O nome pouco habitual deixava adivinhar uma sonoridade estrangeira, algo pouco nacional e muito experimental. Ora nenhum dos três está certo,após se ouvir este trio de Lisboa. Fala-se muito ultimamente de pegar na tradição musical portuguesa (Diabo na Cruz, Deolinda), de uma forma mais ou menos directa. As bandas que o fazem pegam sempre nisso de uma forma moderna mas sem desafiar assim tanto os princípios do nosso "folk". Os Guta Naki foram por outra via, mais arrojada.
É cantar português que se ouve, mas a novidade está num electro pop com uma intenção muito influenciada pelo fado. Não nos instrumentos usados pelo fado, nem pela temática das letras, mas pelo tom escuro das músicas. Descrevem-no como "Um fado electrónico com baixo e guitarra…eléctricas", conceito tão claro em "Blues". É uma nova perspectiva no tratamento do som português e sem dúvida uma forma completamente original de concretizar essa intenção.
Um elemento muito importante é a voz da vocalista, Cátia Pereira. A interpretação é extraordinariamente invulgar. Controla, da forma como bem lhe apetece, o volume da voz, tanto chora como grita, tanto é doce como magoa, além de uma dicção perfeita. Por vezes, até nos premeia com rasgos mais soul, com a voz mais abafada. Numa altura em que programas de televisão em busca de grandes vozes imperam, é incrível como vozes destas passam ao lado de toda aquela mediatização.
Outro pormenor interessante é a forma como a banda lida com a percussão, não recorrendo à normal bateria mas sim aos sintetizadores. Em "Blues" nem existe, em "Margarida" sente-se o tom electro da banda (apenas na percussão contudo). Tanto tende para o standard acústico como é usada em modo super-synth.

Estão em tour pelo país, e para quem está a aderir á moda do "Espera aí que estes cantam em português e até soam bem", esta banda é incontornável, sendo um desperdício não lhe dedicar uns bons minutos a escutar o que têm eles para nos oferecer!
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