quinta-feira, 26 de maio de 2011

CCBEAT - Diabo na Cruz e Linda Martini


Uma iniciativa ímpar no Centro Cultural de Belém. Este espaço recebeu um festival de música rock urbano actual, algo a que o público do CCB não está habituado e algo que os fãs das bandas participantes não estão habituadas a ver num espaço como este. É sempre bom ter público diferentes em sítios diferentes, ganham as bandas, o espaço, o público e, no final, a música portuguesa.


No dia 21 de Maio, os primeiros a subir a palco foram os Diabo na Cruz, liderados por Jorge Cruz e B-Fachada.



Toda a música desta banda é uma óbvia homenagem ao passado musical português, sim, mas toda esta banda percebe muito de rock. As diferenças entre uma boa banda de rock e os Diabo Na Cruz são quase nenhumas, até ouvirmos a braguesa, o duo vocal de Cruz e fachada, as referências ao meio rural e o sintetizador que nos lembra um acordeão perdido no tempo, facto surpreendente pela modernidade que normalmente é atribuída ao som do synth. É de génio a forma como se pega num instrumento super actual e esse mesmo dito nos leva para trás no tempo.

Começaram com um som etéreo, meio celta, meio ibérico, em que se notava claramente a intenção da banda, quer do modo como tratam a parte estética da banda quer como encaram a sua própria sonoridade. Passaram por "Os Loucos Estão Certos", "Dona Ligeirinha", "Corridinho de Verão", espalhando literalmente magia pelo auditório, onde o rock português se fez sentir durante todo este evento, como nunca tinha acontecido.


Ao vivo, a musicalidade deles explode. O público adere no momento a todos os pedidos da banda, e quando a banda não pede, eles estão lá na mesma. Conseguem pegar no rock de várias formas, passando pelo indie, pelo rock dos anos 60, até um rock mais pesado. Tudo o que eles fazem é uma lição rock para todos os músicos terem na ponta da língua. Cruz está nas suas sete quintas com o público, vê-se que sabe o que está a fazer e tudo lhe sai naturalmente. A banda no geral dá-se toda muito bem ao vivo, mas Cruz é claramente o líder.



Eles representam o novo músico português do século XXI. Dão-se muito bem em palco, tocam coisas que nos são familiares desde criança, cantam a nossa língua de uma forma impecável e respeitam a música folclórica nacional sem desaprender tudo o que se faz lá fora. Durante o seu espectáculo, mais que tocar os seus hits, mais que mostrar a sua música, mais que acabar com um autêntico festival rock para apresentar os elementos da banda individualmente, os Diabo na Cruz mostraram qualidade. Qualidade que fica no ouvido, qualidade que nos deixa a pensar "Porque é que ainda não tenho cd deles?".


Para fechar a noite e este grande evento, os Linda Martini, que não menos apoio teve do público que esteve presente.



Os Linda Martini vieram a cimentar, durante este tempo todo de concertos em todo o lado e dois álbuns, uma espécie de Rock Furioso, carregado de influências emo e hardcore. Ouve-se muito as guitarras e todo o ambiente é por elas caracterizado, mas quem manda na música dos LM é mesmo a bateria, comandante de toda a raiva despejada em formato musical por cada palco que passam. Cada estrondo no prato, na tarola ou no bombo, cada ritmo fresco e imprevisível imprimido por esta central de força marca o passo na sonoridade dos Linda Martini.

A voz de André Henriques tem algo que provavelmente passará despercebido ao mais desatento ouvido: um ligeiro toque de fado. Toda aquela tristeza, todo aquele chorar, acentua o lado mais emo da banda, de uma forma muito portuguesa. Não canta como um fadista, mas toda a cadência é quase de quem já o fez durante muito tempo. As guitarras parecem imersas numa batalha imensa, de distorção, delays e vôos nocturnos.

Em músicas como "Dá-me a tua melhor faca" e "Amor Combate", a vasta legião de fãs desta banda fez-se sentir. Ao cantar as poucas partes cantadas das músicas (no caso da primeira). Os LM apostam imenso numa vertente instrumental longa, entoando apenas poucas palavras durante a música, dando ainda mais personalidade à música. Com uma parte lírica reduzida mas com grande impacto, a música ganha outra cor e outra força, outra intensidade.

Também se sentiu o jogo "Loud vs Quiet", em que a música pára subitamente para deixar ir aparecendo, progressivamente, uma fase mais agressiva da faixa em questão para rebentar de fúria e emoções acumuladas no final, algo que os Linda Martini dominam e fazem tão bem. São exemplares na forma como puxam da interpretação de emoções através de um ou dois simples instrumentos de cordas. Destaque ainda para "Juventude Sónica", um tema do mais recente álbum "Casa Ocupada", em que é feita uma análise coerente com o som do grupo à sonoridade dos Sonic Youth.

Ainda houve tempo para faixas como "Estuque" e no final de tudo "Cem Metros Sereia", música de uma frase apenas (e basta) em que o vocalista pediu que os público subisse a palco. Foi a invasão que se viu na foto acima, não uma invasão de palco, mas "uma invasão de carinho", como explicou a banda no seu facebook. E desta forma se viu a força de um grupo que tem vindo a ganhar cada vez mais força e fãs, e mais que tudo isso, uma identidade muito própria.

Obrigado ao CCB pelas acreditações e parabéns pela iniciativa! Que haja mais brindes destes para a música portuguesa. A cultura agradece!

(fotografias da muito talentosa e incansável Catarina Alves!)




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