quinta-feira, 6 de junho de 2013

SAMUEL ÚRIA @ TMN AO VIVO, 24/5/2013 - REPORTAGEM



Noite grande no espaço TMN ao Vivo, pois era grande o disco que se apresentava, grande o músico por detrás dele e não menos grandes os encarregues de o acompanhar nessa bendita noite de 24 de Maio. O Grande Medo do Pequeno Mundo é o álbum em questão e Samuel Úria o cantor para onde se apontaram os holofotes da canção em português, que só pecam por tardios.
O público sabia que vinha aí coisa boa, cheirava-se no ar. E as expectativas não saíram goradas. “Prelúdio”, muito previsivelmente e também por razões semânticas, antecedeu o arranque do concerto a todo o gás com “Essa Voz”. A toada country manteve-se com “Água de Colónia da Babilónia”, uma das canções mais felizes do já extenso reportório do cantor beirão, em que o coro (sim, havia um coro em palco) assumiu papel central.
A primeira colaboração da noite surgiu com “Deserto”. Os graves de Jorge Rivotti ressoaram pela sala. O público gostou e com razão. Veio depois um sucesso do álbum anterior, “Nem lhe Tocava”, logo seguido por “Rock Desastre”, do álbum A Descondecoração de Samuel Úria, que nos fez inevitavelmente bater o pé. Em evidência, a grande banda que normalmente acompanha Samuel Úria: Jónatas Pires na guitarra solista, Filipe Sousa no baixo, Tiago Sousa nas teclas, Tiago Ramos na bateria, Silas Ferreira no oboé e teclas, Miriam Macaia na voz e na viola-de-arco e respectivo marido nas teclas e melódica ("para inveja de muitos", como fez questão de referir Úria) levam a música do “trovador de patilhas” para outro nível e ainda bem.
Sem Manuel Cruz, mas nem por isso menos meritória, chegou-nos a enorme “Lenço Enxuto”, um hino à condição masculina e às inibições sentimentais adjacentes. E depois espaço para mais uma canção de Nem lhe Tocava, “Lamentação” e com ela a segunda colaboração da noite, desta feita com Tiago Bettencourt, que segundo o próprio Samuel Úria (em tom de brincadeira, claro) foi convidado somente por uma questão de “cortesia”. Mas este não se fez rogado e cantou depois uma canção da sua lavra, “Eu Esperei”, que arrancou muitos aplausos mas em que o ponto alto acabou por ser uma nota aguda, prolongada ao infinito, de Úria.
Como já vem sendo hábito nos concertos pela bela capital, é fácil avistar um desfile de celebridades de fazer concorrência aos Globos de Ouro (vómito). E não só no palco: David Fonseca, João Só, Nuno Markl e os irmãos Pedro da Silva Martins e Luís José Martins dos Deolinda, por exemplo, marcaram presença. O próprio Úria confessou fazer do avistamento de membros da referida banda um dos passatempos favoritos durante os seus concertos, não deixando de referir em tom irónico a “inveja” que os ditos cujos nutrem pelo seu sucesso. Não se pode dizer que os Deolinda se vejam a braços com falta de sucesso mas, caso a sublinhada inveja seja verdadeira, é compreensível, porque de facto Samuel Úria escreve muito boas canções em português. Prova disso foram os dois temas  seguintes: “Teimoso” que arrancou vigorosos aplausos e a poderosa “Espalha Brasas”.
Tempo de chamar Márcia ao palco, para cantar a já aclamada “Eu Seguro”, não sem antes sermos presenteados com um momento de “pirotecnia capilar”. Em seguida, recebemos “O Mais Humano Sentimento São”, num já tradicional dueto entre os cantores. A noite era de apresentação de O Grande medo do Pequeno Mundo, mas para canções como esta (de Márcia) há espaço em qualquer alinhamento do planeta. No entanto, a festa seguiu com a canção que dá nome ao disco (“Pequeno Mundo”), numa versão que, curiosamente, nos soou mais empolgante que a de estúdio.
Ouviu-se depois Armelim de Jesus, uma canção de exaltação ao avô de Samuel Úria. Aproveitando o facto de trazer os laços familiares à baila, Úria não deixou de agradecer á mãe, presente na plateia, o fato “quitado” pela própria, a fazer lembrar o toureador que figura na capa do disco que se apresentava. Seguiu-se precisamente o primeiro single do novo álbum, “Forasteiro”, que não cansa, talvez pelo exercício notável de manuseamento da língua portuguesa.
À tribuna foram chamados dois artistas da Flor Caveira, editora em que Samuel Úria nasceu para a música. Tiago Guillul e Alex d’Alva Teixeira chegaram e partiram tudo numa versão de “Diabo” que ficou aquém do original num critério mais musical mas que o suplantou completamente em energia e entrega. Os ânimos acalmaram com a notável “Em Caso de Fogo”, que preparou um final em grande com “Império”. As palmas fizeram-se ouvir e uma sala cheia pediu um encore que não se fez esperar.
Segundo o próprio Úria, a canção que abriu esse encore não estava nos planos de alinhamento. Mas quanto a nós, ainda bem que foi reforço de última hora, pois é das mais pujantes canções de Úria. “Rua da Fonte Nova” foi depois contraposta por aquela que ainda é a mais bela composição do cowboy de Tondela. “Barbarella e Barba Rala” ganhou ao vivo com o coro que se juntou á guitarra e voz de Úria. Nada mais nada menos que um grande concerto, foi o que aconteceu no espaço TMN ao vivo e só havia uma maneira decente de acabar com a coisa. Os blues selváticos entraram em cena quando mais eram precisos e “Tigre Dentes de Sabre” arrebatou os presentes.
Resta endereçar uma profunda vénia ao Samuel Úria, com as costas dobradas até doer a coluna.



Bernardo Branco Gonçalves




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