segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

VITORINO VOADOR - Entrevista

"O Dia Em Que Todos Acreditaram" é o título de um dos primeiros discos a ver a luz em 2015. A estreia em longa-duração de João Gil como Vitorino Voador chega a 19 de Janeiro com carimbo da Azáfama após o EP de estreia "O Vitorioso Voo Do Vitorino Voador" que lá pela primeira edição do Festival Novos Talentos FNAC em 2012 se viu e ouviu ao vivo também pela primeira vez.
Depois de vários espectáculos por todo o país e todo o tipo de palcos e públicos, está prometido que este novo conjunto de canções irá herdar todo esse processo de crescimento, enquanto adaptação e assimilação, que não tem fim, muito menos com uma mente criativa em jogo. Em antecipação, a conversa para desconversar sobre anos de muito trabalho, muitos papéis e muitos pequenos futuros imediatos.






BandCom (BC): Que recordações te deixa 2014 e, por outro lado, o tempo de vida em termos de concertos ao vivo que teve o teu primeiro EP?

Vitorino Voador (VV): Olá. 2014 foi um ano brutal no que toca a concertos que dei, passei pelos palcos mais incríveis onde já estive, corri os festivais quase todos (uma das coisas boas de tocar em várias bandas!) e isso levou-me a conhecer muita gente muito boa e com muita coisa para contar. O meu EP teve um feedback muito positivo e isso levou a que tivesse mais concertos do que aqueles que tinha imaginado. Um dos meus primeiros concertos foi no Vodafone Mexefest e isso serviu logo para matar qualquer medo de me apresentar em palco. Passei depois por outros sítios e todos foram especiais à sua maneira, uns com mais gente, outros com menos, mas sempre com uma reacção muito boa. Foi uma grande lição para mim como músico e frontman pela primeira vez num projecto.


BC: Consegues efectivamente obter um feedback diferente como Vitorino Voador do que como membro de outras bandas? Em que medida?

VV: Como membro das bandas em que toco, recebo um feedback normalmente relacionado com o que faço ao vivo. Como Vitorino Voador as pessoas que falam comigo, falam de outras coisas e interessam-se por coisas um pouco mais escondidas em mim. Perguntam-me como fiz as músicas, sobre o que falo, o porquê disto e daquilo...é diferente, há um interesse um pouco mais profundo por aquilo que faço, mas que acho que é normal já que é uma coisa onde dou completamente a cara e falo abertamente da minha vida.


BC: Vagueando pela Internet, vemos que o “Venha Ele”, por exemplo, já existia em 2012 quando já o tocavas ao vivo. Este intervalo de tempo entre estes dois trabalhos alimentou ainda mais a criatividade, ao ponto de talvez teres que deixar músicas para um outro álbum, ou foi mais um “espera/desespera” para lançar as canções que ficaram já prontas há algum tempo?

VV: Esta é uma pergunta muito boa. O tema “Venha Ele” é um dos temas que tinha planeado colocar no EP, por várias razões isso não aconteceu. Mas gostei sempre muito da música e toquei sempre nos meus concertos - cheguei mesmo a retirar o meu single do EP do alinhamento mas essa música nunca saiu e terminou muitas vezes os meus concertos. Quando comecei a planear o disco e a ver um novo alinhamento a surgir, a música fez todo o sentido novamente e entrou no disco. Muitas ficaram de fora e muitas mais continuam a ser feitas quase diariamente: infelizmente, não consigo fazer tantos discos como gostaria mas as ideias não ficam esquecidas, pode sempre chegar o dia delas a qualquer momento. Existem outras músicas da fase do EP que gravei e que não entraram nem no EP nem no disco, estão guardadas e um dia talvez as rearranje para que se enquadrem com algum novo trabalho que faça. Felizmente e infelizmente, gosto do que faço, isso leva-me a grandes lutas comigo mesmo para decidir o que fica e o que sai fora dos meus discos.


BC: “O Dia Em Que Todos Acreditaram”. Não eras nascido quando o 25 de Abril se deu. É um disco dedicado aos heróis dessa luta ou um disco dedicado às tuas próprias pequenas lutas diárias, sendo que algumas mudaram a tua vida de forma igualmente decisiva?

VV: Todo o meu trabalho será sempre dedicado aos heróis dessa luta. Não sou um homem da política, mas cresci ao lado de uma mulher e um homem que me contaram as suas vidas e a forma como viveram até ao 25 de Abril, as suas lutas acabaram por ser também as minhas. No entanto, dizer que é um disco “só” dedicado aos heróis do 25 de Abril seria uma mentira com a qual não viveria bem; a verdade é que é “também” um disco dedicado a eles, mas é também um disco sobre as minhas lutas diárias. Não são apenas algumas que mudam a minha vida, são todas, mas todas valem a pena. Poderia falar de cada uma delas mas seriam precisas mais 500 folhas para o testamento que aqui escreveria. É melhor não.





BC: Há um momento claro em que te recordes que, mesmo já com a intenção séria de gravar um novo trabalho, estás a afastar-te e a construir um rumo diferente do “Vitorioso Voo”?

VV: Penso que estou a evoluir para alguma coisa diferente: acredito que todos os dias mudo um pouco, mesmo que não oiça música nova, ou que não toque nenhum instrumento durante meses ou que fique fechado num quarto sem fazer nada, acredito que mesmo assim, nos nossos pensamentos, vamos mudando um pouco quem somos e que isso nos leva a novos caminhos com novas soluções. Acho que isso aconteceu no novo disco, talvez não seja perceptível para todos mas eu sinto que sim, que o rumo foi ligeiramente diferente do EP.


BC: A colaboração, por exemplo, no novo EP de ModoFractal vai de encontro a uma tentativa de romper com o que ficou para trás?

VV: Não, nada disso. A participação com o ModoFractal é uma coisa nova para mim. Participar como Vitorino Voador na música de outra pessoa permite-me ser um novo Vitorino Voador - isso não quer dizer que queira quebrar seja o que for do que está para trás. Eu gosto de desafios e este sem dúvida que foi um daqueles que me deram mais gozo: trabalhar com o Telmo (aka ModoFractal) foi um prazer, porque ele, além de ser uma pessoa muito acessível, é também um musico com qualidades brutais e que eu espero que seja reconhecido rapidamente. Aliás, para ser sincero, acredito que muito antes das pessoas ouvirem o meu nome irão certamente ouvir falar nele. Sem querer romper com o que ficou para trás, quero apenas abrir novas portas que tragam novas soluções musicais.


BC: A capa do teu disco é baseada na obra de Joshua Benoliel, considerado por muitos um dos fotógrafos de referência do início do século passado. Apesar de ser um projecto da tua autoria, “O Dia Em Que Todos Acreditaram” acaba por reflectir também a força da união que surge retratada nos grandes trabalhos fotográficos/grandes acontecimentos que Benoliel presenciou, isto é, que um pedaço da nossa intimidade e personalidade só se realiza se for partilhada com outros?

VV: Lembro-me que cresci como músico com alguns medos. Um desses medos foi sempre mostrar a minha música; felizmente, rodeei-me de pessoas que me ajudaram a perder esse medo. A música que faço está cheia da minha intimidade e personalidade e só sinto que faça sentido fazê-la se for para partilhar com os outros. No trabalho de Joshua Benoliel senti que de certa forma isso também acontecia e, olhando agora um pouco para trás, penso que este disco não poderia ter outra imagem ligada a ele. Foi das poucas vezes que olhei para a fotografia como se estivesse a ouvir música.





BC: Para o lançamento do teu primeiro disco como Vitorino Voador passas em definitivo da NOS Discos para a Azáfama. O que pesou mais nesta decisão: as amizades e cumplicidades? A facilidade com que a tua música se poderia integrar no catálogo actual da Azáfama?

VV: A NOS Discos surgiu numa fase muito importante do meu trabalho e isso foi muito bom e decisivo no futuro do Vitorino Voador. Permitiu-me mostrar o meu trabalho a mais gente, mas foi sempre falado desde o início que seria apenas o EP, porque só muito raramente é que a NOS Discos repetia artistas. A Azáfama também fez parte do EP e continuou para o disco. Na verdade não foi necessário pensar em nada, foi apenas continuar a fazer tudo como fiz até ali mas desta vez sem a NOS Discos a participar no processo. As relações de amizade que fiz na NOS Discos continuam e na Azáfama estou rodeado de amigos também, acho que só por isso já faz todo o sentido fazer parte do catálogo.


BC: Sendo editado em Janeiro, altura em que não há tanta música nova como noutros meses do ano, sentes-te mais seguro com a atenção que vai recair sobre este disco e que pode também protegê-lo e apresenta-lo da forma que preferes?

VV: Existem alturas melhores e piores para lançar discos. Na verdade, a decisão no meu caso não está muito relacionada com isso mas sim com o trabalho todo que tenho com as minhas bandas e a necessidade que tenho de agendar bem as coisas para não calharem umas por cima das outras. Janeiro pareceu-me uma boa altura para lançar o meu disco, já que é mais ou menos na altura em que acabo os ensaios para a nova digressão de Diabo na Cruz. Felizmente calha também numa boa altura para mostrar novo trabalho.


BC: Há próximos concertos confirmados que nos possas anunciar?

VV: Nesta fase ainda estou a tratar disso mas gostaria que fossem um pouco depois do dia em que sair o meu disco, talvez Fevereiro, para que as pessoas que queiram ir ao concerto também possam ouvir o disco com calma.


André Gomes de Abreu





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