segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

NORBERTO LOBO - Mel Azul (2012, Mbari Música)





Norberto Lobo é um nome que dispensa apresentações. Com uma grande afeição pela sua guitarra, Norberto é sem dúvida um dos grandes guitarristas e músicos portugueses da actualidade ao lado de nomes como Tó Trips ou Filho da Mãe. E foi com pouco mais do que uma guitarra na mão que desde 2007 gravou, anteriormente, três discos de grande qualidade: "Mudar de Bina" (2007), "Pata Lenta" (2009) e "Fala Mansa" (2011).

Para nossa grande felicidade não foi preciso esperar por 2013 para conhecer o seu quarto registo de estúdio, "Mel Azul". 
Depois de um excelente primeiro álbum, não foi ao segundo, não foi ao terceiro e novamente não voltou a ser em "Mel Azul" que Norberto Lobo gravou um álbum ao qual se possa atribuir uma classificação abaixo do muito bom. Numa era cada vez mais dominada pelo som electrónico, é de enaltecer que artistas como Norberto Lobo consigam fazer tais obras de arte apenas recorrendo a um instrumento de seis cordas.
E como aqui pode ser provado, este talento não se esgota e, antes pelo contrário, vai crescendo de álbum para álbum.






"Mel Azul" reúne 11 canções que são apenas tocadas e não cantadas mas que conseguem transmitir emoções como muito poucas canções cantadas o conseguem fazer. Mesmo sendo este o irmão mais novo de três grandes álbuns, parece-me justo atribuir-lhe o título de melhor álbum da discografia de Norberto Lobo.
O início do álbum dá-se com “Enzo Fought Back”, faixa que apesar de curta em duração torna-se grande com toda a emoção que consegue libertar. Surge de seguida “Lúcia Lima”, uma canção que arrepia de tanta naturalidade e perfeição, e que constitui um dos momentos sublimes deste álbum. O certame continua com mais uma peça de arte, desta vez de seu nome “Vudu Xaile”. Com uma melodia e leveza apaixonantes, é-nos impossível ficar indiferente. É de facto impressionante o preciosismo e técnica com que Norberto consegue explorar todos os trilhos das suas seis cordas.
“Valsa da Greve Geral” e “Rustenburger Str” são as duas canções que se seguem e talvez as mais calmas e menos ricas em melodias deste disco, não deixando no entanto de impressionarem. “A cor do Demo” surge de seguida com um início gingão que precede uma cavalgada frenética feita com duas mãos e seis cordas.

Aproveito a chegada à segunda metade do álbum para destacar a criatividade e imaginação do autor no que diz respeito à construção dos títulos das suas canções. “Rua da Palma Blues” é mais um desses exemplos. Mais uma canção gingona e que é uma das minhas preferidas deste álbum - é caso para dizer "viva os blues" - e que peca apenas, e aliás como quase todas as músicas deste álbum, pela sua curta duração.
Este problema é no entanto resolvido logo de seguida em “Golden Pony Blues”, onde Norberto volta a criar mais uma peça de arte, neste caso, com uma duração de sete minutos, fazendo com que esta seja a canção mais rica em melodias e experimentalismo neste longa-duração. Uma canção que deveria estar ao lado de Memorial do Convento ou Os Lusíadas como obras a estudar no ensino obrigatório.

Até ao fim apenas mais três canções. Não atingindo a qualidade elevadíssima de algumas companheiras já descritas anteriormente, “Lisboa Ginásio”, “Maga Raga” e “Mel Azul (Moebius)” não deixam de encantar o ouvinte.



Créditos: Vera Marmelo (v-miopia.blogspot.pt)


"Mel Azul" é um álbum que irei definitivamente guardar e tratar com bastante carinho durante a minha vida tanto pela beleza que guarda no seu interior como pela aquela que mostra no seu exterior - e aqui aproveito para dar os parabéns a um dos grandes pintores portugueses da actualidade, Michael Biberstein, que consegue dar a este Mel Azul uma capa que condiz com o seu interior.
Por todos os factos enumerados acima, faz-me todo o sentido classificar este conjunto de canções como o melhor álbum nacional de 2012.
Podemos dizer então que Norberto Lobo é como o vinho do Porto e melhora com a idade: e pergunto-me eu agora, será possível melhorar num próximo álbum? A missão não parece ser fácil mas aqui estarei de agrado para receber aquela que espero e acredito que seja mais uma peça de arte. 9.5/10


Diogo Marçal




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