quarta-feira, 25 de maio de 2011

Amor Electro - "Cai o Carmo e a Trindade"



Quando se faz uma crítica, submete-se a nossa própria subjectividade ao julgamento feito pela subjectividade do destinatário dessa crítica: o destinatário desta crítica é o leitor aí do outro lado. Enquanto leitor/interlocutor, a minha leitura favorita são, sem qualquer dúvida na sua
evidência, os comentários que vejo, ouço e, por fim, registo. Sobre os Amor Electro, numa conversa de café outro dia, estava um fã dos Donna Maria a dizer-me que “os Amor Electro são os novos Gift”.


A afirmação, tal como todas as próximas palavras, caminha dificilmente num ligeiro equilíbrio entre duas faces de uma mesma moeda que está a balançar sem cair, a balançar para não cair. Claro que sendo extremamente redutora – repare-se no mais recente disco dos Gift, um exemplo de transformação de uma banda - a afirmação leva-nos para um estado de reflexão de onde, na verdade, se torna, por fim, complicado de sair.



O que é afinal “Cai o Carmo e a Trindade”? O que pode ser? O disco de estreia do novo grupo de Marisa Liz, após os Donna Maria, enquanto aponta alguns traços de mutação num formato
indiscutivelmente “pop”, viaja pelo património português, habitáculo de canções bem conhecidas dos Ornatos Violeta, Amália Rodrigues, Sétima Legião ou GNR, lembrando a quem os ouve, ocasionalmente e com razão, os Gift que o “mainstream” destapou nos singles de “AM/FM”, os Amália Hoje, os Donna Maria, mas lembrará também tudo isso e mais qualquer outra coisa em canções originais.



E assim continuamos: se por um lado falta amiúde à grande maioria do público que ouve música
um conhecimento sólido da herança do passado musical português, esse conhecimento não será sedimentado com um disco repleto de versões de “clássicos” portugueses, dir-se-à. Tal como não alinho pela opinião redutora em parte que me guiou para esta resenha, prefiro não me ficar por aqui, bem assim - quando se fazem versões personalizadas como as que aqui ouvimos, vale a pena escutá-las, conhecê-las, apreciá-las.

Quer-se então dizer que estamos a ouvir uma nova “banda de versões” e não uma nova “banda de originais”? Esta questão esclarecer-se-à com um eventual segundo registo onde vejamos o predomínio de novas canções – o registo de estreia fica oscilando pelo viço “pop” de reconstruções que podem encolher o espaço dos temas inéditos, esses os que devem sustentar o interesse neste também novo projecto e sustentar o seu sucesso, permitindo-lhe sair de uma colagem fácil feita por quem ouve a lugares de destaque por outras bandas anteriormente ocupados, como se a partir de certa altura, uma banda “pudesse” trocar o seu direito ao
mérito e sucesso pelo direito de se redefinir.


André Gomes de Abreu




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