quarta-feira, 10 de abril de 2013

VIRGEM SUTA @ RITZ CLUBE, 4/4/2013 - REPORTAGEM

“Bem-vindos todos os que ai estão, não me interessa sequer saber de onde são,

 sejam do norte do litoral(...)”

Assim começou o concerto de Virgem Suta no mítico Ritz Clube. Com dois homens e duas guitarras atrás de uma cortina de percussões, cheios de humor para distribuir, e determinados a criar desde cedo uma boa ligação com o público, numa casa bem cheia. Seguiu-se Ressaca, que confirmou a boa acústica presente e deixou claro o à vontade dos músicos, que fizeram questão de deixar o humor presente não só entre músicas, como nelas, colocando uma forte componente teatral nas suas canções, condizendo com o imaginário criado por estas.  



Não Sou Deste Lugar deixou claro a por vezes difícil criação de dinâmica sonora no palco, inerente à escassez e tipo de instrumentos, que contrastou com a preocupação clara de incorporar expressividade na voz, que afirmou o reconhecimento da sua importância. “Tomo Conta Desta Tua Casa e Exporto Tristeza foram os temas seguintes, com a guitarra de Nuno Figueiredo sempre impecável e ainda bem, visto muitas vezes ser o único instrumento harmónico, tendo, portanto, uma importância grande na fluidez do concerto. 



Na faixa escolhida para dar seguimento ao alinhamento escalonado para o concerto, deram um brilho muito interessante à música, e criaram mais uma vez um ambiente a condizer perfeitamente com o sarcasmo da letra, com arranjos vocais estudados ao pormenor, acompanhados de percussões, xilofones e shakers. Anjo em Descenção trouxe-nos uma voz melódica, que mesmo quando ligeiramente puxada e arranhada nunca soa a blues. De facto, já com o copo de vinho na mão e todo o público a cantar e a brindar aos avós, em Dança de Balcão, é-nos confirmado que pouco ou nada em Virgem Suta soa a anglicismos, ou, mais especificamente, a pop-rock anglo-saxónico. Pelo contrário, temos a sensação que estamos num bailarico sofisticado, com tangos e fados numa qualquer rua de Lisboa (não por acaso escrevi “Bairro Alto ” e “Festas dos Santos” no meu caderno, como metáfora para o artigo). Em Linhas Cruzadas pôde-se sentir a empatia enorme que houve no público ao longo de todo o concerto. Era visível um sorriso em cada pessoa. Não deixou de ser curioso, no entanto, o perfil do público presente, sendo muito difícil encontrar alguém abaixo dos 25 anos. Seria do preço dos bilhetes? Do género musical?





Beija-me na boca foi a que menos agradou, a entrar no terreno da pop segura e da previsibilidade. Bom para quem está alegre, e pouco mais. Maria Alice, no entanto, seguiu-se para me compensar, numa homenagem (escondida pelo humor) às mulheres que foram filhas do nosso Portugal salazarista e dos velhos sós. Deu-se lugar para os covers: Absolutamente, de Carmen Miranda, e Playback, de Carlos Paião. Mais uma acha para atear um público já ganho há muito, mas que precisava de balanço para mais algumas músicas.



Seguiu-se uma breve pausa e uma tentativa inconsequente de fazer prever uma última música. Antecederam Bárbara e Ken, uma balada que, na minha opinião, se ouviu mais bonita vinda do palco que da versão em estúdio. Ainda houve tempo para Se Deus Quiser, Luso Gentleman, e Mula da Agonia. A noite acabou com a repetição de Tomo Conta Desta Tua Casa, com músicos cansadíssimos, grande ovação final e caras felizes à saída.

Um concerto de músicas aparentemente simples, que valeram pela sua simplicidade e arranjos melódicos, onde o menos foi o mais. Uma casa cheia, que cantou quase todos os temas de fio a pavio, e mais parecia uma família, e um cheiro a Portugal que permite, como o manjerico, cheirar a música tradicional,  sem nunca tocar nela. 



Texto por Hugo Hugon,
Fotografias por Catarina Abrantes Alves




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