quarta-feira, 2 de março de 2011

Cakes and Tapes ENTREVISTA

Uma entrevista diferente, feita com uma editora portuguesa, em crescimento notável no mercado português e internacional. É importante também perceber o que se passa do lado de quem vende e produz os discos, não representassem eles um elemento importante na música. No mínimo interessante, o que a C&T nos tem para contar.


Falemos da Cakes and Tapes e do que tem feito até hoje.

A Cakes and Tapes começou a tomar forma algures no Verão do ano passado, naqueles dias em que não se passa nada e em que todos tentamos arranjar maneiras de salvar o mundo, ou, simplesmente, de arranjar algo para fazer. Em Setembro fizemos os primeiros três lançamentos e atingiremos a primeira dúzia no mês de Março. O nosso principal objectivo de momento é conseguir criar uma base de fãs - não só dos nossos artistas, mas da própria editora - que nos reconheça qualidade e confira credibilidade, elementos necessários para que passemos ao próximo nível e possamos fazer edições mais "arriscadas" e noutros formatos, como o vinil.

Numa perspectiva menos corporativista e mais altruísta, uma das coisas que mais nos orgulharia seria ver os nossos "pequenos" artistas a conseguir assinar por editoras maiores, serem reconhecidos pelo grande público e poderem viver da música. A qualidade de muitos deles não deve absolutamente nada a nomes de que estamos fartos de ouvir falar.

Quanto a dificuldades, a principal será mesmo a credibilidade que ainda não temos junto da maioria da imprensa (online e escrita). Se não houver gente influente a falar bem dos nossos discos, poucos os irão comprar, por muito que gostem. Mas, felizmente, não me posso queixar muito das vendas. Dão para manter a editora activa, mas não dão o alento (leia-se "dinheiro") necessário para fazê-la crescer.


Consegues descrever o maior feito que a C&T concretizou até à data?

Conseguimos fazer com que pessoas que nunca tinham comprado uma cassete na vida o fizessem em pleno início da 2ª década do século XXI. Não somos nenhuns pioneiros, mas nada mau.

Têm investido nas cassetes, além dos CD's. A que se deve esta procura e oferta deste tipo de produto?

Apenas o (belíssimo) EP do Luís Costa tem edição em CD-R, feita pelo próprio autor, já que muita gente disse que gostava de o comprar mas não tinha onde ouvir a cassete. Todas as outras edições apenas existem no belo pedaço de plástico colorido. Escolhemos fazer edições em cassete porque A) os custos de produção, em relação ao vinil, são muito mais baixos e B) ao fazer edições em CD-R, não haveria nada que nos destacasse de tantas outras editoras que o fazem há anos e anos.

As cassetes são visualmente muito mais apelativas que os CDs e tão baratas de produzir. E, convenhamos, se alguém quiser ouvir as nossas edições no leitor de CDs do carro, basta fazer o download gratuito no nosso Bandcamp e gravar um CD. Ou seja, lá no fundo, qualquer um lá em casa poderia fazer o mesmo que nós, caso lançássemos CD-Rs.

O que é que implica a transição de "Netlabel" para "Label", é uma transição tão difícil quanto parece?

Não existe transição alguma, somos ambas as coisas ao mesmo tempo, ou nenhuma das duas. Somos uma "label" especializada em cassetes que não se importa de disponibilizar as suas edições para download gratuito no seu website. Caso não o fizéssemos, alguém o faria noutro sítio qualquer, provavelmente com mp3 de qualidade inferior e sem ligações para o site da editora e do artista, nem um texto a acompanhar. Não queremos com isto dizer que a música deva ser grátis, mas nós preferimos que assim seja. Pelo menos os ficheiros mp3, claro.

Que feedback estão a ter as edições e os artistas publicados pela C&T?

Têm sido cada vez mais bem recebidas, com os blogs da moda a postar as canções e os vídeos, sempre que existem, ou a fazer notícia com a saída dos álbuns. Mas o que nos interessa é que haja mais ouvintes atentos ao que vamos lançando. A nossa última edição, o EP Fade Cave de Yellow Ostrich, corre mesmo o risco de esgotar. O que seria uma primeira vez para nós e um feito assinalável.

Site da Cakes and Tapes


O que é que a Cakes and Tapes pode prometer às bandas e artistas que recorrem à editora?

Como é óbvio, já que não temos a influência que grandes editoras têm, não podemos prometer mundos e fundos. Podemos sim fazer com que tenham, finalmente, algo físico que os fãs possam comprar (a esmagadora maioria dos nossos artistas ou é estreante nas lides discográficas ou apenas editou por netlabels anteriormente) e ajudá-los a terem alguma exposição (alguns dos nossos artistas já estão a caminho de editoras maiores).

E, claro, oferecemos toda a ajuda que pudermos para que melhorem o seu trabalho e evoluam como artistas. Na Cakes and Tapes falamos com os artistas como amigos, tentamos que a nossa relação não seja do tipo "patrão-empregado".

Qual é a relevância das netlabels no mercado musical português?

Há netlabels muito boas a fazer um trabalho excelente. Como seria de esperar, grande parte dos melómanos do nosso país negligencia-as (ou grande parte delas). "Se é de borla não presta", "se estão numa netlabel é porque não são bons o suficiente para arranjar uma editora a sério".

A única que tem alguma notoriedade a nível nacional é a Optimus Discos (claro que é patrocinada, claro que tem meios de que muitas editoras sem o prefixo "net" não dispõem, mas não invalida que têm feito um excelente trabalho), mas existem grandes netlabels em Portugal com muita qualidade, constante ao longo dos anos, como são os casos da Enough Records, da MiMi, da Test Tube, da Música Pop Desempregada, entre outras.




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