sábado, 20 de abril de 2013

STRAY - CORAÇÃOZINHO DE SATÃ (2013, Monster Jinx)






Estávamos em 2003 quando a Matarroa surgiu e Martinez apresentou a Portugal nomes como Fidbek, Bezegol, o alentejano Vrz e o activista angolano Brigadeiro Matafrakuxz. Percorreram páginas da "HipHop Nation", encheram prateleiras da Fnac e da KingSize e músicas como "Onde Andas?" e "Foi Como Foi" viriam a tornar-se em hits devido à Antena3 e ao Sol Música. Os anos seguintes puderam-se apelidar de bonitos e nomes conhecidos como Xeg e Mundo Complexo chegaram a editar pela mesma.

Passaram-se dez anos. A "HipHop Nation já não existe", a KingSize já não existe, o Sol Música já não existe e a própria Matarroa já não existe. Bezegol tornou-se grande (especialmente dentro da cena reggae) mas o resto da primeira demanda foi, infelizmente, caindo no esquecimento... tirando Stray. Lançou o seu primeiro álbum a solo em 2011 ("O Diabo") e logo no início de 2013 apresenta-nos então "Coraçãozinho de Satã".
         
Diferente de qualquer outro rapper em Portugal, Stray volta-nos a transportar para o seu tão, e cada vez mais, característico imaginário. Star Wars, Dragon Ball, unicórnios, raios laser, o diabo e videojogos são coisas que parecem obcecar Stray. Mantendo o sentido de humor sempre presente e aliado a um lado mais sombrio ("Venera o Diabo, Faz Festas A Gatinhos"), Pedro Tavares apresenta-nos uma álbum bastante ciente da actualidade do rap e que bebe de toda uma nova escola. Vozes distorcidas por cima de um post-dubstep e chillwave resultam num rap bastante pessoal e característico, ao ponto de ter letras que só o próprio aparenta perceber o sentido, não deixando no entanto de soar bem.





Ao contrário do álbum de estreia, nem todas as faixas estão a cargo de Taseh, contando agora também com Keyboard Kid que produz metade do álbum e ainda o misterioso IVVVO que em "Chuço" produz aquele que deve ser o melhor instrumental presente. Tem a participação de dois colegas da Monster Jinx: J-K e Pulso, sendo que este segundo deixa a vontade de ouvir mais (um álbum a solo seria bem vindo) e do ilustre Manel Cruz (Ornatos Violeta, Pluto...) com quem partilha a última faixa, deixando-nos calmamente a achar que acabámos de ouvir algo bem acima do nível do que se anda a fazer em Portugal.
A Monster Jinx continua assim a provar que fazia falta no nosso país e Stray só veio mostrar que uma grande escola de rap aliada a influências e temáticas diferentes originam frutos novos e interessantes.

Luís Julião




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