sábado, 14 de março de 2015

CINEMUERTE - "DHIST" (2014, raging planet)




No ativo desde 2002, os cinemuerte editaram no final do ano 2014 "DHIST", o primeiro de uma série de 3 EP’s que o grupo liderado por Sophia Vieira tenciona editar até ao final de 2015/inίcio de 2016. 
Composto por 5 músicas, este novo registo acaba por corresponder – em parte - ao que a vocalista tinha prevenido no blogue oficial do grupo: “A malta vai estranhar o disco como quem estranha uma pessoa que não reconhece”. 
À primeira audição, duas ou três "estranhezas" saltam de imediato: 3 dos 5 temas têm uma duração superior a 5 minutos, o que só acontecia nos três álbuns precedentes uma ou duas vezes por disco. A própria capa sugere uma identidade menos relacionada com o gótico ou com o metal e, curiosamente, o mesmo acontece com a voz de Sophia que, ora surge de maneira mais pausada, ora acompanha os refrões mais violentos do EP sem a forçar de um modo excessivo. Nota-se menos a importância dada à demonstração vocal, até porque todos nós já conhecemos o potencial em causa, e reforçou-se a vontade de transmitir sentimentos através dela. 







Mais diversa, a voz de Sophia acaba incrivelmente por nos fazer lembrar vozes tão diferentes como a de Chelsea Wolfe, Gwen Stefani ou Rachel Davies, algo muito menos evidente nos três álbuns anteriores. E o mesmo se pode dizer dos instrumentos que vão aparecendo ao longo do EP: os cinemuerte continuam a ser aquela banda inclassificável com influências tanto na pop como na música eletrónica, no metal e no rock de inspiração mais clássica, indie ou gótica. 

Outra das palavras-chave que assenta por completo a este trabalho é, certamente, a intensidade, ou a maneira com a qual a banda brinca com ela. "Dog", primeiro tema de "DHIST", é talvez uma das melhores criações do colectivo até agora. Um registo de mais de 5 minutos onde a voz de Sophia transporta-nos numa atmosfera sombria, auxiliada por sonoridades angustiantes e riffs elevadores. A seguinte "Heaven's Not Too Far" assemelha-se estruturalmente à penúltima "Shining Shadows In The Sand", com menos de 5 minutos e um inίcio lento que explode no momento do refrão. No intermédio, "I’m Too Much Here Without You" é outro dos pontos em que a beleza da voz se destaca, controlada e sem exageros, sobre uma força latente próxima daquela com que se abrem as portas deste disco. Bouquet final: "The Park", uma balada calma e melódica (curiosamente, o tema mais extenso) em que a bateria e as guitarras impressionam enquanto substituem a fugaz ausência da vocalista.





Se noutros trabalhos transparecia sempre o horizonte escolhido pela banda - ora mais eletrónico, ora mais metal ou rock-friendly -, aqui é-nos completamente impossível falar de uma suposta supremacia de um ou de outro género musical. É talvez nessa mescla e coerência que está mais visível a "estranheza" com que se aborda o resultado final fruto das influências múltiplas da banda e do tempo que passa.
Todavia, é no meio de todas estas personalidades inopinadas que se (re)conhece ainda a identidade dos cinemuerte. Essa é, talvez, a maior vitória da banda com este "DHIST".  


Mickaël C. de Oliveira




0 comentários:

Enviar um comentário

Twitter Facebook More

 
Powered by Blogger | Printable Coupons