sábado, 3 de agosto de 2013

OSSO VAIDOSO - ENTREVISTA

Após muitos anos de trabalho, Ana Deus e Alexandre Soares voltam a responder em conjunto, agora como Osso Vaidoso. "Animal", disco de estreia disponibilizado via Optimus Discos, encontra as melhores sociedades possíveis para assentar palavras que se acompanham e não são acessórios de instrumentais entalhados à fonte. E descobrem-se as essências das composições concerto a concerto, passo a passo, como só a experiência colige e a juventude, que se busca e se encontra, sonha. É a Ana Deus, eterna dona de poderes ocultos para assentar ou elevar qualquer período de qualquer canção com a sua voz, que pedimos a extrema-unção.


BandCom (BC): O que procuravam quando iniciaram a aventura como Osso Vaidoso?

Osso Vaidoso (OV): Um entendimento, acho eu. Juntar o que entretanto tínhamos experimentado em separado e fazê-lo muito simples, muito portátil e com espaço para dialogar em palco, fugir à repetição exata ou quase.
O concerto no FUSING estará já longe dessa ideia inicial: vamos estrear com mais dois músicos e tentar outro caminho.


BC: Já tinham trabalhado juntos nos Três Tristes Tigres antes de Osso Vaidoso. O que mudou mais para vocês, fora as companhias de trabalho, de uma fase para outra?

OV: Nos TTT passou a ser complicado dar ênfase aos textos. Era outra coisa, a voz estava algures numa massa sonora, com palavras muitas vezes soltas, um bocadinho como frases graffitadas num muro. Outros tempos, outra idade. No Osso parte-se de textos e a música veste-os.





BC: Nas letras contam com contributos de Regina Guimarães, Alberto Pimenta e Valter Hugo Mãe. Houve muitas diferenças entre trabalhar com quem já tinham colaborado e com quem ainda não tinham colaborado? 

OV: Sim e não. Em todas procuro o ritmo das palavras e em todos eles consigo ouvir a voz do autor. São grandes vozes: o Valter com o seu sotaque, o Alberto com as suas inflexões e ironia e a Regina com paixão. Acontece que com a Regina recebo mais e mexo menos, e recebo tambem poemas que são muito eu. Com o Valter mexi um bocadinho na letra, as frases dele são mais longas e tive de "aparar as pontas".
Com o Alberto Pimenta foi só pegar nos livros e escolher: não são letras, são poemas, nada se altera, evidentemente.


BC: Regularmente vamos vendo as participações dos Osso Vaidoso em eventos muito dedicados à escrita e aos livros como as Quintas de Leitura ou a Leitura Furiosa. O que têm destacado destas sessões para o vosso percurso?

OV: Já participo em ambos há muito tempo, fazia sentido meter o Osso na questão.
As Quintas deram-me prática e contato com mais autores e a sua escrita.
A Leitura Furiosa é um encontro muito especial. Textos feitos a partir de conversas com "zangados com a leitura" onde o escritor submete o que escreveu à discussão e aprovação do grupo. Nós somos os "médium" que dão voz a alguns deles. Temos escolhido quase sempre os textos dos rapazes da Tutoria do Porto, talvez porque se note mais que a escrita também é fuga, e confissão, e lista de desejos...


BC: A vaidade é um dos sete pecados capitais. Segundo “Animal”, a pobreza e a degradação das condições e ideais de vida seria o oitavo?

OV: A pobreza de uns é a riqueza de outros. Esse parece ser um pecado da existência. Mas acredito que haverão sempre movimentos em sentido contrário. Niveladores.
Algumas interpretações dos pecados capitais levam a uma espécie de elogio da pobreza. Não desejar o que é do outro, não querer ser mais, não preguiçar, não se entregar aos prazeres da carne... São coisas antigas, religiosas.
O nosso "Elogio da Pobreza" é outra coisa. É estar com um lado da balança, não querendo contribuir para essa desigualdade.




BC: A austeridade, musicalmente falando, pode enriquecer um artista e o seu processo criativo da mesma maneira que aconteceu à música eléctrica de “Animal”? É necessário, para um artista (como PJ Harvey, por exemplo, o fez),regressar à intervenção contra o que o rodeia para se rejuvenescer?

OV: Parece-me que há vários caminhos...cada um tem o seu.
Mas a austeridade é uma realidade, é natural que passe para os processos de criação.
Uma voz e uma guitarra só fazem o que conseguem fazer e foi nisso que nos mantivemos: claro que há loops e efeitos e uma forma de tocar muito especial onde se conseguem ouvir fantasmas de outros instrumentos. Não sei o que é que a PJ faz ou fez, mas parece-me natural que se cante contra ou a favor. E gosto de algum excesso, confesso.


BC: O passa-palavra sobre os Osso Vaidoso tem sido mais intenso pela imprensa e pela Internet do que pelo público em geral. É esta uma oportunidade para reconstruir raízes que secaram a partir dos vossos outros projectos?

OV: Parece-me que existe uma força mais aglutinadora que é a geracional. 
Quem sai mais e vai a concertos são bem mais novos que nós e gostam de ver "os seus". É natural. Mas todos os concertos são oportunidades sim. Umas ganhas outras perdidas.





BC: Como é que o público tem reagido aos Osso Vaidoso em palco?

OV: Muito bem, a maior parte das vezes. Haja bom som e gente simpática e nós portamo-nos bem.


André Gomes de Abreu




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