quarta-feira, 23 de abril de 2014

DE E POR: UACK UACK - "II" (2014, Ed. Autor)

Em Fevereiro do ano passado, Tiago Barrosa começou a gravar música para usufruto e satisfação, inicialmente, seus. Todavia, em Outubro aparecia online o primeiro trabalho com o mesmo nome do seu alter-ego, uack uack, e este ano começou com um "Uack Uack" nº 2 e ainda com o lançamento recente de "Lado B", registo que reúne canções que ficaram de fora destes dois álbuns. O resultado, no caso do volume mais recente, continua a ser o reflexo de um trabalho eminentemente desenvolvido a solo, com pouco mais a ser necessário do que uma voz interessantemente torneada, uma guitarra e uma pandeireta para basear a experimentação necessária, e por isso quase confessional, na busca de uma identidade própria dentro do formato "canção" que evolui e se concretiza verdadeiramente ao seguir-se o alinhamento.
Como Tiago juntou estas 11 canções? Ele conta-nos de seguida.




A selecção das canções para este segundo trabalho foi simples. Tinha muito material e um tanto disperso, gravado algures entre cassetes e num gravador digital - uma espécie de sessões que começam com o rec e não sei o que vou ou que estou a fazer - depois, fiz uma selecção de cerca de vinte, trinta canções e comecei por corrigir os improvisos.À medida que fui começando a gravar, a selecção tornou-se clara, ganhei repulsa a umas canções e afecto a outras. Fui pondo as coisas em cima da mesa, experimentando sonoridades e, a pouco e pouco, todas as coisas em cima da mesa tornaram-se elas próprias uma só coisa. Foi a partir daí que comecei a montar o uack uack II.


1ª parte


O primeiro conjunto de canções foram "costa vicentina", "é certo", "o quarto arrumado", "dois mais dois", "enquanto falavas de um mar" e "já arranjei". Estava ali um conjunto que resultava para mim. Entretanto, aquilo foi-me parecendo demasiado do mesmo sítio, do mesmo tempo, da mesma influência, do mesmo impulso, então deixei as coisas um pouco paradas, para ganhar distância suficiente e poder decidir o que podia acontecer.



parede

Esta canção surgiu paralelamente ao primeiro conjunto de canções. No final da faixa, há uma gravação de um culto religioso que fiz numa rua perto da estação de comboios de Albufeira. Tinha acabado de sair da estação e comecei a ouvir da rua um som que vinha de uma casinha lá perto, um homem brasileiro pregava matéria religiosa, e as mulheres que assistiam àquilo gemiam como se sentissem dor. Um som que era, ao mesmo tempo, religioso e sexual. De culto e de dor. E, a partir desta gravação, fiz a "parede", que criou peso suficiente para furar o primeiro conjunto quando pensei que podia juntá-la ao uack uack II.


2ª parte

Comecei a vasculhar nas gravações aquelas que eu podia vir a gostar e juntar àquele peso da parede. Saíram a "vou ensinar-te a esquecer", a "oitenta e três" e a "mãe isto não é uma árvore". Esta última foi um parto complicado e quase ficou para trás, mas acabou por ser forte e sobreviveu, felizmente.
A "letra de uma flor" surgiu da continuação da "já arranjei", com um início de uma das gravações brutas, de onde comecei por partir, e um final montado por gravações pendentes, conversas, saídas, sessões do uack uack e não só.





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