domingo, 17 de março de 2013

ERMO + NOSAJ THING @ Musicbox, 15/03/2013 - REPORTAGEM



À entrada do Musicbox um anúncio que não é assim tão frequente: bilhetes esgotados.

Isto prometia.



Trinta minutos após a meia-noite, os Ermo entram em palco e logo com os primeiros sons enchem-no de sombra e depressão. Estes dois rapazes bracarenses, António Costa no microfone e Bernardo Barbosa no teclado, trazem-nos um projecto muito minimalista e experimental, bastante centrado na voz e na letra. Embora não goste do que ouvi no seu bandcamp, fizeram, contudo, adaptações e remisturaram algumas músicas, conferindo-lhes um som mais electrónico e preenchendo o vazio instrumental que podemos encontrar na grande maioria das suas músicas de estúdio. Estas, cantadas em português e com letras, regra geral, eruditas e poéticas, mostram que este grupo pretende trazer algo novo à música portuguesaa voz sofrida e por vezes gritada deixa transparecer algumas influencias folk e dos cantares de Trás-os-Montes, apesar de não ser óbvio à primeira audição. Outras vezes, António discursa em prosa, como fez em “Novo Homem”, com recurso a um pequeno livro de bolso e um copo de tinto. À voz dele, Bernardo acrescentou efeitos, algumas escassas linhas teclas, e ritmos essencialmente do hip-hop ou da electrónica experimental.A música que fechou o concerto, “Súcubo”, merece algum destaque: António saiu do palco, penetrou por entre o público até onde o fio do microfone permitia, sentou-se no chão e começou a ler a prosa do seu livro de bolso. Falou-nos de como chegou a casa e se despiu, tocando-se a pensar em seios que vira e outros imaginários, até culminar num clímax que não trouxe a alegria que se esperaria de uma situação destas. Foi curioso observar a troca de olhares entre os elementos do sexo masculino presentes no Musicbox, como que reconhecendo o que António dizia – talvez fosse essa a intenção desta música, desprovida de linhas melódicas, apenas uma voz melancólica e efeitos que Bernardo tocava.





Após um curto intervalo, enquanto o público se foi espremendo para albergar todos os que entretanto estavam a chegar, Nosaj Thing entrou no palco para apresentar o seu mais recente trabalho, Home, tendo aberto o espectáculo com a música do mesmo nome. As músicas foram tocadas em set, e não em separado, o que demonstra o talento deste jovem norte-americano, que publicou o seu primeiro álbum de forma independente em 2006, tendo sido muito bem recebido pela comunidade da cena electrónica devido à sua originalidade e qualidade técnica. Com percussão ao estilo do future garage, glitches do IDM e por vezes ritmos do hip-hop, Nosaj Thing apresenta-se bastante versátil, porém, fiel à sua sonoridade que atrai cada vez mais fãs.
Do alinhamento fizeram parte músicas como a já referida “Home”, “Tell”, “Try” (que conta com a colaboração dos Toro y Moi) e ainda o seu último single, “Eclipse/Blue”, que inclui a magnífica voz de Kazu Makino, vocalista dos Blonde Redhead.
Os assobios e gritos que se fizeram ouvir aos primeiros segundos de “Fog” foram prova que o público já segue este artista há algum tempo – aqui notam-se claramente algumas influências de artistas como Shlohmo ou Holy Other, um som electrónico bastante dançável mas sem perder o ambiente mais obscuro e sereno. Enquanto que “Coat of Arms” se apresentou num registo mais pesado e ao estilo do post-dubstep, “Voices” e “Aquarium” vieram mostrar o lado mais IDMish, downtempo e experimentalista de Nosaj Thing

Às 2h30, Jason Chung abandona o palco, deixando um remix de “Bitch Don’t Kill My Vibe” de Kendrick Lamar a tocar. 
Foi grande o contraste entre Ermo e Nosaj Thing: talvez projectos como DWARF, Papercutz ou RA fizessem uma melhor abertura, pela semelhança de géneros musicais. Contudo, foi um grande espectáculo, isso é inegável, e não é em qualquer lugar que se tem boa música e uma cerveja incluída por 8 euros.




Carreto
Fotografias por David Cachopo
(galeria completa em facebook.com/bandcom)




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