segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

JUBA - MYNAH (2013, Pontiaq)

Título: Mynah
Edição: Novembro de 2013, Pontiaq
Classificação final: 8.3/10

Sempre, ou quase sempre, que olhamos para o shoegaze pensamos na dream pop e nas suas melodias etéreas características: é uma lembrança comum e que vem já dos tempos de My Bloody Valentine ou de Slowdive. Com o passar dos tempos, a dream pop foi ganhando novos contornos, alguns mais electrónicos (com recursos a teclados, samples e etc), outros mais apoiados num novo tratamento da guitarra; desde o fim da última década, e sob a esta segunda doutrina, fez-se catapultar nomes como Wild Nothing, DIIV ou Mac DeMarco. Os dois primeiros vivem muito do shoegaze enquanto o terceiro nome vive em muito das influências post-punk dos anos 80; os lisboetas Juba fazem a conexão possível entre os dois estilos: continuam a servir-se da panóplia electrónica e a apostar num novo tratamento de guitarra, mas também se acabam por exprimir algumas marcas do pós-punk da década de 80.

Mynah, disco de estreia do quarteto, impressiona pelo modo arrojado como concilia a vertente dançável da dream pop mais recente (ouçam-se discos como Nocturne ou o homónimo dos Beach Fossils) com o modo como as guitarras, por vezes, vão explodindo, invocando, não por muitas vezes, vestígios de uma noise pop contida e tímida, mas presente. Importa dizer que as guitarras de Mynah são, sobretudo, a sua vitória: por vezes imprevisíveis, “Victorian Creeps” pode ser um paroxismo disso, por vezes simplesmente atmosféricas e ambientes, por vezes a relembrarem-nos o surf rock dos anos 60/70 e que agora está a renascer e por outras vezes, quando a música dos Juba se torna mais explosiva, mais barulhenta e mesclada com os efeitos dos pedais; a guitarra dos Juba é ecléctica, ajusta-se facilmente ao terreno que pisa e é raro, muito raro, encontrar um eclecticismo sem defeitos.

E por falar em pedais e efeitos de guitarra, há também o nítido chamariz, e aqui esqueçamos as guitarras, ao shoegaze: vozes meias abafadas pela produção do disco, coros/backing vocals a funcionarem quase como agentes de instrumentação. Em suma, Mynah é um disco refrescante para o panorama nacional e como agora a ZON até tem a “Doused” como OST do seu anúncio televisivo pode ser que a coisa corra bem e que os Juba tenham uma aceitação pelo público como aquela que nós temos por eles: malhos como “Mynah/Lull”, “Lambaro” ou “Please Oh Please” não nos fazem pensar outra coisa que não «que belo disco». É mesmo, belo disco.

Emanuel Graça




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