"Faz uma música para mim". Histórias como esta sabemos quase todos escrever só que estamos num tempo em que já ninguém vai atirar talento à televisão nacional desprevenido de registo próprio. E com Rui Taipa, estudante de Música no Instituto Politécnico de Bragança, não se perdem apenas os pormenores pelo meio. Perdem-se outras histórias difíceis de calar e isso dá muito jeito para “Meia Dúzia de Histórias” que são pedaços de uma só, de 2010 até 2014, dos 16 aos 20 anos de idade. Os amores e desamores têm uma importância vital, não se sabe a 100% o que se quer da vida nem do dia seguinte.
No total, são 6 canções que não terão nunca que amadurecer especialmente a tempo do Croka's Rock 2016. Basta que Rui Taipa justifique que as suas canções são canções de todos e de cada um daqueles que se deslocarem a Oliveira do Arda no primeiro dia do festival que, mais uma vez, não pede licença para entrada. Os ingredientes musicais, esses, são vários e são os mais amigos de quem ainda procura o seu habitat ao sol para que a ideia de "O Amor Em 21 Minutos", título original do EP, não seja um contra-relógio sem pernas ou sem criatividade.
Maria Manuela
A canção. A história verídica com o uso de um pseudónimo que se justifica apenas com a necessidade de uma rima com 'janela' aquando da escrita da canção. O início de uma história de amor incrível, de um percurso artístico cauteloso, o lado 'pop' que ficou para trás com o passar dos anos. Inicia-se com um solo de harmónica que, como meu primeiro instrumento musical, teria todo o direito e legitimidade de iniciar o tema que daria início a uma longa viagem por esses palcos fora. 'Maria Manuela' é a canção que tocou as pessoas e que volta e meia o público pede com nostalgia.
Why?
Criada no mesmo dia que a faixa seguinte ('Melro') e, salvo erro, na mesma hora. Transmite uma mensagem de revolta e simboliza, também, uma fase de escrita em inglês que evoluiu (não menosprezando) para a escrita na nossa língua-mãe. A malha mais 'ska' com o uso do 'kazoo' transfere um ar jocoso ao tema que o torna leve ao ouvido e propício ao sorriso assim que o ouvinte se apercebe da letra no refrão “what the hell was on your mind to leave such a guy like me? I’m the best you’ll ever get. Oh, can’t you see!' (o que te passou pela cabeça para deixares um gajo como eu? Sou o melhor que alguma vez vai ter! Oh, não consegues ver?).
Melro
Assim como a faixa anterior, é um tema revoltado, triste que fala de perda e da desilusão. O nome justifica-se facilmente com o facto de, o meu pai, na minha infância chamar-me 'melrinho' sempre que eu optava pelo caminha da rebeldia. Assim associei o melro ao “errado”, o 'lado negro da força' por assim dizer.
Conta a história de um rapaz que certo dia encontrou 'um melro' com uma 'asa partida', ajudou a consertá-la, cuidou dele e tem de assistir à fuga do melro assim que recuperado.
A dor que sente e o arrependimento por se ter dedicado e afeiçoado tanto ao melro é expressa no refrão! A força que este tema ganhou entre o público deveu-se ao facto de retratar algo comum a todas as pessoas. Toda a gente já se sentiu traída, enganada por alguém que gosta e sofreu com isso. Esse é um ingrediente fortíssimo na composição de uma canção: fazer o ouvinte identificar-se com a mensagem que está a ser transmitida.
Fuga
Numa vertente mais 'funk' surge a 'Fuga' (inicialmente, 'Vou Bazar', como é proferido no refrão. O nome foi alterado por razões óbvias). Serve como continuação da situação que a 'Why?' e a 'Melro' criaram mas, de certo modo, é contado num tom não tão de primeira pessoa mas mais como um relato da vida de alguém e, mais à frente, num tom conselheiro de como proceder face aos problemas do dia a dia, face às alturas em que o sujeito deveria dizer 'vou bazar!' e não o fez. A última estrofe surge 'feita à pressão' no dia de gravações quando reparámos que a estrutura da música era deficiente e não faria sentido o final ter apenas uma estrofe. Pararam-se as gravações e um café na pastelaria abaixo do estúdio fez o milagre de criar a estrofe 'Passas a vida a tanto querer; a procurar todo um poder. Tudo isso que não te deixa viver nem vencer!'.
Concluiu-se no 'take' seguinte.
Menina No Banco Azul
É neste tema que se dá a reviravolta na história. O tema mais bonito, mais simples e mais curto. O 'banco' é azul porque o azul é a cor do recomeço e, face à história que está a ser contada, se de repente há uma menina que se encontra triste à espera que tudo volte ao normal, à espera 'do Sol' e se, de facto, 'depois da tempestade vem a bonança' faria todo o sentido colocá-la num banco de jardim, a chorar à espera que a felicidade voltasse. E ela voltou!
Voar
O EP acaba como começou! Alegria, amor, mel (mel a mais, talvez! [perdoem-me, tinha 16 anos e estava apaixonado!] [[perdoem-me não! Congratulem-me!]]) mas difere (como vem a ser hábito ao longo do EP) no género, denotando-se um travo maior de 'rock' do que de 'pop'. Os cabelos e os olhos castanhos descritos no tema são os da 'Maria Manuela' e que (no tema anterior a este) se percebe que afinal, se tudo voltou ao normal, trata-se, também, da “cachopa” que estava triste sentada num banco de jardim à espera que o “sol” aparecesse. Embora seja claro que a história acaba como começou, o final não deixa de ser um final em aberto.
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