Estávamos a caminhar para o fim
do ano de 2003 quando Mourah se lançou na indústria
musical com a edição do seu primeiro registo, o álbum From One Human Being To Another.
Também por volta dessa altura o meu Futebol Clube do Porto caminhava a passos
largos para a conquista da Uefa Champions
League, que viria a conquistar em Maio de 2004. Tinha eu 11 anos, e era uma
pobre criança que passava 45% do meu tempo a jogar playstation, 30% a jogar futebol e os restantes 25% a dormir. Ah,
nostalgia.
Este disco foi, portanto, uma
coisa que me passou completamente ao lado. Foram volvidos aproximadamente dez
anos que passei a tomar conhecimento de Mourah e da sua obra, via André Gomes de Abreu (esse tal sujeito
que, ao que se consta, também pertence aqui à redacção do BandCom). A primeira música que, então, ouvi foi J.Butterfly, um single memorável e estrondoso de From One Human Being To Another.
Desde logo, se edificou em mim uma admiração pela música ousada e com um
carácter bastante peculiar produzida por Hugo
Moura, um jovem português emigrante na Suíça. A vontade em ouvir mais
coisas nasceu de imediato e foi então que ouvi o álbum na íntegra.
From One Human Being To Another
é um disco composto por onze brilhantes e concitantes faixas, capazes de nos proporcionarem
uma viajem intensa até a um mundo exterior em que tudo parece estar complanado
de uma maneira incrivelmente excelsa e robusta. Impressiona a maneira como a
sonoridade patente neste registo se vai incrassando e vestindo nos nossos
ouvidos à medida que lhe vamos dando a devida e merecida atenção. Na verdade,
impressiona tudo, mas, sobretudo, impressiona a sapiência com que Mourah
articula e mescla a sua música.
É difícil catalogar a música de Mourah,
porque é notório que isso não era a intenção dele quando pensou em editar From
One Human Being To Another ; Mourah não queria mais um disco pop ou mais um disco de electronic music, queria um disco com o
seu carimbo, um disco com uma identidade própria. Para meu gáudio, conseguiu-o…
e não o consegui de uma maneira qualquer, sem pés nem cabeça… acabou por
consegui-lo de uma maneira inegavelmente ousada, fresca e sublime. Este disco é
essencialmente marcado pela sua instrumental, que viaja frequentemente pelo dub, trip-hop,
downtempo ou chillout (sem esquecer os resquícios de free jazz) e que se vai alojando em cada paragem dessas viagens pela
pop. Contudo, é quando a voz de Mourah
nos aparece que tudo bate mais certo e tudo soa mais brioso. É em temas
como J.Butterfly, que é provavelmente
uma das melhores músicas de artistas portugueses que já ouvi, ou I Did Not Know que o estro siderante do
artista luso-suíço (mais) se vai emergindo (depois de ouvirem isto e não concordarem,
podem enviar-me um mail que vos pago qualquer coisa ; o mail é emanuelgracat@gmail.com):
Escolhendo os pontos altos do
registo, devo citar obviamente a estrondosa J.
Butterfly, a memorável I Did Not Know,
a desconcertante e nota máxima Silence,
a siderante e robusta Heavylightness e
a soberba (tudo adjectivos bonitos, portanto) Moonlit. Por outro lado, devo confessar que os pontos baixos do
registo são… bem, não encontro nada.
Em compêndio, From
One Human Being To Another é um disco estrondoso e que se não fosse o meu
caro colega André Gomes de Abreu me
ia passando completamente ao lado (obrigado, André, és um fixe). A aromatização pop que encontramos neste campo colorido por uma música electrónica
carimbada por um perfil perfeitamente idiossincrático, traduz-se num perfume calorosamente
intenso e musicalmente refrescante que se vai descingindo pelos nossos ouvidos,
sem de lá querer desnudar, até chegar ao nosso coração e se fundir com o seu
palpitar, como acontece inocuamente em J.
Butterfly. From One Human Being To Another é isso tudo, mas ainda um tudo nada
mais que isso.
Nota Final: 9.4/10
1 comentários:
O artista alvo desta linda critica agradece do fundo do coração!
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