Depois de terem editado I, II e SADITREVNiSAIEHCLOcIMEsSAUd, os dUASsEMIcOLCHEIASiNVERTIDAS
lançaram 4, o seu mais recente registo, que data Fevereiro deste ano.
Este novo álbum da banda lisboeta resultou de uma parceria entre a Associação
Terapêutica do Ruído, as editoras portuguesas A Giant Fern e Experimentáculo
e as editoras italianas Another Shame, Electic Polpo, Fooltribe
e Human
Feather.
4 é condimentado com oito
concitantes e desconcertantes faixas inundadas num experimentalismo desmedido,
que convergem, quase sempre, inospitamente com o barulho mussitado por
saxofones meneados com uma vincada destreza improvisadora. Mesclando uma
diversidade infinita de influências, facto é que os dUASsEMIcOLCHEIASiNVERTIDAS
conseguem arquitectar músicas que exsurgem o seu abstraccionismo de uma
maneira ousada e bastante sapiente.
O início do longa-duração dá-se
com 33 anos sem dormir, uma faixa que
dá o presságio do experimentalismo desinibido e da liberdade criativa que se
denota ao ouvir 4. Com um saxofone sempre bastante interventivo, é na percussão
que reside o grande catalisador da sonoridade fresca e atordoante dos dUASsEMIcOLCHEIASiNVERTIDAS,
que, abrasada pelo diálogo estabelecido com a guitarra e por toda a panóplia
instrumental, acaba por acelerar o nosso ritmo cardíaco quando ouvimos algumas
peças musicais da banda lisboeta, como, por exemplo, Feng Chui ou Corta-unhas.
Com uma sonoridade bastante
difícil de catalogar, a música produzida pelo colectivo lisboeta deambula por
tudo e mais alguma coisa, sem nunca se descarnar dos seus contornos experimentais
e das suas texturas delineadas por um autêntico free jazz. Ilustrando-se um autêntico futurismo sonoro, lembrando o
movimento avant-garde, edificam-se
paisagens reinadas por um “noise jazz”,
repletas de tonalidades, sobretudo, marcadas pelo post-punk, rock e até pelo post-rock (como está patente em Movimento
Que Vai).
Assinalando os pontos altos do
registo, devo citar, obviamente, a desconcertante e exímia Movimento que vai e a esplendorosa composição musicada em E vem alternadamente de um ponto ao outro,
faixas que constam como as duas últimas faixas do registo. Contudo, em 4
nem tudo é perfeito: faixas como Amargana
e Nacho Vidal assumem-se como
medianas e desdouram um pouco este belo registo, contribuindo para alguma falta
da coesão no mesmo. Outro dos pontos que achei menos positivos em 4,
foi a dispersão de qualidade entre algumas músicas, pois Movimento que vai e E vem
alternadamente de um ponto ao outro estão, indubitavelmente, num patamar
bastante superior que as restantes.
Em sumário, 4 acaba por ser um dos
discos portugueses mais frescos e ousados do ano, cimentando-se como uma bela
surpresa e enaltecendo uma maturação dos dUASsEMIcOLCHEIASiNVERTIDAS relativamente
aos seus registos anteriores. Podendo e querendo (e se a minha análise vos provocou
vontade para tal), é ouvir já este disco imperdível!
Classificação Final: 8.2/10
Emanuel Graça
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