terça-feira, 12 de abril de 2011

ENTREVISTA: The Rising Sun Experience

Foi num espaço vintage que conheci os The Rising Sun Experience. Sempre bem dispostos e muito abertos a falar da banda e de música em geral! Foi uma entrevista longa mas super interessante esta que fica disponível no BANDCOM. Em discurso directo, Tiago Jónatas, "o maestro" da banda e baixista, e Nuno Cardinho, o guitarrista. Venham conhecer uma das melhores bandas hard-rock da recente música portuguesa.


Como se conheceu a banda e como começou o projecto?

Tiago: Começou comigo e com o Alex, que tinha estado comigo antes numa banda, e formámos o projecto. A partir daí, contactámos e juntámos outras pessoas que tivessem um bocado ligadas com este ambiente. Entretanto algumas pessoas também saíram após gravarem o álbum, como foi caso do Alex na guitarra, entrando depois o Cardinho, o Daniel na bateria. Nunca chegámos a tocar ao vivo com a formação original, a ideia inicial era gravar o álbum primeiro e só depois tocar, fazendo o contrário daquilo que as bandas costumam fazer.

Estão arrependidos dessa opção ou é algo que se deve fazer?

T: Não acho que se deva ou não fazer. É um método, uma forma das coisas serem feitas

Tocam só originais desde o início do projecto?

Nuno Cardinho: Sim, a banda era e é totalmente virada para música original. Aliás, quando nos foi pedido para participar no Festival/concurso Termómetro, pediram também para tocar uma cover. Não estávamos interessados a participar na competição mas achámos a oportunidade boa para ganhar visibilidade, mas fizemos uma nuance de cover, uma versão de uma versão de outra música. Mas a nossa não é, de todo, a de fazer covers.

E essa atitude perante os covers tem-vos limitado no que toca a concertos?

NC: Em Portugal, há duas hipóteses: ou realmente tens o balanço de alguém que te transporta e que organiza tudo por ti, ou andas por tua conta, que é o nosso caso. Há sitíos que temos oportunidade de tocar porque normalmente procuram sempre bandas de originais e covers, mas espaços como bares nem nos abrem essa porta, nem nós a queremos abrir, porque os espectadores que vão para ver covers não nos apoiam muito, e as bandas vivem muito da energia do seu público. Além disso, nós temos alguns requisitos em termos de espaço e de condições, no nosso equipamento e número de elementos em palco – somos 6 pessoas, com muito equipamento adjacente.

T: Usamos percussão, muitos pedais..

NC: Nós os dois somos grandes apreciadores de pedais e usamos bastantes. Depois é a bateria, o orgão, as congas.. Por termos estes requisitos, e aliando ao facto de haver espaços que não tem interesse em lá levar certas bandas, ou que cobram por isso. As bandas de originais vivem muito isso. E nós andamos sozinhos, sou eu e o Tiago que tratamos das lides da divulgação.

Pode-se afirmar que tocam rock, e é o que normalmente as pessoas associam aos The Rising Sun Experience. Acham que esta descrição é incompleta?

T: Uma boa definição será o Hard Rock, é a base, por mais influências que tenhamos. Isto porque as bandas dos anos 60, 70, tinham uma formação semelhante à nossa – guitarra, baixo, orgão, algumas percussão. A nossa ideia também foi trazer as congas para o rock e o orgão para a frente da banda, em vez de estar lá atrás e só fazer acompanhamentos, ir também para solos.

NC: Costumam-nos rotular com o rock dos anos 60, 70, mas para nós é sempre um pouco ingrato, há sempre essa tendência de colarem e de rotularem. Como as pessoas vêem o órgão em destaque, há sempre a tendência para nos acharem revivalistas. Foi menos uma tentativa de nos colar mas mais uma recuperação dessa vertente.

T: Não somos de todo isso. Gosto daquela época, identifico-me, mas mais pela forma como as coisas eram feitas, a originalidade, a despreocupação pelo que estava ou não estava na moda.

Apesar do orgão remeter para essa época, depois temos as vossas guitarras, cuja diferença para as de hoje em dia é quase inexistente..

NC: Sim as guitarras, são no máximo anos 90.

T: E as dos anos 90 estavam baseadas nas dos anos 70.



É um ciclo vicioso.

NC: Sim, eles depois fugiam muito pela forma de montar as músicas. A estrutura musical, os compassos, a harmonia, as melodias presentes na música, fomos de lá beber o que melhor se fazia, buscar inspiração. A sonoridade em si é intemporal .

T: E depois há o improviso, malhas mais jazzisticas, todas essas referências que tornam o género diferente e eterno. Isso puxa-nos para aquele tempo, além da própria imagem da banda.

É um desafio pegar numa vertente musical que já não está propriamente na moda, por mais que se goste?

T: Eu acho que ainda está mais na moda agora, do que quando o disco saiu. Estamos na terceira vaga do hard rock, depois dos anos 70 e dos 90. Há muitas bandas a surgir, a fazer este género de coisas, cada vez mais se fala delas em Portugal, antes existiam mas não eram faladas. Digo o stoner rock, o rock psicadélico.

NC: E não é por deixar de estar na moda que se vai deixar de fazer. Mesmo que seja um nicho da população que oiça, dentro dos ouvintes do rock, vale sempre a pena. Não somos uma banda comercial, não temos essa intenção. Deitamos cá para fora a nossa necessidade criativa, materializamos aquilo que gostamos de ouvir. Para nós continua a fazer sentido.

T: Fazemos música de uma forma honesta, de uma forma por vezes contra o que a rádio quer, com músicas mais longas que o normal. Não é que estejamos a fugir do mainstream, é uma questão de identidade e de honestidade.

Não têm por trás uma editora ou uma agência para vos apoiar. A nível concreto, quais são as dificuldades inerentes a essa escolha?

T: Na produção e na divulgação. Se fôr uma empresa a fazê-lo, a tua banda é mais divulgada, tens mais concertos, mais sitios para tocar.

NC: No nosso caso, ligamos para bares, negociamos com preços relativamente baixos, comparando com a nossa situação caso tivéssemos uma agência a negociar por nós, que conseguiria preços mais altos. Acabamos também por perder a vantagem que tem trabalhares com quem já conhece o mercado e que, quando manda uma banda tocar nalgum lado, já tem a próxima em vista para o mesmo local. As coisas ainda funcionam pela qualidade, mas não consegues é ir tocar aos sítios que queres e tocar o que gostavas e ter retorno.



Que feedback é que vos tem chegado, em relação à música que compõem? Coisas boas e más..

T: Coisas boas tem nos chegado de pessoas mais velhas principalmente, gostam da ideia de pegar em tudo isto outra vez.

NC: Hoje em dia também estamos numa altura em que mais depressa se diz mal do que ao contrário, a não ser que gostes mesmo muito. Mas tivémos realmente opiniões positivas, quanto a coisas más, têm-nos falado da voz, a forma como o Nélson canta, mas isto diziam-me pessoalmente, fora da internet e isso, amigos meus, pessoas que eu chateava para comprar o cd (risos).

T: Houve uma crítica que saiu no JN que dizia que o cd devia ter sido feito há 40 anos atrás, a maneira como isto foi dito era de uma forma pejorativa, má. Para mim, era boa porque a intenção do disco era essa. Um disco bem feito, bons instrumentistas, mas que não trazia nada de novo.

Usam o improviso como método de composição?

T: O improviso tanto pode ser ao vivo, em que há uma altura própria e predefinida para tal dentro da música, onde podemos estar à volta de uma nota, escala ou acorde, como em composição, mas aí, no nosso caso, já é tudo muito mais pensado. Por vezes, gosto muito de deixar a gravar e tentar que os músicos criem coisas novas na hora.

NC: O Tiago, sendo o maestro da banda, ele é que sabe estruturar as músicas nesse aspecto. Ele diz que em certo espaço vai haver um certo número de tempos para, de forma espontânea, improvisarmos, fazer algo de diferente aí. Às vezes, é preciso ir estudar aquilo que saiu.

T: Mas nunca parte do zero, é feito de uma forma mais jazz, em que há espaços próprios para isso.

NC: Há uns mais abertos, mais noise, psicadélicos, aí sim tens coisas mais flexíveis, mas nós usamos mais o outro tipo. De início, nos nossos primeiros concertos, até íamos um pouco por aí, brincando com efeitos, pedais.. Por vezes quem gosta mais disso é quem os está a fazer e menos os que estão a ouvir..

Falem-me dos concertos que deram até hoje e que vos marcaram, pelo lado bom ou nem por isso.

T: Há concertos melhores que outros, mas têm todos a sua particularidade. Nós gostamos de tocar, todos os concertos são bons se formos por aí. Talvez o primeiro no Maxime, bom público, boa casa. No Musicbox eles também não esperavam ter tanta gente quando lá fomos.

NC: Apesar de ser para público sentado, o Maxime tem uma energia diferente. O palco é grande, o próprio estilo de luz.



Qual o futuro deste projecto? Há um álbum em preparação, o que podemos esperar?

T: Estamos em pré-produção e composição. O futuro passa por aí, pelo respectivo lançamento e voltar a tentar entrar no ciclo de promover, dar concerto, etc.

NC: De momento, não estamos à procura de concertos. Houve possibilidade de começar a dar concertos nas FNAC’s, tocando o álbum anterior mas já com o novo no horizonte, mas a nível interno da banda estamos mais interessados em reestruturar um pouco o nosso som, para preparar o próximo álbum.


No facebook do BANDCOM, vê o resto das fotografias tiradas nesta sessão!




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