dos motivos é a internet ter finalmente chegado à música portuguesa, noto que grande parte da divulgação desses projectos é pela internet, seja pelo facebook, blogs ou sites da área. Outros dos motivos é a crescente facilidade que existe em fazer música em casa. Compra-se uma placa de som, é só preciso ter um instrumento, que nem tem de ser muito bom, e já se pode estar a gravar a sua música com uma certa qualidade. Não há a dificuldade de antigamente, em que se tinha de arranjar um baterista, procurar um estúdio, etc.
O que podemos esperar dos Iconoclasts nos próximos tempos?
D – Estaremos este fim de semana (a entrevista foi anterior a estes concertos) no ADN, em Setúbal, e na Sociedade Harmonia Eborense, em Évora. Dia 14, vamos tocar no Restaurante Vinyl, em Alcântara, e para já é isso. Nós queremos muito tocar no norte do país, não vamos lá há algum tempo, estamos a tentar agendar algumas datas, que aparecerão entretanto no facebook.
(análise ao Mt Erikson da autoria de André Gomes de Abreu)




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