segunda-feira, 14 de março de 2011

Luisa Sobral ENTREVISTA

Luisa Sobral está-se a colocar a jeito de se tornar na nova grande voz portuguesa, em que a palavra "grande" não deve ser tomada da forma habitual, tida como potente, rasgante e super-presente. Não, esta voz é doce, suave e dotada de uma dicção perfeita. Canta baixinho, conta-nos histórias em forma de segredo. Cantar num volume mais baixo é muito mais difícil do que parece e Luisa fá-lo com mestria, acompanhado de um jazz minimalista, acessível e apetecível ao ouvido.

Foi em Belém que o BANDCOM teve a oportunidade de entrevistar Luisa Sobral, sempre com um ar positivo e descontraído em relação aos próximos passos da sua promissora carreira.



Estiveste a estudar nos Estados Unidos mas a tua carreira está a começar agora mesmo, ou já teve início há um ou dois anos? Quando começou mesmo, após os teus estudos?

Acabei a universidade em Dezembro de 2009, portanto desde janeiro de 2010, já estava em Nova Iorque e começei a tocar lá. Já tinha feito coisas antes, mas estava a estudar, mais do que a trabalhar.

E foi onde? Optaste por te lançar em Portugal?

Tive em NI primeiro e gravei lá um EP. Acabei por vir para Portugal, e dei uma entrevista para a RTP2. Posteriormente, dei o meu cd a um conhecido, que mostrou à Universal (editora). Eles gostaram bastante do projecto e ligaram-me, foi aí que decidi voltar, achando que era a melhor altura para o fazer.

Confirma-se, portanto, a tua vontade de começar aqui, no nosso país.

Sim, aliás acho que é um bom começo o lançamento ser no próprio país. O estrangeiro pode ser um mundo em que, por ventura, eu possa ter mais medo, mas no meu país sinto a simpatia das pessoas, e com esse apoio, sinto-me mais à vontade para ir para fora um dia.




A tua escola nos EUA foi Berklee. O que é que mudou, quanto à tua aprendizagem musical, entre antes e depois da tua passagem por lá?

Mudou quase tudo em mim. Ou melhor, não foi bem mudar, mas eu não sabia quem era musicalmente. Tinha 16 ou 17 anos, é uma fase normal na vida de uma pessoa. Esses 4 anos ajudaram nesse processo de me conhecer melhor como música e como pessoa. Este CD é um produto desse periodo: de todas as pessoas com quem toquei, todas as experiências que tive, pessoas que conheci, da descoberta da minha voz e onde melhor ela se enquadrava – eu cantava rock e pop na altura, foi aí que começei a cantar mais jazz.

Por vezes, certos músicos vêem esse tipo de aprendizagem como apenas um mero acrescento de formação no seu percurso, mas no teu caso foi bastante diferente.

Foi, se fosse mestrado seria só um acrescento, mas era a primeira vez que estava a estudar música, foi uma mudança.

Quando é que te apercebeste da tua capacidade de compor e criar algo só teu, além do tocar e cantar músicas existentes?

Nem sequer pensei bem nisso. Quando começei a tocar guitarra, fazia sentido para mim. Pegava na guitarra e reproduzia o que ouvia na rádio, mas para mim ela era um meio de composição, sempre fiz as duas coisas de uma forma muito natural. Nunca me forçei a escrever, e acredito, pelo que já vi, que normalmente quem escreve nunca se forçou a tal tarefa. É uma coisa que o instrumento nos pede, o que acontece é que as pessoas começam a crescer e a ter medo de compôr, e às tantas existe uma barreira criativa. Não significa que não consigam escrever mas que não têm o à-vontade para o fazer. Quanto mais tempo esperamos, mais difícil isso vai ser.




Ao compores, pensas num artista específico e que gostavas de fazer uma música dessa forma, ou as ideias surgem um pouco do nada?

Depende. Uma vez escrevi uma bossa nova e pensei que gostava mesmo de fazer um tema como o Tom Jobim. E a bossa nova é toda muito parecida com os temas dele. Acontece a nível pontual, ainda ontem ouvi um espiritual negro que gostei muito, e achei que boa ideia criar uma versão mais jazzística disso mesmo. Há sempre coisas que me inspiram, mas também há outras que começo a tocar e não estou a pensar em ninguém nem em nada. Devemos estar sempre atentos a qualquer tipo de inspiração, os músicos, quando criam, têm sempre uma parte de imitação/recriação e isso nunca se consegue evitar, por menos que se pense noutros artistas.

Ficaste em 3º lugar na edição portuguesa de 2003 dos Idolos. Isso foi um incentivo grande para tu apostares numa carreira como música ou já era algo planeado?

Já estava na cabeça. O que os Idolos me trouxeram foi a certeza de que eu não estava pronta, musicalmente, naquela altura. Tive vários anos em que não conseguia ver as minhas performances por achá-las horríveis, agora olho para trás e acho que era normal e que tinha muito para melhorar. Depois do programa, percebi que precisava de ir estudar e perceber quem era mesmo musicalmente.

A tua música tem um toque mais intimista, de concerto pequeno.

Eu adoro concertos pequenos!

Sim, é o estilo de música ideal para esses. Mas será que isto pode ser uma condicionante, para chegar a um público vasto, a um grande número de ouvintes?

Acho que não, hoje em dia há tanta gente a fazer música mais intimista e que na mesma têm muitos adeptos. Recentemente, fui ver o concerto do Michael Bublé no Pavilhão Atlântico e estava a pensar “não sei se gostaria de tocar aqui”. O som não é feito para algo do meu género, e eu gosto de ver o fim do teatro, do pavilhão. O sítio ideal para mim, para tocar, são teatros antigos e bonitos, pequenos mas com história, em que consigo ver tudo lá atrás. Espaços como o Pavilhão Atlântico parecem tão pouco pessoais, isso faz-me preferir sítios mais reduzidos em tamanho. Talvez daqui a uns tempos, se tudo correr bem, pense de forma diferente, mais em grande, mas gosto mais de tocar em locais mais pequenos.some_text


Tocas e cantas num tom muito jazz. O que achas do que se faz nessa área em Portugal? Se as pessoas ligam ao género, se as bandas o tocam?

O que se faz de jazz é muito bom. Ouvi o último CD do Mário Laginha e é muito bom, gosto muito de Bernardo Sassetti, adoro a Maria João.. Para mim das melhores cantoras, acho incrível o trabalho dela. Na Berklee, dizia que era portuguesa, e os meus professores, que tocam com o Paul Simon, são grandes fãs da Maria João. Quando me fui embora, falavam-me dela e eu não conhecia bem, pelo que decidi ouvir tudo o que ela fez. Acho que temos pessoas muito boas. Quanto ao valor que as pessoas dão ao jazz, eu diria que o dão, os concertos estão cheios! E penso que estão a ouvir cada vez mais, o jazz começa a aparecer em restaurantes, cafés, onde não passava tanto. Mais rádios a dar temas do género.. Tenho amigos meus a mostrar-me música que nem sabem que é jazz mas é, artistas como o Jamie Cullum, que toca standards de jazz, com uma voz rockeira, rouca, e que já é mais conhecido.

Estás a começar agora, o CD está aí a chegar ao mercado. Além da Universal, que aceitou muito positivamente o teu trabalho, que feedback tens tido nos últimos tempos?

Sim, até agora tem sido tudo bom. É difícil de ver porque as pessoas ainda não ouviram bem o cd, ainda não viram bem quem eu sou, e elas precisam uma imagem para começar a ter uma opinião formada. Mas tudo o que recebi até agora tem sido muito bom.

Que concertos podemos esperar da tua parte nos próximos tempos?

Tenho concertos agendados para as FNAC de todo o país, no início de Maio vai ser o concerto de lançamento, na primeira semana do mês.

Ver e ouvir aqui as suas músicas




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