sábado, 12 de outubro de 2013

BEAUTIFY JUNKYARDS - "BEAUTIFY JUNKYARDS" (2013, Metrodiscos)




As próximas linhas dedicam-se a um disco de versões, de reinterpretações de originais perdidos no tempo. Os responsáveis foram os Beautify Junkyards, formação alargadíssima e paralela aos Hipnótica, aqui num território mais invulgar até agora. 

Questiona-se muito o que é uma "carreira" a nível musical em Portugal: contudo, lá fora existem alguns casos de artistas dedicados quase em exclusivo a covers de outros artistas. Não é de todo um encaixe fundamental perceber que estão aqui compiladas apenas versões. Crucial é entender que muitas colecções de discos ou muito bons ouvidos não seriam suficientes para, à partida, julgar-se que estes temas andam, na sua maioria, imersos na folia psicadélica da folk dos anos 60. E, ainda mais, que não se deve esperar uma revolução dentro destes temas desprovidas de perícia cirúrgica.












Há algumas excepções a esta generalização precipitada: "Rose Hip November", de "Just Another Diamond Day", disco de estreia de Vashti Bunyan (em que a envolvência da voz com a guitarra é sublimada ao máximo); "Radioactivity", o clássico dos Kraftwerk com um tratamento tão inesperado quanto brilhante com o apoio de i-Wolf dos Sofa Surfers; e "Fuga nº2" de Os Mutantes, perfeita na voz de Karine Carvalho, do projecto 3 na Massa. Talvez, não despropositadamente, epílogos perfeitos se desprezarmos, por exemplo, "Yellow Roses", original de Heron, outra forma de um síndrome lisergico-nostálgico.
Todas as 9 canções do alinhamento são uma fuga constante, semi-telúrica, semi-sonial, caracterizada por uma harmonia peregrina ao longo de todos os passos e em que se vão notando diferentes tratamentos para faixas distintas, transformando estruturas cristalizadas em rusticados etéreos de espalhar lágrimas de alegria por todas as brisas. Entre os metais, os orgãos/sintetizadores e a densidade das guitarras, há cheiros e cores que, de tão interiorizados e pessoais (a gravação do disco decorreu de forma itinerante, ao ar livre), não se podem apenas descrever. 





Se ainda não for suficiente, a tal carreira e buzz internacionais estão a ser oferecidos de pronto aos Beautify Junkyards, da Ninja Tune à BBC. Talvez o prémio mais importante para si, caro leitor, seja mesmo escutar este disco.
Não compre faixas avulsas, não arrisque. Como no progredir dos ecos destes sons, parece que é completa que a natureza gira da forma mais natural.


André Gomes de Abreu







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