sexta-feira, 9 de agosto de 2013

FUSING CULTURE EXPERIENCE - DIA 1





O primeiro dia do FUSING Culture Experience foi aquele primeiro dia típico de uma primeira edição de um festival: algum atraso no Palco Experience e na abertura das portas, rostos curiosos e ao mesmo tempo ansiosos por serem os primeiros a pôr os olhos num festival que poderá (espera-se) ter mais edições, e as primeiras bandas a abrirem o cenário veraneante e deslumbrante de uma Figueira sempre com muito sol, sempre com muito vento.

Apesar do cartaz do primeiro dia ter sido bastante atraente, a multidão só chegou
verdadeiramente a partir das 21h, aquando do concerto de Noiserv (um mau hábito que se
confirmou nos dias seguintes, para desespero das bandas programadas para atuarem antes, como acabou por ser o caso dos The Glockenwise). Sempre poderão dizer que foram uma das primeiras bandas deste festival – como os Johnny Dead Radio - que homenageou não só a música portuguesa mas também a arte urbana, o desporto e a gastronomia.




O concerto dos The Glockenwise acabou por ser o primeiro a que se conseguiu assistir no FUSING Culture Experience. "Bardamu Girls" abriu a festa de um rock dançável que ainda fez mexer alguns traseiros, mesmo que timidamente, num ambiente familiar: a comunicação com o público era regular; até mesmo quando ocorreu um pequeno imprevisto e Nuno Rodrigues, líder da banda, começou a sangrar de um dedo, os TG souberam tirar
proveito: "É artístico. Sangue na minha t-shirt branca. Parece o concerto dos
Holocausto Canibal". "Leeches", dedicada por Nuno Rodrigues à sua namorada, e o mais amotinador "Time To Go" venderam boa disposição em 45 minutos realmente bem passados.

Uma hora depois, 
Noiserv chegava ao palco principal. Diz-se por vezes que algumas bandas, mesmo tendo vários membros, nunca chegam a encher
o palco. Noiserv é mais ou menos o inverso. Um carrossel de emoções bem medidas, ataques contínuos, constantes, que nos confirmam que ainda sentimos algumas coisinhas, talvez as últimas migalhas do que a crueldade da nossa humanidade ainda não nos tirou. Depois de "Mr. Carousel" e "Bullets On Parade", estávamos numa altura em que já não se sabia se era noite, se era dia (um véu escuro caiu repentinamente, sem avisar): apenas que a Experience à qual estávamos a assistir ia seguramente ser um dos momentos grandes do festival. Pelo meio, David Santos ainda teve tempo para contar a história que deu nascimento a "Melody Pops" (quis criar uma música a partir de um pauzinho de chupa-chupa numa festa em Portalegre), propor ao público uma das suas músicas novas (do álbum que estará nas bancas em Outubro), sacar a sua pistola postiça verde para incluir sons de disparos, e lançar os seus "Bontempi", última faixa do EP "One Hundred Miles From Thoughtlessness" e o belíssimo "Palco Do Tempo.


Já devia ser cerca das 22h25 quando os Pensão Flor se estrearam no espaço cheio de requinte e de glamour da Figueira da Foz, o palco do Casino Figueira, no qual a banda liderada por Vânia Couto conseguiu convencer os últimos cépticos.
A entrada foi em grande, com a pop-fado Na Minha Rua incrivelmente eficaz, confirmando-se o que várias vezes os restantes membros referiram: a voz de Vânia Couto é realmente encantadora e acompanhada de forma brilhante por um leque dos mais diversos instrumentos. Sempre à procura de inovação, o teatro e o cinema entrecruzavam-se no espetáculo da banda nos momentos de pausa: uma homenagem a todas as formas de arte, ao mesmo tempo que o conceito da Pensão Flor se ancorava no público e "Na Volta de Um Beijo", single da banda, arrancava fortes aplausos (seria por ter nos últimos instantes aquela brincadeirinha a la The Cure?). Com "
Caixinha de Mão" e passagens como "Aiiiii, levaram-me os temas, os meus longos poemas, as canções de amor…", a mensagem passou, ficou e nunca mais quis partir deste bom concerto.




Cláudio Mateus, ou Electric Willow, teve sérias dificuldades em atrair o público do festival ao Palco Experience. E não
 foi por falta de comunhão com o mesmo, de tentativas de comunicar com o mesmo ou pelas pequenas passagens risonhas por parte do baterista que acompanhava o músico local. Contudo, o duo não se deixou intimidar e foi talvez um dos únicos do festival neste movimento indie/pop rock, o que é sempre bom para haver música para todos os gostos. Entretanto, a festa açucarada dos We Trust começava no Palco FUSING com "Within Your Stride", de "These New Countries" e André Tentúgal expunha o seu à vontade enquanto chefe de banda e demonstrava mais uma vez todo o seu groove, com Nuno Rodrigues dos The Glockenwise a regressar a palco de forma fugaz para dar um olá. "Them Lies" ia apaziguando o público antes de entrar em simbiose com o céu, deitado no chão (para alguns), a fechar os olhos, ao ouvir o grandessíssimo "Reasons". Numa altura em que mais público se chegava a preparar o concerto dos PAUS, "Once At A Time" apelava à memória da respectiva letra, totalmente conseguida, e "We Are The Ones", um dos temas a fazer parte do novo disco, a sair tão naturalmente como o hit "Time (Better Not Stop)" com que estava intercalado. Um final em grande, o que não surpreendeu ninguém, já que nunca desconfiámos do talento de AT e amigos.




Por fim, pela uma hora e meia surgia O grande momento da noite, O grande momento do FUSING: PAUS. Há uma legenda, verídica ou não, como todas as legendas, que diz que numa prova de filosofia, um aluno respondeu com bastante sucesso da seguinte forma à pergunta "qual é o cúmulo da audácia ?": "Isto". Seguindo as pisadas, pegámos nesse modelo e aplicámo-lo ao concerto dos PAUS. "Amedontradora perfeição" seria a expressão ideal para definir o que se viu e ouviu. Talvez não se tire boa nota desta forma… mas o que importa é que o maior concerto do FUSING teve as palavras certas, no momento certo. Ao abandonar o recinto, as vozes e as baterias da banda ecoavam nos ouvidos, a chorar por mais, como se não se quisesses ter pena dos elementos da banda que, extenuados, ainda poderiam oferecer mais música, mais amor, mais violência, mais ódio, mais "Malhão", mais "Deixa-me Ser", mais "Mudo e Surdo", mais "Muito Mais Gente", mais tudo. Depois disto, era difícil fazer melhor. E não se fez.


Mickaël C. de Oliveira




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